Apenas pedi Havendock porque era um city builder e raramente consigo resistir a um desses, porém não só essa percepção se revelou redutora como o jogo se revelou muito mais profundo e interessante do que alguma vez imaginei.
Mais do que um city builder, Havendock é um colony simulator. Começamos sozinhos num pontão de madeira com o mar debaixo dos pés. Convenientemente a corrente traz-nos madeira, peixe ou caixas com diversos itens que nos ajudam a progredir, aliás, sem estas dádivas seria mesmo impossível progredir.
Não é algo que seja essencial ao jogo em si, mas muitas vezes há algo em cada jogo que nos desperta a atenção e em Havendock esse gancho foi o facto de expandirmos a nossa cidade em cima de diversos pontões, sempre por cima de água, num misto do filme Waterworld com o jogo Raft.
Ainda bem que houve algo que me chamasse a atenção, porque o jogo é feio que dói, chegando ao ponto de até se tornar confuso navegar nos menus antes de percebermos como o fazer.
O que mais salta à vista é a velocidade vertiginosa a que progredimos. De forma isolada isso não é anormal, mas a diferença é que com Havendock não temos momentos mortos, não atingimos barreiras no desenvolvimento, não temos de ficar parados à espera que algum número cresça.
Claro que essa dinâmica tem uma ligeira alavanca. Os recursos que o mar nos oferece são-nos úteis durante grande parte do jogo e isso cheira um bocadinho a batota. Admito que não gostei muito dessa mecânica, até porque durante as várias horas que joguei alicercei muito do meu progresso nessa dádiva sob a qual não tinha nenhuma influência.
Apesar de começarmos sozinhos gradualmente vão aparecendo mais pessoas no nosso pontão, e essas pessoas não são muito difíceis de satisfazer. No fundo precisam de casa e comida, mais nada, depois disso podem ser colocadas a fazer diversas actividades de forma a manterem a nossa colónia a funcionar sobre rodas, embora a partir de determinada fase mais adiantada do nosso desenvolvimento se revelarem pouco inteligentes na realização das suas tarefas, parando muitas vezes por não conseguirem interpretar que actividade devem realizar, mesmo que lhe digamos directamente o que fazer, o que leva a que seja muito difícil automatizar algumas acções ou, na melhor hipótese, não ficarmos descansados depreendendo que esteja a ser feita. Era muito comum ter de fazer rondas para desbloquear maquinaria ou produção porque algumas das pessoas estavam ali a olhar sem aparentemente perceberem o que fazer, mesmo que já o fizessem há anos.
Há uma árvore de progressão que é feita de forma muito inteligente já que, por um lado, nos indica sub-repticiamente a direcção em que devemos evoluir, por outro vai dando com uma das evoluções as ferramentas para evoluirmos a próxima. Isto é muito prático porque mesmo havendo uma progressão natural que nos leva do nada a uma maravilha tecnológica, é fácil perdermo-nos quando há tanta coisa para fazer!
Para além de evoluirmos a nossa colónia também podemos explorar o pequeno mundo que nos rodeia encontrando novos locais e personagens que tentam dar algum sabor ao que se passa no ecrã. Talvez neste ponto se pudesse fazer algo mais, mas esta vertente é pouco importante nestes jogos, pelo menos para mim.
Há também uma componente de troca, com vários comerciantes a aparecerem no nosso pontão mas, mais uma vez, a sua importância vai do fundamental ao inútil com extrema facilidade já que, lá bem no fundo, apenas precisamos deles uma vez quando o item que trazem é essencial ao desbloqueio de algo na árvore de habilidades, mas mal fica esse item desbloqueado, nunca mais precisamos deles e, o que acabou por acontecer comigo, foi que no final já nem ia ver o que traziam.
Fiquei muito impressionado com Havendock. A sua dinâmica de progressão rápida é um gancho irresistível neste tipo de jogos, já que consegue manter o jogador entusiasmado e agarrado durante horas a fio. Dito assim parece fácil, mas aparentemente quem faz jogos similares ainda não o percebeu. Parabéns ao estúdio YYZ por o ter percebido e ter feito esta pérola viciante que vale cada cêntimo do preço que pedem por ela.