Quando os criadores de videojogos querem contar outras narrativas ou entregar experiências diferentes em mundos pré-estabelecidos, fazem-no para que os jogadores possam passar por novas emoções que as obras originais não ofereceram. Normalmente, faz-se um spin-off, que foi o que a produtora nipónica, que tem como famoso game designer Hideki Kamiya (uma personalidade forte no Twitter), criou. Assim, em Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon a PlatinumGames propôs-se a contar-nos as origens pouco convencionais da bruxa que aniquila entidades angélicas com uma energia contagiante que se sente a cada botão pressionado.
Este título não tem a mesma ação frenética que os outros jogos da série da PlatinumGames nos habituaram; aqui o objetivo foi dar-nos uma experiência totalmente nova. Embora a jogabilidade não esteja cheia de fulgor, tal como fomos habituados ao longo dos três jogos já lançados, Cereza and the Lost Demon não despreza ter boas e cativantes mecânicas que nos conseguem manter motivados e divertidos a combater as várias criaturas de índole, supostamente, benigna.

Imagens como esta ilustram bem a beleza do jogo, mesmo que num estilo muito diferente daquilo que a Platinum faz.
O primeiro aspecto que se destaca em Bayonetta Origins é a jogabilidade. O jogo é incrivelmente divertido de jogar, que aposta num sistema de combate rápido e dinâmico. O jogo oferece-nos mecânicas de combate com alguma complexidade, embora nada de exageradamente complexo, que permitem aos jogadores criar combinações de golpes poderosos, que nos facilitam as manobras para atacar e esquivar dos ataques que nos são lançados. Ou seja, a jogabilidade tem o seu apelo e acaba por ser bastante recompensadora, principalmente para os jogadores que gostam de desafios mais pausados, comparando Cereza and the Lost Demon aos títulos da série principal.
O sistema de combinações de golpes e de técnicas especiais é um dos destaques de Bayonetta Origins e é fácil de os aprender e de executá-los após uma breve visualização e um tutorial curto, mas eficaz. A maioria das habilidades aprendem-se através de colecionáveis espalhados pelo mapa, incentivando-nos a explorar cada canto e recanto do mundo do jogo. Há uma grande variedade de itens especiais, que podem ser recolhidos para desbloquear novas habilidades, para depois enfrentarmos a ampla variedade de inimigos diferentes que nos farão frente. Isto tudo torna o jogo bastante dinâmico e mantém-nos ativos na ação, até porque há inimigos que requerem a utilização de golpes muito específicos para poderem ser derrotados.

Infelizmente, é possível que o ponto de divisão do jogo esteja nos controlos, porque este jogo controla-se como Brothers: A Tale of Two Sons. Um analógico controla Cereza e o outro Cheshire.
A jogabilidade não é a única característica que faz de Bayonetta Origins ser um jogo bom e divertido. A história de Cereza é bastante envolvente e tem o seu próprio charme, graças ao seu universo único e cheio de personalidade, dado que estamos num livro de contos de fada com ilustrações num estilo muito bem definido, com uma cor muito semelhante a um livro de Sophia de Mello Breyner Andresen. Assim, o jogo tem um estilo de arte e estética distinto da série na qual se insere. O melhor que este estilo permite é dar às fadas, as tais entidades angélicas que temos de combater, um aspeto que tem um misto de medonho e adorável.
Uma das particularidades mais curiosas do jogo foi ter um game design que alia as habilidades da personagem com o próprio ambiente, o que só torna o jogo ainda mais imersivo. Cereza pode usar as suas habilidades para passar por obstáculos e solucionar quebra-cabeças, tornando a resolução de puzzles um aspeto interessante da jogabilidade. Por exemplo, o seu demónio pode esticar a língua para apanhar objetos que estão longe ou para agarrar em ganchos ou alavancas que podem acionar um mecanismo qualquer para abrir um portão e permitir-nos continuar o nosso longo caminho.

Isto parece ter sido retirado de um livro infantil escrito por Luísa Ducla Soares.
Outro aspecto que torna Bayonetta Origins tão interessante e que nos motiva a seguir a sua narrativa, é o carisma de Cereza e de algumas outras personagens secundárias. Cereza é uma personagem cativante, com muita atitude e personalidade, que faz com que seja muito fácil torcer por ela e que esta tenha o final que tanto merece. Ela é divertida, forte e cheia de argumentos inteligentes, o que a faz ter muitas semelhanças com uma “anti-heroína” que os jogadores têm por hábito encontrar em jogos de ação ou nas típicos filmes de ação vindos de Hollywood. Os pequenos momentos de ternura e humor entre Cereza e o seu peluche Cheshire acrescentam um grande valor ao jogo, que não faz só ser um jogo de ação com puzzles por resolver lá pelo meio, como uma obra com uma narrativa coerente com personagens nas quais depositamos as nossas preocupações, para que não lhes aconteça nada de mal.
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon é um jogo incrível que nos faz sentir emoções positivas, ou seja sentimentos como empatia, felicidade e esperança através da sua eficaz narrativa. O seu game design implementado torna as mecânicas cativantes e desafiadoras, permitindo que os jogadores criem golpes com um dinamismo e uma fluidez que são de louvar, além de terem de ser usadas no próprio mundo pelo qual deambulamos que valoriza a interação e exploração.