Nem é a minha militância indie a falar, mas nos últimos 15 anos devemos muito aos criadores independentes. Muitas alterações e revitalizações que vimos acontecer em contra-ciclo, apenas porque um grupo de criadores desenvolveu obras emblemáticas que abriram novas possibilidades para além do que o mercado AAA tem desenvolvido.
Devemos a Josef Fares e às suas equipas dos Starbreeze Studios e dos Hazelight Studios, por exemplo, a revitalização de jogos couch co-op obrigatórios. Não falo apenas de experiências brilhantes para partilhares com 2 ou mais jogadores, porque essas felizmente sempre existiram. Falo especificamente de jogos cuja criação foi feita tendo como objectivo quatro mãos partilharem a experiência.
O mais recente caso que me chegou às mãos é de River Tails: Stronger Together, um belíssimo jogo de couch co-op obrigatório da mente nascido da mente criativo de um duo italiano, os dois membros do Kid Onion Studio.
É indiscutível que ao primeiro impacto – e num mundo hiper-saturado bem reconhecemos a importância destes primeiros impactos – a brilhante direcção de arte de River Tails: Stronger Together é o seu maior selling point. Personagens e cenário tão bem desenvolvidos que me lembram o que de melhor tem sido feito em termos de séries de animação para uma faixa etária abaixo dos 6 anos de idade.
River Tails: Stronger Together fala-nos da improvável amizade entre o gato Furple e o peixe Finn, dois aparentes inimigos naturais que descobrem que necessitam das habilidades um do outro para, em cooperação, progredirem neste momento e ultrapassarem os seus perigos.
Finn, por exemplo, consegue trazer à tona de água nenúfares para que Furple possa atravessar rios, sendo que este ano consegue abrir portões e bloqueios na água que permitam o peixe nadar livremente para novas áreas.
Este complemento não acontece apenas no que ambos conseguem fazer de distinto, mas também nas suas fragilidades. Se Furple consegue sobreviver apenas segundos dentro de água antes de “morrer”, Finn, por seu lado, e como seria de esperar de um peixe, só consegue estar à superfície por poucos segundos. Caso algum dos improváveis amigos se encontre fora do seu habitat e em risco de morrer, o outro tem a capacidade de o ajudar a voltar ou a sair da água, respectivamente.
Mecanicamente, River Tails: Stronger Together é muito simples. Percebe-se que os seus autores identificaram-no como um excelente jogo para o ambiente familiar, e para se partilhar com crianças. Cada um dos personagens necessita apenas de um botão de interacção e o analógico de movimento para ser controlado.
Simplicidade mecânica e de controlo esta que permitiu aos membros do Kid Onion Studio de desenvolver um modo single player, no qual apenas com um comando controlamos ambos os personagens – com o lado e analógico esquerdo um, e o lado direito outro. Não é, de todo, a forma perfeita de o jogar, mas é uma solução de recurso encontrada pelos seus criadores para permitir que alguém consiga usufruir de River Tails: Stronger Together de forma solitária.
Apesar de estar ainda em Early Access e de já conter algumas boss fights, aquilo que podemos sentir já de River Tails: Stronger Together é que é um dos mais coesos jogos de co-op obrigatório assimétrico que jogámos em algum tempo, e um jogo perfeito, visual e mecanicamente, para se partilhar com os mais novos.