Não resisti. Na minha pesquisa semanal, voltei a deparar-me com três atiradores na primeira pessoa, inspirados, obviamente, nos clássicos da lendária id Software, tão interessantes como os primeiros três que trouxe à terceira edição de O Albergue dos Silêncios. Curiosamente, encontrei uma sequela, Forgive Me Father 2, e, portanto, tenho de ir espreitar o seu antecessor que foi lançado no ano passado, para averiguar se diverte tanto quanto parece. Depois, apareceu-me um colorido, estilizado e ultra violento FPS com um exótico conjunto de equipamento bélico, Diluvian Ultra. Por fim, o meu último achado foi Fallen Aces, que nos leva ao submundo do crime organizado com o mesmo estilo gráfico e artístico de um DOOM, onde não vão estar armados só com armas de fogo, porque vão distribuir uns valentes murros com a força dos vossos punhos e, quando houver oportunidade, também vão poder espalhar violência com uma útil chave inglesa em inimigos de fato e gravata. 2023 não se pode queixar da falta de jogos na primeira pessoa onde se dispara primeiro e se fazem as perguntas depois.
Forgive Me Father 2
Byte Barrel – Polónia
Data de lançamento não definida – PC
Faço uma pesquisa tão exaustiva, sobre jogos independentes em desenvolvimento, para esta rubrica, que o conteúdo publicitário que me é mostrado nas redes sociais já é material ideal para vos mostrar aqui. Não conhecia Forgive Me Father, lançado em 2022 na Steam, mas deparei-me com a sua sequela da polaca Byte Barrel, que adiciona apenas um “dois” ao título – um clássico na nomenclatura de sequelas em videojogos, Forgive Me Father 2. A Byte Barrel é uma pequena produtora polaca que já criou dois jogos: o já mencionado atirador na primeira pessoa inspirado em H. P. Lovecraft e um outro título feito a partir de um licenciamento de um programa do Discovery Channel. Portanto, experiência não falta à equipa que tem o objetivo de criar uma sequela com uma ambição ainda maior que o original.
Forgive Me Father 2 será um atirador na primeira pessoa, como é evidente, inspirado nos pioneiros dos jogos deste género – os que são conhecidos agora como boomer shooters. O que me fez trazer mais um FPS a esta rubrica foi a diversidade do extravagante equipamento bélico para dizimar as hordas de monstruosidades horrendas, assim como um grafismo que se aproxima do estilo que encontramos na banda desenhada. É fácil, pensem em Darkest Dungeon na primeira pessoa. Pessoalmente, também acho muito apelativo a quantidade de violência gráfica, ou gore, que o jogo apresenta e desta vez será a dobrar porque de acordo com o que podemos ler nos destaques do jogo: todos os inimigos “evoluem para uma forma ainda mais diabólica e perversa deles próprios”. Se esta ideia for bem implementada nas mecânicas e no design dos níveis, a evolução destes inimigos poderá traduzir-se em ainda mais diversão. É precisamente isso que se procura neste género de jogos.
Diluvian Ultra
Crest Helm Studios – Suécia, Reino Unido, Nova Zelândia
2023 – PC
Quando os produtores têm um acesso muito limitado a recursos financeiros, normalmente usam plataformas como o Kickstarter ou Indiegogo. Contudo se uma campanha de financiamento falhar, tentar o Patreon pode ser a solução – a Sokpop já conseguiu fazer uma centena de jogos, contudo com uma abordagem diferente do habitual. Infelizmente, a Crest Helm Studios falhou as suas tentativas de angariação de verbas para a concretização de Diluvian Ultra, tanto no Kickstarter como no Patreon. Apesar das dificuldades, o jogo continua a ser feito por três pessoas separadas por milhares de quilómetros – uma está na Nova Zelândia, uma outra na Suécia e mais uma no Reino Unido -, dado que é possível encontrar publicações recentes sobre a evolução do jogo, tanto na sua página da Steam, como nas redes sociais em que a conta oficial do jogo está presente.
A produção de Diluvian Ultra começou em 2016 por uma só pessoa, agora que estão três o lançamento aproxima-se – estava anteriormente previsto para 2021. Este first person shooter terá uma mecânica de combinação de armas para que sejam eficientes na vossa abordagem ao combate. Por exemplo, há armas com disparos que servem principalmente para provocar dano na armadura, para depois “deixar os vossos inimigos à mercê de um único golpe final”. Estas regras também se aplicam ao jogador, um vampiro que acordou depois de um longo sono, por isso todo o cuidado é pouco, mais vale serem dinâmicos em vez de estáticos e movimentarem-se bem para não serem atingidos.
Fallen Aces
Trey Powell, Jason Bond – Estados Unidos da América
Data de lançamento não definida – PC
Gostei especialmente de Fallen Aces por apresentar uma estética de crime noir, que tem origem na literatura policial do início dos anos trinta, a intitulada hardboiled crime fiction. Não faltam pessoas nas redes sociais que gostaram do que viram e jogaram (há uma demonstração disponível na Steam), infelizmente algumas são tão impacientes que lhes falta empatia para perceber que como este jogo está a ser feito por apenas duas pessoas, Trey Powell e Jason Bond, não por um batalhão de colaboradores de uma Bethesda ou uma EA, Fallen Aces ainda vai demorar a estar pronto. Powell (o produtor mais vocal nas redes sociais) assume vários cargos produção e divulgação de Fallen Aces, porém não é o excesso de trabalho que o cansa, está farto de ler as lamurias de quem está impaciente pelo jogo não estar pronto. Enfim, são os ossos do ofício de quem produz videojogos.
Mecanicamente, a parte que mais interessa num jogo, Fallen Aces apresenta bons trunfos na manga. Podemos usar todos os objetos que estiverem ao nosso alcance (ou seja, os itens com os quais o jogo nos deixa interagir) para dar cabo dos nossos inimigos. Não têm uma pistola? Usem um tubo de aço, é tão eficiente como um projétil expulso de uma arma de fogo. Se não tiverem nada nas mãos não há problema, cerrem os punhos e comecem a distribuir uns valentes murros em sítios estratégicos – obviamente, vale tudo. Também temos a possibilidade de escolher o nosso caminho e abordagem – ou partimos para a violência sem dó nem piedade, ou podemos ser silenciosos ao ponto de só notarem nossa presença quando os nossos inimigos estiverem em queda livre de encontro ao chão depois da tareia que levaram. Fallen Aces, como podem ver, apresenta razões mais que suficientes para colocarmos o jogo na nossa wishlist para sermos avisados quando este for lançado.