“Ação arriscada, perigosa ou fora do comum; acontecimento extraordinário ou imprevisto”. Estas são as duas primeiras definições de “Aventura” do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Nos jogos esta definição é muito vaga, há muitos outros géneros que encaixam perfeitamente bem na categoria de aventura, daí ter muitos sub-géneros. Uma pacata obra onde a principal ação do jogador é andar, os intitulados walking simulators, pode muito bem ser uma aventura – não acreditam? Experimentem Dear Esther, Gone Home ou o hilariante The Stanley Parable. Já um atirador na primeira ou terceira pessoa, cheios de cinemáticas, é bem mais evidente e fácil de classificar como uma aventura. Aliás, pela definição que transcrevi do dicionário, uma grande fatia dos jogos encaixa aí. Ultimamente, o que faz dos jogos uma grande aventura já não são só as suas mecânicas mas, principalmente, a sua narrativa – algo maduro ou, pelo menos, bem desenvolvido, com ramificações, sejam elas escolhidas ou não pelo jogador. Isto é o que interessa tanto nos videojogos; mundos onde nos perdermos, rumo a um destino ainda por desvendar – sejam eles descobertos por uma multitude de ações ou por um simples caminhar para o desconhecido.

Harold Halibut

Slow Bros. – Alemanha

Data de lançamento não definida – PC, PlayStation, Xbox

Segundo conta a produtora germânica, sediada onde se realiza a Gamescom, Colónia, Harold Halibut começou numa conversa durante um jantar, no longínquo ano de 2012, sobre o amor que os membros da equipa sentem por jogos narrativos e stop motion (uma técnica usada por cineastas em filmes de animação, como a mais recente reinterpretação de Pinóquio por Guillermo del Toro). Por isso, não demorou muito até que fossem construídos cenários do tamanho de casas de bonecas e as próprias marionetas; será precisamente este mundo tátil (feito de metal, tecido, madeira e plasticina) a atração principal do jogo.

Esta narrativa retro futurista verá Harold a explorar uma nave espacial, do tamanho de uma pequena cidade, submersa num oceano extraterrestre, à procura do verdadeiro significado de lar. Esta história passa-se duzentos e cinquenta anos depois da Guerra Fria, que levou uma nave a escapar-se do planeta Terra para preservar a raça humana. Deverão os habitantes desta nave procurar um planeta mais seco? Ou devem conformar-se com o presente sem pensar nas consequências do seu futuro subaquático? São respostas que o protagonista de Harold Halibut deverá responder na sua jornada de descoberta interior. Só espero que o jogo ainda chegue esta ano, dado que já vai com mais de uma década de produção.

Glitched

En House Studios – Estados Unidos da América

Data de lançamento não definida – PC, Switch, PlayStation, Xbox

Os melhores exemplos de videojogos ricos em boas narrativas são os RPG, quem passou dezenas ou centenas de horas em Skyrim sabe que esta é uma verdade incontestável. Por isso, não me admirei quando escolhi um RPG para este décimo lote de O Albergue dos Silêncios, com jogos focados na narrativa. Este RPG, Glitched, tem como base um erro – o chamado glitch dos programas ou software dos computadores – que aparece no próprio mundo do jogo e permite à personagem principal que dê conta da presença do jogador. Isto é algo muito interessante, pode dar para o torto ou ser muito bem implementado e fazer desta experiência única.

As funcionalidades-chave do jogo incluem, obviamente, escolhas feitas pelo jogador que influenciam a narrativa e a própria construção da personalidade da personagem principal. Estas escolhas também vão definir os poderes que Gus, nome do nosso protagonista, terá e como é que os outros reagem à sua presença e ações que desempenha. Visualmente, basta observarem o pequeno trailer, Glitched transporta-nos para jogos como EarthBound onde temos um grupo que nos acompanha na nossa aventura para salvar Soren, cidade à beira da destruição por causa dos glitches do jogo. Num ano com tão bons jogos RPG a serem lançados seria uma pena Glitched ser ofuscado pelas suas gigantes sombras que projetam, contudo, se sair este ano, parece ser mais uma excelente escolha.

Hauma – A Detective Noir Story

SenAm Games – Alemanha

11 de Setembro 2023 – PC

Se há narrativas que são boas, são policiais com uma boa dose de mistério. A alemã SenAm Games convida-vos, já em Setembro, a vivenciarem a história de Judith numa graphic novel interativa. Judith é uma ex-detetive que teima em não esquecer um antigo caso que ficou por resolver, onde descobrirá uma conspiração a nível internacional. Hauma – A Detective Noir Story procura dar vos a expressividade e personalidade de Judith com uma grande variedade de escolhas de diálogo e opções de interação, desenhando assim uma Judith complexa e com um grande carácter.

Obviamente, o jogo será centrado em puzzles de dedução, ou não fosse este um jogo com detetive no nome. Não faltarão, assim, vários mecânicas de investigação para que consigam encaixar todas as peças do puzzle – ou seja, cabe-vos a vocês interpretar todas as vossas provas e pistas que encontrarem. O aspeto do jogo não podia ser melhor, com um grafismo que replica as bandas desenhadas norte-americana dos anos noventa. Hauma, apesar de ser o primeiro título da SenAm Games, tem toda a aura que nos vai satisfazer com uma rica e complexa narrativa com muito mistério e dúvida que colocará no jogador para se sentir um detetive de ficção hardboiled. Felizmente, já não falta muito.