Coral Island apareceu-me nos jogos recomendados do Game Pass. Não o conhecia, olhei para a descrição e instalei. Agora estou muito inclinado para arriscar mais algumas destas recomendações.

Coral Island é mais um farming simulator muito parecido com Stardew Valley, mas adicionando alguns elementos de Animal Crossing e, claro, uma direcção de arte muito diferente.

Considerando as centenas de jogos similares a estes, não será novidade para ninguém o gancho do jogo. Temos que ir fazendo crescer a nossa quinta, cultivar produtos que depois vendemos, criar animais que depois vendemos, fazer um pouco de dungeon crawling para obter minério, criar relações com as diversas personagens… enfim, nada disto difere muito de outros jogos do género, talvez a limpeza do fundo dos oceanos seja um elemento que acrescenta, ou as sucessivas festas na aldeia onde podemos participar em vários mini-jogos, mas na sua essência vamos passar o grosso do tempo a fazer as tarefas do costume.

Porque resolvi falar sobre este? Porque é bom! Ainda lhe falta muita coisa, com NPCs colocados só para marcar o lugar, com mini-jogos que ainda não funcionam, com mecânicas apenas planeadas, mas isso não interessa muito porque é visível que o jogo está permanentemente a ser actualizado.

Também tenho que admitir que foram algumas das actualizações que me foram afastando do jogo. Todos os jogos deste género têm uma progressão muito lenta, e isso acaba invariavelmente por me irritar, aborrecer e afastar do jogo. Coral Island parecia-me e ainda me parece muito mais equilibrado neste ponto, oferecendo uma progressão mais rápida, que não nos obriga a estar sempre a repetir o mesmo loop, só que as últimas actualizações têm diminuído preços de venda, tornando ainda mais proibitivas novas aquisições, ou seja, já há aqui uma tentativa de tornar um jogo desenhado para centenas de horas, num jogo para mais centenas de horas, e isso é desnecessário, para além de abusivo para a paciência e disponibilidade do jogador.

Ao queimar mais este elemento diferenciador começamos a chegar a um ponto em que o utilizador vai olhar para os 25€ de valor de aquisição de um produto em Acesso Antecipado e comparar com os 14€ de Stardew Valley sem qualquer desconto ou, por exemplo, os 20€ de Graveyard Keeper, ambos jogos já bem conhecidos e estabelecidos onde o risco de se enganarem é muito menor que no primeiro.

Para mim, o maior problema do grind aumentar só leva a que deixemos de organizar os diversos elementos pela parte estética e passarmos a organizá-los olhando somente à optimização do espaço de forma a obtermos mais recursos, e isso não deixa de ser irónico porque a certo ponto estamos a trabalhar para nos podemos dar a luxos dos quais depois não podemos usufruir.

Irei sempre sentir-me enganado quando um jogo tenta de forma artificial acrescentar horas ao jogo. Há um exploit que podemos seguir? Pois claro que há, mas isso não é problemático. A existência duma forma que nos ajude a optimizar o nosso tempo não nos obriga a usá-la. A sua simples existência não torna mandatório o seu emprego, pelo que, pessoalmente, não vejo motivo para acabar com todos esses mecanismos que simplificam a vida ao jogador, até porque estamos perante jogos em que uma progressão mais rápida não prejudica ninguém e são jogos que já requerem imenso tempo e atenção.

Mesmo assim gostei mais deste jogo que de todos os outros dos quais falei. A história principal adequa-se perfeitamente às nossas acções, tornando-as significativas durante o tempo que jogamos, os objectivos para os quais trabalhamos, para além de servirem um pouco como guia para a nossa evolução, também encaixam na história tornando a experiência mais enriquecedora e imersiva. O próprio relacionamento com os diversos personagens está bem feito, com estes a apresentarem-nos histórias pessoais consoante o nosso nível de relacionamento vai progredindo, o que faz com que acabemos, invariavelmente, por nos preocupar com a vida daqueles bonequinhos virtuais… pelo menos com aqueles com os quais nos identificamos, já que há uma grande diversidade de personagens com diferentes feitios para que quase toda a gente fique contente com alguém.

Então é Coral Island diferente entre os demais? Eu diria que sim. Como só gosto de jogar sozinho, talvez este jogo passe a ser a minha referência dentro do género, mas como já deixei entender, neste momento encontra-se numa encruzilhada que pode definir muito do seu futuro, já que tem de decidir se quer ser uma experiência penosa de grind, ou se quer continuar a sua evolução no caminho duma progressão fluída, imersiva e mais rápida.