Só antes de começar a escrever este artigo é que percebi que Spacebourne 2 é um jogo desenvolvido por uma pessoa apenas. O que vai acabar por derrear, e por um lado fazer-me sentir mal com algumas das comparações que irei tecer com um dos meus jogos favoritos deste ano, Everspace 2. Sabendo ao mesmo tempo que estas comparações e considerações soarão injustas para com Burak Dabak, a mente e o talento por trás deste cruzamento indie entre Star Citizen e Mass Effect.

Everspace 2: por galáxias nunca antes navegadas

Imagino apenas até onde é que a série Spacebourne e o próprio Burak conseguiriam chegar se este tivesse acesso a uma equipa alargada que lhe garantisse a mão-de-obra para levar as suas ideias para um outro patamar.

Apesar de Spacebourne 2 estar em Early Access, o nível de ambição que o jogo transparece é tremendo. Entre a exploração espacial, os momentos de diplomacia e relações entrefacções e uma outra camada, a acção na terceira pessoa, há muitos factores, diria até demasiados se me lembrar que este é um jogo feito por apenas uma pessoa, que demonstram o patamar de ambição e o equivalente nível de execução que já encontramos neste momento.

As linhas de inspiração com os clássicos Freelancer, Wing Commander e Mass Effect são óbvias, e num ano em que Starfield está para ser lançado, percebemos que, após Everspace 2, este é um tremendo ano para RPGs espaciais com combate na primeira ou terceira pessoa.

A componente de RPG está bem presente com as milhentas possibilidades de customização do personagem que encontramos, mas não só. A forma como interagimos com outros personagens permitem-nos vaguear entre a mentirmos ou darmos respostas honestas, iniciando e desenvolvendo as nossas relações com os NPCs com agência nas nossas decisões.

Como simulação espacial, aquilo que esperamos de Spacebourne 2 é o que encontramos. Aceitamos missões e isso leva-nos a andar de planeta em planeta à procura na nossa nave, o que vai eventualmente despoletar algumas dogfights interessantes. 

Este é o primeiro ponto onde eu – antes de saber que estava perante o labor de um solo developer – ia referir o quanto Everspace 2 o faz melhor, ainda que Spacebourne 2 nos traga interessantes combates espaciais. E mantenho o que digo. A fluidez do combate daquele está melhor executado do que este, mas quando comparamos com tantas outras tentativas com o qual já nos cruzámos, é impossível não ficarmos de boca aberta para a qualidade que uma pessoa sozinha atingiu quando equipas inteiras não o conseguiram.

Noutro aspecto, há sinais desta equipa reduzida. Apesar de vermos alguma riqueza visual na construção das galáxias e das áreas que exploramos a pé, percebemos também alguma falta de qualidade nas animações, e também na utilização de assets que acredito serem adquiridos e não desenvolvidos para este jogo.

O combate na terceira pessoa, mimetizando muitas vezes o efeito da gravidade, é menos interessante (com os inimigos a necessitar de demasiados tiros para morrerem) e com alguns problemas técnicos, em termos de hitboxes

O último ponto de fragilidade deste Spacebourne 2 resume-se à fraca qualidade do voice acting, maquinal e provavelmente artificialmente gerado. 

Spacebourne 2 não é o melhor jogo do género a sair num ano em que já tivemos o magnífico Everspace 2 e quando ainda esperamos o lançamento de Starfield. Mas é inegável que a excelente qualidade deste jogo é exponenciada pela percepção que tudo o que vemos, jogamos e experienciamos, num jogo de exploração espacial que ainda inclui combate na terceira pessoa é fruto do trabalho de uma pessoa apenas.