Após uma primeira edição de O Albergue dos Silêncios, transformado em podcast e em vídeo, que pecou por não ter uma linha temática definida (a não ser que a aleatoriedade seja um tema), hoje trago-vos mais três jogos independentes que partilham uma característica em comum. Bushiden, Lords of Exile e Prison City são jogos que podiam ter sido lançados numa Super Nintendo ou na SEGA Mega Drive. No fundo, são obras que nos trazem aquele sentimento de nostalgia tão reconfortante, que nos enche o coração de memórias aprazíveis em que estávamos horas a jogar em tardes chuvosas de um rigoroso inverno, em noitadas durante as férias grandes ou quando visitávamos um amigo que tinha uma consola que mais ninguém tinha.

Há algo de mágico que os jogos como Castlevania, Metroid, Contra, ou Streets of Rage faziam, era sempre uma enorme diversão conseguir ultrapassar as nossas próprias dificuldades. Havia sempre frustração, que resultava em comandos a voar, até onde o cabo que estava ligado à consola deixava. Como não tinha uma extensa ludoteca como tenho hoje – ou passava os jogos que tinha disponíveis até ao fim, ou desistia de os jogar -, não tinha grandes hipóteses de passar para outro, se a frustração ou aborrecimento fossem os sentimentos dominantes da experiência. Contudo, não me importava de repetir Quackshot! (o melhor jogo da extinta Disney Interactive) pela enésima vez. Passaram alguns jogos originais pelas minhas mãos, na minha adolescência, e muitos em formato digital, quando já estava em idade adulta. Por isso, foi mais tarde que tive acesso a uma fenomenal ludoteca das consolas nipónicas que tinham uma rivalidade considerável. Hoje, sempre que vejo um indie em pixel art e que seja na onda dos metroidvania, dos atiradores ou dos jogos de luta da altura, não resisto em espreitá-lo e colocá-lo, eventualmente, na minha wishlist.

Acredito, sinceramente, que se gostaram das experiências que as consolas dos anos noventa deram aos miúdos que são hoje adultos, vão ter aqui boas escolhas para voltarem a sentir a mesma diversão que tinham na vossa juventude. A dificuldade, a pixel art lindíssima, e os controlos precisos parecem estar todos lá, naquele ponto em que cada falha que acontece – perder precocemente, um tiro falhado ou um inimigo que nos atacou mais rápido do que prevíamos – é culpa nossa, só e exclusivamente nossa. Por falta de habilidade, por ainda não estarmos habituados ao ritmo que nos é proposto. E é tão bom podermos voltar a passar por esse processo de aprendizagem que nos dará razões para mais tarde sorrir.

Bushiden

Pixel Arc Studios – Estados Unidos da América

2023 – PC, Switch, PS4

Apresentado no Kickstarter em 2018, pela Pixel Arc Studios, com uma equipa de três pessoas, que incluíam experiência prévia em títulos como Katana Zero (na arte e animação) e em VA-11 HALL-A (na composição da banda sonora). O jogo é uma obra com claras influências dos metroidvania do final dos anos noventa, que incluirá muita ação providenciada pelo combate, com bastante variedade e opções para despachar a enchente de inimigos que vos fará frente.

Como começou a ser desenvolvido um ano antes da campanha de financiamento, Bushiden já conta com meia dúzia de anos em produção, onde as mecânicas do jogo e os combates contra bosses estão a ser afinados ao mais ínfimo pormenor. Os vídeos promocionais, os intitulados trailers, comprovam que há, de facto, muito labor envolvido nos sistemas de combate. Só espero que o que vemos se traduza bem no comando para o ecrã, que o jogo seja exigente sem ser injusto, que não haja um atraso percetível entre o pressionar de um botão do comando e a resposta visual no ecrã.

Toda a direção artística de Bushiden faz-me recordar os bons tempos com consolas como a Super Nintendo ou a Mega Drive. É óbvio que existem muitos detalhes que impossibilitam um jogo destes funcionar em hardware com mais de duas décadas, apesar disso gosto de imaginar que podia ter jogado Bushiden na consola de comando preto (a SEGA Mega Drive) ou na de comando cinzento com botões coloridos (a Super Nintendo). Foram com jogos deste género que muitos jogadores se consideram veteranos em jogos deste tipo – exigentes quanto baste, dado que tínhamos de dar saltos com grande precisão e de enfrentar inimigos que atacavam por todos os lados. Isto eram os bons tempos onde se formaram jogadores que agora adoram jogos desafiantes e que torcem o nariz a todo e qualquer jogo que nos dá a mão por demasiado tempo.

Lords of Exile

Squidbit Works – Espanha

Data de lançamento não disponível – PC e Consolas (por definir)

Nesta rubrica semanal não vos vão faltar obras criadas por uma única pessoa. Esta semana, dou-vos a conhecer Lords of Exile, um videojogo feito e concebido por Carlos Azuaga, produtor solitário na Squidbit Works. Ser produtor a solo quando se produz uma obra como um videojogo pode parecer uma tarefa inconcebível, mas quando a ambição e a determinação estão firmemente consolidadas este tipo de trabalho é possível, já aconteceu várias vezes, nem Lords of Exile será o último jogo a ser produzido por uma única pessoa. Mesmo que esta obra ,fortemente inspirada em jogos 8-bit, seja o primeiro jogo de Azuaga a ser publicada como autor, as quase duas décadas de experiências como produtor de videojogos são um fator muito importante que lhe permitirá realizar este trabalho hercúleo.

O jogo da produtora espanhola, Squidbit Works, nasceu em 2018, porém foi necessário recorrer a uma campanha de financiamento que terminou com sucesso, em 2020. O sucesso foi de tal forma grande que Azuaga arrecadou trinta e um mil e quarenta e três euros, quando “só” pediu doze mil. Estou a destacar o facto da campanha ter sido um autêntico êxito para o produtor espanhol porque, um dos stretch goals alcançado foi conseguir contratar Yuzo Koshiro, compositor japonês que trabalhou nas bandas sonoras de de famosos jogos da SEGA Mega Drive, como Streets of Rage e The Revenge of Shinobi (título que fará parte do novo conjunto de jogos do Nintendo Switch Online + Pack de Expansão). Música boa está, assim, garantida em Lords of Exile, não há nada melhor do que uma boa composição musical em chiptune.

De acordo com as informações avançadas pelo produtor, este jogo de ação side scroller terá uma multiplicidade de opções para combater, desde golpes e habilidades de diferentes tipos, assim como poderes devastadores ligados à maldição que o protagonista carrega. Será um jogo polido com um grafismo 8-bit, mas com física de 16-bit que integrará bem a jogabilidade com controlos precisos. O jogo parece divertido e com muito conteúdo onde serão testadas as nossas habilidades, ou seja algo com substância que nos levará largas horas a terminar.

Prison City

Retroware, Programancer – Estados Unidos da América

29 de Agosto de 2023 – PC e Consolas

O autor de Prison City apelida-se ele próprio de Programancer. É com este nome que assina o seu jogo ,tanto nos créditos, como no próprio nome da produtora que o fez. Este “feiticeiro da programação”, a avaliar pelo material audiovisual disponível, tem feito um trabalho notável em Prison City. É mais um daqueles casos em que as emoções e sentimentos de felicidade que tínhamos, sempre que inseríamos um cartucho na nossa consola 8-bit, estão encapsuladas num jogo. Prison City funciona como uma máquina do tempo, que nos transporta para uma época onde jogar era sinónimo de ultrapassar jogos difíceis, quem perdia passava o controlador ao amigo que estava ao lado, onde alguém estava com papel e caneta para apontar as palavras-passe dos diferentes níveis e quem não estava a jogar tentava memorizar as várias etapas do nível para na eventualidade do seu amigo falhar, saberia o que tinha a fazer para ultrapassar uma determinada dificuldade.

Pergunto aos produtores dos jogos que trago a O Albergue dos Silêncios (na esperança de conseguirem responder-me) o quê que torna os seus jogos únicos. Peço que me digam qual é a característica que os destaca do vasto oceano de lançamentos semanal que se vê, por exemplo, na plataforma da Valve. Não estava à espera desta resposta de Programancer. “Uma das funcionalidades que o define é que a experiência e a dificuldade podem ser personalizadas quase por completo”, respondeu o produtor de Prison City. “Se quiserem uma experiência mais fácil, podem ajustar o dano, desligar a perda de uma vida quando caem em abismos, até podem ligar vidas infinitas – algo que tenho a certeza que muitas pessoas gostavam de poder fazer em jogos deste género do fim dos anos oitenta e início dos anos noventa.”, continuou o produtor. “Há uma forma aconselhada de jogar e depois damos a liberdade ao jogador de jogar como quiser.”.

Os jogadores mais velhos devem reconhecer alguns jogos que inspiraram Programancer, contudo não são jogos que são assim tão óbvios, dado que nem são os nomes mais sonantes sempre que se fala em videojogos mais antigos. Programancer afirma que gosta de “fazer jogos que invocam memórias que tive a jogar NES e SNES na minha juventude – jogos como Power Blade, Street Fighter 2010 e Shatterhand.”. São estes jogos que formaram o criador de Prison City, que servirão para fazer com que “os jogadores possam recordar como é que os jogos costumavam ser” e ainda espera poder “entregar uma experiência que lhes dê o mesmo tipo de sentimentos que tive na minha infância a jogar, só assim é que vou sentir que tive sucesso.”. Sinceramente, após esta breve conversa que consegui ter com o produtor de Prison City, acho que está para vir um bom jogo – e já não falta muito para os jogadores poderem jogá-lo.