A Respawn Entertainment já provou há muito tempo que tem uma capacidade incrível de contar histórias. Seja a camaradagem entre um grupo de soldados em Medal of Honor: Allied Assault (ainda como estúdio 2015), seguindo-se a criação do maior franchise da história dos videojogos, Call of Duty, com novo nome, Infinity Ward. E mais tarde então, como Respawn Entertainment, quando integrou a Electronic Arts para criar o “desprezado” Titanfall. Nomes de estúdios diferentes, mas o mesmo leme de direção e uma equipa experiente por trás, numa liderança de Vince Zampella e Jason West.
Apesar de serem excelentes contadores de histórias – Titanfall 2 continua a ser um dos jogos mais underrated da indústria – a equipa é tecnicamente muito competente. E foi preciso lançar um Apex Legends, um dos poucos battle royales capazes de enfrentar Fortnite, para ganharem o “merecido respeito interno”. Star Wars Jedi: Fallen Order foi um prémio para o estúdio, que agarrou a oportunidade para salvar uma licença moribunda na Electronic Arts, no meio de tantos cancelamentos de projetos. E a qualidade do jogo valeu-lhe, novamente, mais elogios dos jogadores e indústria.
Atualmente a Respawn é um nome consolidado e a sequela Star Wars Jedi: Survivor surge com toda a naturalidade, com o apoio da Disney para criar material canónico do universo. E o estúdio até está responsável por supervisionar os restantes projetos Star Wars da Electronic Arts, incluindo um FPS e um jogo de estratégia ainda por anunciar.
A história ocorre cinco anos depois dos eventos do primeiro capítulo. Cal Kestis continua a ser perseguido pelo Império Galáctico, tornando-se um dos poucos sobreviventes à Ordem 66, que como sabemos levou à perseguição e exterminação dos Jedi. A nova narrativa mostra-nos Cal mais maduro, mais empenhado na sua missão de encontrar outros Jedi sobreviventes, mas também um planeta que poderá ser o último reduto desta classe. Não querendo dar spoilers, Cal Kestis vai encontrar caras conhecidas do primeiro título, sendo introduzidas outras que certamente vão agradar os fãs.
A aventura começa num local que rapidamente qualquer fã da saga vai reconhecer: Coruscant, a cidade altamente urbana, repleta de edifícios e naves a circular pelos céus. Este início, onde vão passar as primeiras horas serve sobretudo para se adaptarem às mecânicas e combate, como tutoriais. Mas é o novo planeta Koboh que servirá como núcleo de toda a campanha narrativa. O protagonista chega a este planeta por acidente, depois da sua nave se despenhar, mas que serve de casa de um dos seus companheiros do primeiro capítulo.
Koboh é uma espécie de hub central, uma área gigante que apenas vão conseguir explorar por completo em futuros regressos. Além dos principais momentos da história, aqui também vão construir o novo sistema de Outpost. Personagens que encontram ou que dão quests secundárias podem ser recrutadas para a base, dando acesso a lojas, a um DJ de serviço na cantina e até um jardim personalizado onde podem plantar sementes de espécies de flores espalhadas pelos planetas, que são um dos colecionáveis: Há cristais e holodiscs a recuperar que podem depois ser trocados por skills ou elementos cosméticos para a personagem ou temas musicais que podem ser tocados na cantina. São vários os formatos colecionáveis para conseguirem completar a aventura a 100%.
Star Wars Jedi: Survivor é um jogo com uma campanha enorme e apesar de se focar numa história narrativa que os fãs do universo vão gostar, há muito para fazer paralelamente. Utiliza as mesmas mecânicas de exploração do primeiro jogo, que por si piscava o olho ao conceito de metroidvania e os soulslike. Certas áreas do mapa estão inicialmente bloqueadas até que consigam aceder um novo gadget ou habilidade, como por exemplo, um grapling hook para navegar na verticalidade ou mesmo montadas, como um pássaro que ajuda a planar em locais pré-definidos ou terrestres que dão um boost adicional de salto. O nosso companheiro robótico BD-1 continua a ser um canivete suíço tecnológico, sendo atualizado convenientemente com a possibilidade de fazer hacking a terminais ou transformar-se em binóculos para ver os objetivos no horizonte.
O mapa faz um bom trabalho a assinalar as passagens que ainda não foram exploradas ou trancadas no momento, convidando a voltar mais tarde. E isto porque o jogo é bastante vertical, um autêntico labirinto de caminhos interligados, mas com um design excelente, em que raramente nos sentimos perdidos.
Quanto aos elementos de soulslike, os pontos de meditação servem de checkpoint quando morrem. Assim como para introduzir os pontos nas árvores de talento da personagem. Os combates podem ser intensos, sobretudo bosses e mini-bosses secretos espalhados pelos mapas, obrigando a recuperar o seu registo de experiência no local onde morrem. A abertura de atalhos depois de percorrer caminhos intrincados são outros elementos que bebem aos metroidvania e soulslike.
Por outro lado, o jogo não pretende prolongar artificialmente o progresso da aventura ao oferecer sequências muito difíceis. Há um bom equilíbrio, até porque podem definir a dificuldade ao ponto de colocar os combates acessíveis a todos. O jogo é massivo porque há um grande ênfase na exploração de cada recanto, no colecionismo. Lembra bastante God of War: Ragnarok, neste caso cada planeta semelhante a um dos reinos do jogo protagonizado por Kratos, requerendo visitas futuras para abrir um caminho quando desbloqueiam uma habilidade.
Cada planeta tem a sua percentagem de progresso, dividido por cada área, cada uma com um número de colecionáveis registados para encontrar. As zonas de meditação funcionam como fast travel e o mapa intergalático da nave permite mudar de planeta. Os jogadores que gostam de completar tudo a 100% vão adorar a forma como o jogo está organizado, com cartões com lore do universo, das personagens, inimigos, criaturas, planetas, dando grande controlo para os jogadores saberem o que falta completar.
E por falar em inspirações em outros grandes jogos, uma das novidades é o acesso às Jedi Chamber Trials. Tratam-se de pequenas masmorras repletas de puzzles e desafios, semelhantes às Shrines de The Legend of Zelda: Breath of the Wild, incentivando os jogadores a encontrar medalhas de skill para configurarem a sua build. Há interruptores para ativar, encontrar formas de ultrapassar abismos e outros desafios interessantes, tais como derrotar inimigos mediante determinada condição.
Outra atividade é encontrar inimigos especiais em forma de bounty hunter, que funcionam como mini-bosses para derrotar ou capturar peixes para o aquário da base, em lagos nos diferentes planetas. E para o caso de quererem fazer uma pausa na aventura, também vão desbloquear o jogo holográfico de estratégia, Holotatics, em que escolhem unidades para lutar pela vossa equipa. Mais uma vez, o acesso às unidades é feita através de um scan de BD-1 aos inimigos derrotados na aventura. Obviamente que grande parte dos colecionáveis são elementos cosméticos para Cal Kestis, o robot BD-1, o sabre de luz e a pistola.
Os combates continuam a ser deliciosos. A grande agilidade do protagonista, entre o bloquear dos ataques dos inimigos ou devolver disparos à distância e rebolar para evitar ataques perigosos. É possível desbloquear e explorar cinco instances com o lightsaber: a utilização habitual com uma mão ou dual wield. Também pode optar pela Crossguard que é um sabre pesado, semelhante ao de Kylo Ren ou a Double Blade como a de Darth Maul. Por fim, há uma combinação de sabre e pistola, mais ágil e com possibilidade de atacar à distância.
Podem alternar livremente entre duas stances equipadas, configuradas nos pontos de meditação. Todos os pontos de experiência amealhados são investidos nas habilidades de cada instance, de forma a criarem uma build ao gosto. Há ainda que meter pontos nas habilidades da Força e também na sobrevivência, aumentando a energia e capacidade de regeneração da personagem.
Ao longo da aventura vão ainda ser acompanhados por personagens, que além de serem uma ajuda de forma autónoma contra os inimigos, é possível dar-lhes instruções simples para utilizarem a sua habilidade especial.
Ao se focar apenas na nova geração de consolas e PC, a Respawn Entertainemnt criou cenários lindíssimos, repleto de detalhes, mas também profundidade. Os cenários são de cortar a respiração, em que muitas vezes estamos a explorar e a observar as dog fights no céu entre Tie Fighters e as X-Wings. O primeiro planeta, Coruscant, como disse, é um excelente cartão de visita para nos deixar de boca aberta com a escala dos cenários. Ainda assim, nem todas as personagens têm o mesmo equilíbrio de detalhe facial. O protagonista é muito bom, mas muitas das personagens com que nos cruzamos ou lidamos do grupo são um pouco inexpressivas e até plásticas.
Esta sequela aprofunda muitas das mecânicas do primeiro jogo, que por si era excelente, tornando-o obrigatório para quem gostou da estreia do Jedi Cal Kestis. O jogo é divertido, desafiante e repleto de atividades e colecionáveis para quem gosta de explorar a 100%. Não se trata de um jogo open world, mas quanto mais explorarem os planetas, mais áreas ficam disponíveis para ir visitando com novas habilidades. A experiência é longa, com 25-30 horas com elevada percentagem de exploração completa.