Na mesma semana em que joguei Terra-Nil – por curiosidade ou coincidência – joguei também ao Terrascape, que para além do nome e da abordagem é um city builder, que na realidade, não o é. Mas as comparações ficam por aqui, o jogo publicado pela Devolver é mais coeso e original.

Terra Nil: a reconstrução do planeta ao nosso alcance

Terrascape está dentro do espectro de um dos grandes sucessos indie do ano passado, Dorfromantik, um dos nossos finalistas de 2021 do Indie X. Em ambos os casos o que para muita gente pode parecer um city builder, é na realidade mais próximo de um jogo de tabuleiro, com uma componente de puzzle à mistura.

Cada nível dá-nos objetivos de pontuação para atingir, e para isso temos de maximizar a utilização através posicionamento dos edifícios que construímos. É que cada edifício ou construção é materializado aqui em Terrascape como uma carta, e estas cartas surgem na nossa mão em número limitado. 

Um exemplo prático da mecânica base deste jogo é facilmente explicado. Temos que chegar a determinados valores estabelecidos pelo nível, e cada tile tem maximizações e bonificações mediante o local onde é colocado, mas também em relação aos tiles que lhe são contíguos. Desta forma, por exemplo, se tivermos uma série de tiles de lenhadores e todos eles tiverem serração contígua, a pontuação de cada uma dessas construções é bonificada.

Cada cidade é um puzzle em si mesmo, e para termos sucesso neste modo temos de conseguir atingir os valores indicados. É neste desafio crescente que reside o verdadeiro quebra-cabeças de Terrascape: construímos uma cidade mas não com o mindset tradicional de um city builder: pensando e escolhendo a corrente de recursos, mas sim através do atingir de objectivos pontuais estabelecidos pelo jogo.

A direcção de arte acaba por cativar-nos de imediato. Como ilhas flutuantes, as cidades que vamos construir com hexágonos em Terrascape assemelham-se ao que imagino um dia poderemos ter se viermos a misturar AR com jogos de tabuleiro de forma mais eficaz.

Ainda em Early Access, Terrascape inspira-se em Dorfromantik mas pelo menos nesta fase de desenvolvimento alpha não vai muito mais longe do que o estúdio alemão Toukana Interactive chegou. Nesta transição entre jogo de tabuleiro e videojogo, os argumentos precisam de evidenciar o que cada abordagem traz de diferente. E Terrascape ainda precisa de encontrar esse espaço.