Gostava de ter tido a sorte de ser uma das pessoas que comprou Metroid Prime, para a GameCube, no seu lançamento, para ser surpreendido com uma das melhores obras da casa de Quioto. Infelizmente, não estive atento a este lançamento, em 2003, embora soubesse, antes de começar a jogar a versão Remastered da Switch, que estaria perante um jogo de excelência em design – um título que merece estar no panteão dos melhores jogos de sempre. Metroid Prime Remastered é uma ode ao bom game design, um elixir para limpar o palato dos atiradores na primeira pessoa que estavam a tornar-se bastante populares naquela época. Jogar Metroid Prime Remastered hoje, duas décadas depois do original, ainda é uma experiência maravilhosa na Nintendo Switch, porque o bom design é intemporal, quer seja uma, duas ou três décadas depois.

O primeiro vislumbre do brilhantismo do jogo dá-se logo nos minutos iniciais do jogo, quando Samus Aran aterra numa estação espacial para verificar as ocorrências estranhas que lhe foram comunicadas. Aqui estamos perante um tutorial daquilo que o jogo nos oferecerá nas horas seguintes, é um amuse-bouche antes de nos deliciarmos com o prato principal. Estes sabores divinais não se vão manter por muito tempo, porque quando sairmos do satélite artificial do planeta em que vamos aterrar, Tallon IV, vamos perder algumas habilidades para recomeçarmos do zero – ou seja, com as funções mais básicas da armadura de Samus Aran. Assim, vamos descobrir melhor todas as complexidades que esconde a armadura da nossa caçadora de prémios; não queremos treinar o nosso cérebro com mecânicas mais simples numa fase em que há puzzles ou inimigos que nos podem deixar frustrados se não tivermos alguma intimidade com as capacidades da armadura.

Notam-se claramente as expressões de aniedade no semblante de Samus.

Fala-se muito da imersão em jogos open-world, quando há jogos como Metroid Prime Remastered que nos deixam totalmente embrenhados num único mergulho. Obviamente que há truques de game design que conseguem dar esta imersão ao jogador. Por exemplo, a exploração não-linear obriga a quem joga a estar atento ao ambiente em que é lançado, para reconhecer perigos ou mistérios que vão ter impacto na narrativa que se constrói lentamente. Uma das técnicas mais conhecidas, que não é de todo invulgar à série (Metroid Dread fez mesmo), é a remoção de alguns equipamentos e habilidades da nossa caçadora de prémios. À medida que progredimos, também cresce a nossa habilidade em usar o que temos ao nosso alcance para ultrapassar os obstáculos que se avizinham. Também os combates mais exigentes dão-nos ainda mais alento para continuar a enfrentar o que estará atrás da próxima porta.

Que motivação teríamos nós se tivéssemos uma heroína apetrechada de habilidades, sem um design minimamente decente dos vários locais do jogo que nos permita usufruir dessas mesmas habilidades? Metroid Prime Remastered é sublime na recompensa que entrega pela progressão que fazemos. Passar pelas diferentes áreas do jogo é um deleite que poucos jogos conseguem oferecer, há uma naturalidade nos movimentos e nas habilidades para irmos de um sítio ao outro. É tudo muito orgânico, há  uma certa lógica na forma como devemos ir para um local que parece inatingível, se é exíguo é porque temos de, provavelmente, usar a Morph Ball; se é um sítio alto, talvez tenhamos de utilizar o Grapple Beam; os nossos olhos ficam tão habituados que percebemos em que contexto temos de utilizar uma ou outra habilidade.

Um visor com a informação necessária para lermos bem para onde temos de ir na aventura.

O resultado de explorar Tallon IV é o incontestável excelente game design. Descobrir e atravessar caminhos estreitos, resolver um puzzle ou derrotar um boss exigente são atividades de uma beleza estética e mecânica praticamente imensuráveis. Outros jogos ficam-se pela tentativa de nos entregar esta satisfação. A obra da Retro Studios serve-nos os bosses numa bandeja de prata para apreciarmos o jogo com um luxuoso requinte; Metroid Prime é uma experiência inigualável no departamento de game design que engloba elementos de combate, exploração (por vezes parece um jogo de plataformas) e de quebras-cabeças e, se nos entregarmos à experiência, vamos deliciar-nos com novos caminhos que nos levam a melhoramentos opcionais, como o aumento da capacidade de carregar mísseis ou podermos ter cada vez mais energia na nossa armadura para aguentarmos com mais dano que um boss nos possa infligir, dado que dura mais tempo a ser derrotado.

Sou um apologista das mecânicas serem sempre mais importantes do que os elementos técnicos do jogo, mas é óbvio que as partes técnicas de um jogo nunca devem ser menosprezadas, sobretudo numa obra como esta. Os ambientes são ricos em pormenores e a iluminação funciona muito bem para os realçar, além de injetar vida a esta fantástica aventura. Todos estes detalhes estão igualmente refletidos na própria sonoplastia exímia que, no seu conjunto, ajuda o jogador a sentir-se parte da jornada de Samus Aran, onde somos um agente para esta acontecer, não um mero espetador que não tem um papel ativo nas peripécias da aventureira da Nintendo.

A ameaça de Samus Aran.

As mecânicas de Metroid Prime Remastered são tão boas que dão uma certa fluidez a todos os nossos movimentos de locomoção e processos de ação bélica para progredir, que se tornam, assim, muito intuitivos. Isto não quer dizer que não se vão perder em Metroid Prime Remastered. Às vezes, se não consultam o mapa com alguma frequência e queiram confiar apenas na vossa memória, então vão-se, inevitavelmente, perder nos caminhos labirínticos das várias áreas de Tallon IV. Nem sempre é fácil perceber para onde se deve ir, por isso, se tiverem um bloco de notas (seja o clássico papel e lápis ou uma aplicação qualquer para telemóvel) à mão, usem-no, será o vosso melhor amigo desta viagem.

Outro aspecto importante do game design de Metroid Prime Remastered é a possibilidade do jogador poder personalizar as configurações dos controlos do jogo, que são feitos através dos dois Joy-Con. Assim, tanto podemos jogar como se tivéssemos uma experiência clássica de consola doméstica, como foi no caso da GameCube, ou ajustando os sensores de movimento para jogar como se fizéssemos da Switch uma Wii. Não há uma forma melhor ou pior de jogar, é o que vos for mais confortável que é a melhor.

Informação substancial para compreender o mundo em nós estamos.

Em termos de dificuldade, Metroid Prime Remastered é um jogo desafiante, onde o jogador terá de explorar diversas áreas para adquirir novas habilidades e equipamentos para progredir e enfrentar os obstáculos que surgem a todo momento. Embora haja uma quantidade razoável de ações e atividades a realizar que possam tornar o jogo difícil, mesmo que percamos e regressemos a um ponto de salvamento mais conhecidos como checkpoints), nunca nos sentimos injustiçados nos desafios que nos são propostos. Por muito que nos possamos sentir frustrados, temos perfeita noção que esta vem da nossa incapacidade em usar uma habilidade ou uma leitura, da nossa parte, do terreno. Metroid Prime Remastered é uma obra-prima, em todos os aspectos, da casa de Quioto. Quer sejam novos jogadores a esta aventura tridimensional, ou quer sejam veteranos que regressam a Tallon IV, a experiência resultante é, no mínimo, fantástica.