Quando comecei a jogar Deflector, o novo título publicado pela Super.com e desenvolvido pelo estúdio catalão Arrowfist Games, que chegou ao mercado recentemente após 1 ano em Early Access, pensei de imediato que já o tinha jogado. O mundo sci-fi depurado, os tons cinzas e azulados do ambiente a contrastarem com o brilho das cores saturadas das luzes e partículas de energia, mas afinal não. Deflector entra apenas numa categoria visual e mecânica de uma série de jogos que têm saído e que habitualmente têm superlativos como Hyper e Super no título.
Afastada que foi essa sensação de déja vu, Deflector quer fazer bem mais do que muitos roguelike sci-fi que temos jogado. Começando pela mecânica que o diferencia, o bumerangue tornado escudo que justifica o título.
Deflector, como muitos roguelites similares, é um quase bullet hell. Os níveis proceduralmente gerados a partir de um grupo de obstáculos e inimigos representa esse mesmo quase bullet hell, onde disparos e os vírus informáticos que nos cercam, e onde apenas o tradicional dodge pode não ser suficiente.
O bumerangue – essa mecânica que diferencia este jogo – é simultaneamente uma arma de arremesso e uma forma de defesa. Podemos atirá-lo, como seria de esperar, e ele regressará à nossa mão, dando dano aos inimigos ao longo deste trajecto (se não regressasse penso que não lhe poderíamos chamar bumerangue, pois não?). As duas lâminas gigantes unidas que o nosso protagonista utiliza como um bumerangue podem também ser utilizadas como escudo deflector. Desta forma não só nos protegemos dos ataques adversários (que nos retiram uma percentagem considerável da vida) mas, com o timing perfeito, podemos deflectir esse ataque e dar dano aos vírus que nos rodeiam, utilizando as armas dos inimigos contra eles.
Uma mecânica que não sendo inovadora, é aplicada de forma exímia em Deflector, contribuíndo para uma experiência surpreendente que nos impele a dominar a utilização do bumerangue, tanto como arma de ataque como de contra-ataque.
Entre níveis podemos planear, dentro das ramificações do mapa, qual o tipo de paragem que iremos fazer. Se aproveitaremos um evento para nos curarmos ou fazermos boost às nossas habilidades, ou se escolhemos determinado nível para “bater”, dada a recompensa que nos espera.
Apesar de começarmos com um personagem inicial, cedo vamos desbloqueando bioshells, que são novos personagens/classes ao qual teremos acesso em novas runs, na nossa missão de limpar o sistema dos ataques do qual está a ser alvo.
Como um bom roguelike, com muitas mortes à mistura que chegarão de forma expectável, o desafio de Deflector é intenso, crescente, com subidas abruptas com o confronto com os bosses do jogo.
Apesar de estar em Early Access, a maior surpresa de Deflector é o quão afinado e polido todo o jogo está. Um roguelike que apesar de estar bem construído em todos os aspectos, tem uma direcção de arte genérica para o género. Mas este ponto não é algo que ensombre tudo aquilo que o estúdio catalão já criou de forma sólida neste desafiante roguelike indie.