Muito se tem falado acerca da entrada da Xbox no mercado móvel, onde se diz que tem uma presença risível, mas isso não é bem verdade. Há sim uma tendência generalizada de não se considerar os jogos como actuais ou relevantes, misturado com o facto de alguns jogos já estarem tão enraizados na nossa cultura que nem nos lembramos que são da Xbox.

Vamos começar por tirar Minecraft do caminho, que desse todos se lembram, mas seguramente nem pensaram no Solitário, Mahjong ou Sudoku, jogos dos quais a Microsoft tem algumas das versões mais conhecidas, mas muita gente também joga Wordament. Então e Age of Empires? Forza Street? Gears POP? Não considerando mais nada, já há aqui algum material, e nem quero incluir o potencial inexplorado de propriedade intelectual que a Xbox tem na gaveta que quase chora por uma adaptação a este mercado.

Não podemos, porém, esquecer que a Bethesda também faz parte do universo Xbox, e aí já começamos a entrar no mainstream. Fallout Shelter foi um sucesso quando foi lançado, tanto que lançaram uma sequela… apenas na China, talvez por estar cravejada de monetização muito manhosa que seguramente traria má publicidade, mas há mais. Elder Scrolls tem uma pegada muito interessante no mercado móvel e, como não podia deixar de ser, há uma versão de telemóvel do DOOM original e da sua sequela, mas o que me traz aqui hoje é outro DOOM, o recentemente lançado Mighty DOOM.

Mighty DOOM será, de todos os jogos anteriormente enumerados, aquele mais concordante com aquilo que estamos habituados a ter nos nossos telemóveis. É gratuito, simples de jogar e pluri-monetizado caso estejam para gastar pilim.

O que me surpreendeu, pelo menos nesta fase, é que esta monetização é completamente dispensável e nada intrusiva, com menções pontuais à sua existência, mas sem grande ênfase às vantagens, em boa parte cosméticas, que esta oferece. Embora seja perceptível que há uma diferença, especialmente se fizermos contas e nos dedicarmos a procurá-las, que há diferenças na progressão caso se invista algum dinheiro, o jogo é bastante bom em nos manter a progredir seja qual for o nosso investimento, que no meu caso foi nulo, limitei-me a ver alguns anúncios em momentos que considerei valerem a pena, e salta a vista a generosidade de tempo que este jogo nos permite jogar ininterruptamente sem gastar se gastar um tostão, especialmente quando se compara com outros de monetização similar.

Ora, Mighty DOOM dá perfeitamente para jogar apenas só com um dedo. A minha geração já aprendeu com a revista Gina a usar apenas uma mão para imensas coisas, mas só um dedo é uma aprendizagem posterior. Controlamos o nosso bonequinho em níveis muito simples, mas práticos. O DOOMslayer dispara automaticamente, apenas o temos de conduzir através das sucessivas hordas de demónios cada vez mais difíceis de derrotar, desviando-nos dos seus ataques. A cada 5 subníveis temos um encontro com um boss que é muito mais difícil de derrotar e, a partir daí, esse demónio começa também a aparecer em todos os outros níveis.

Progredimos de diversas formas. Podemos evoluir armadura ou armas bem como algumas das nossas características numa combinação de materiais e moeda recolhidos a cada run.

Cada arma consegue evoluir até determinado nível e a partir daí só as conseguimos evoluir mais se as combinarmos com outras iguais que nos saiam nas loot boxes. Esta é a parte da monetização que dá bem para acelerar o nosso progresso, mas o jogo está preparado para que consigamos fazê-lo sem gastar o nosso dinheiro e sem perdermos muito tempo a repetir níveis, pelo menos até certo ponto. Obviamente que repetimos áreas ou missões, mas não a um ponto que fiquemos a pensar que se chegou a uma barreira de grind intransponível, até porque há algum conteúdo adicional que nos é dado paralelamente à campanha principal.

Embora com alguns mecanismos gatcha, a casualidade e estruturação do jogo, mesmo considerando que tem um battle pass, faz com que tendencialmente o inclua naquele grupo de jogos que são para nos entreter 10 a 15 minutos de cada vez e que deixamos após umas 20 horitas.

Isto não é desprimor nenhum. Há imensos jogos AAA que não me mantém interessado uma fracção desse tempo, e também não é nenhum desprimor para a franquia DOOM, já que a adaptação conseguiu apanhar bastante bem as características essenciais do jogo. A personalidade de DOOMslayer, as glory kills, os diversos demónios, as armas emblemáticas (como a BFG) e o cariz tradicional de bullet hell.

Não tenho a menor apetência para jogar jogos móveis, mas abro excepções para casos como Mighty DOOM. Ajuda imenso já ter este nome, já que muito provavelmente nem repararia num jogo exactamente igual que se chamasse Dr. Tirinhos, mas é realmente este o ponto central desta trama. Com tantos personagens arrumados num canto, alguns até desejados pelos fãs, há aqui uma mina enorme que a XBOX pode explorar. Diz-se que Mighty DOOM gerou 1M de receitas na primeira semana, o que é uma gota de água quando comparado com jogos como Diablo Immortal, mas é exactamente este o caminho a percorrer se for para alargar a marca, expandir uma eventual loja online e criar uma reputação de jogos honestos e divertidos. Para começar, Mighty DOOM eleva muito os padrõezinhos…