Terminei há menos de um mês os remaster de Pikmin 1 + 2 e pensei que havia pouco que pudesse ser feito para acrescentar diversão àquilo que estes já ofereciam, mas estava enganado, muito enganado. Pikmin 4 é inquestionavelmente Pikmin, a fórmula está lá toda, mas acrescenta mais, muito mais.
Talvez o ponto em que menos notei que Pikmin 4 é superior a todos os outros 3 remasters foi na competência gráfica. Há um investimento nos nossos personagens e nos inimigos de forma a que sobressaiam e pareçam visualmente mais apelativos, mas os cenários continuam a parecer um pouco datados, e mesmo o chão já parece precisar de subir o nível, mesmo na Switch, já que os níveis são relativamente pequenos, não estamos propriamente a falar de Zelda Tears of the Kingdom ou mesmo Super Mario Odyssey. No entanto as minhas reclamações acabam aqui.
Eu sei que a fórmula Pikmin resulta bastante bem comigo, mas há que adorar alguns dos detalhes e preciosismos que foram incluídos no jogo, até na vertente sonora onde, por exemplo, há um boss que engoliu um rádio e se move ao ritmo da batida. Mesmo as pistas sonoras estão mais perceptíveis e ajudam bastante a nos situarmos na altura do dia se estivermos distraídos.
Não há muito para mudar na jogabilidade, mas Pikmin 4 introduz um cão chamado Oatchi que realiza uma data de acções diferentes e funciona um pouco como um híbrido entre um super pikmin e um parceiro de jogo, já que realiza muitas das acções que os pikmins efectuam, como atacar inimigos, desenterrar ou transportar objectos e é possível controlá-lo de forma independente para resolver puzzles que necessitam de duas pessoas para a sua resolução. Há mesmo acções que apenas podem ser efectuadas por este cãozinho, que são compensadas por outras que ele não consegue fazer. Outro dos acrescentos que traz ao jogo é a capacidade de nos transportar e a todos os outros pikmins e, nesses momentos, saltar pequenos declives, introduzindo uma pequena verticalidade que não existia em jogos anteriores.
Outra excelente adição ao jogo é o lock-on automático que não existia nos jogos anteriores e facilita sobremaneira a vida de alguém como eu que não tem jeito absolutamente nenhum para apontar usando um comando, impedindo-nos de andar a atirar ao calhar que nem malucos, especialmente para inimigos voadores, diminuindo a possibilidade de, involuntariamente, atirar pikmins para fora do cenário nas masmorras e facilitando acertar no local exacto que queremos acertar. Esta adição de forma isolada torna o jogo muito menos frustrante, mas também muito mais fácil de jogar, o que neste caso é positivo já que Pikmin não é um jogo que procure a dificuldade de mecânicas, mas a diversão na resolução de puzzles e da exploração dos diferentes níveis.
Como é habitual a dificuldade de resolução de puzzles vai subindo com as novas áreas, mas especialmente com a descoberta de novas masmorras. Há também uma tentativa de entrar em puzzles com uma resolução que necessita de lógica mais avançada, mas dado que uma parte importante do público alvo são as crianças, impera a linearidade na maioria das suas soluções e, muito sinceramente, acho que é essa a opção certa, tornando o jogo muitíssimo mais casual e divertido, sendo essa mais uma das formas em que evitam as frustrações do jogador.
Outro investimento forte em Pikmin 4, sendo mesmo parte integral e importante do jogo é o Dandori, ou a arte do multitasking, onde temos de, em conjunto com os nossos pikmin, realizar um conjunto de acções contra um adversário. O mini-jogo em si não é uma novidade, já existindo em jogos anteriores, mas aqui adquire um papel importante até na explicação da própria narrativa e lore do jogo. Como habitualmente podemos jogar contra outros jogadores, mas há múltiplas opções neste jogo para o jogar contra o computador, com o desafio a ser gradualmente superior, mas sem o desafio que teria o de ser jogado contra outra pessoa, já contra um NPC a estratégia acaba por ser essencialmente a mesma, independentemente das condições e entraves que o jogo nos coloque. Mesmo assim é um minijogo extremamente divertido que sempre que aparecia eu aproveitava.
Outra novidade é que agora podemos e somos mesmo obrigados a jogar de noite, algo que anteriormente não podíamos fazer. Nesse período o tipo de jogo muda, passando a ser jogado como um tower defense, com a ajuda de um novo tipo de pikmin que pode apenas pode ser utilizado durante a noite ou nas masmorras, sendo que este momento do jogo tenta explicar o que se passa durante a noite, algo que anteriormente não sabíamos.
Há dois novos tipos de pikmin, o que brilha e podemos usar durante a noite, e o gelado que pode ser usado para congelar a água permitindo que outros pikmin a atravessem. Há também outra forma de transportar os pikmin na água neste jogo, sendo transportados pelo nosso cão, o que torna o jogo muito mais dinâmico. Pode parecer que isto simplifica muito as coisas, mas na prática apenas mostra o quão engenhosos tiveram de ser os programadores para, mesmo com todas estas mudanças, manterem o jogo desafiante.
Rolamos os créditos após a quarta área do jogo, mas esse é apenas o semi-final, se é que lhe posso chamar isso, após essa fase ainda temos mais duas áreas inteiras para descobrir e explorar.
Pikmin 4 não oferece mais, oferece muito mais, quiçá até demasiado. É uma prenda que dá e continua a dar. Parece que a cada página que viramos encontramos algo novo, tanto que a certo ponto já não me sentia mimado pelo jogo. Sejam fãs da franquia ou não, Pikmin 4 tornou-se para mim um jogo obrigatório para quem tem uma Switch. Mega recomendado!