Há muito que me une ao João Machado, em termos profissionais, emocionais e familiares. Mas é possível que o elemento que mantemos até aos dias de hoje (e espero que em muitas décadas de companheirismo) é o proselitismo que manifestamos um ao outro com as coisas que gostamos. A bem da verdade, foi esse mesmo entusiasmo que fez criar a faísca da nossa amizade no momento em que nos conhecemos. Tentamos converter o outro a algo que gostamos não pela necessidade de estarmos alinhados, mas pelo carinho da partilha de algo que sabemos quase de certeza que o outro gostará.
Nos primeiros anos de nos conhecermos percebemos que tínhamos muitas paixões fortes em comum. A Nintendo, Doctor Who, A Song of Ice and Fire, Transformers, Saint Seiya entre outras. Mas pelo meio existiam tantos outras paixões que cada um de nós nunca tinha experienciado, mas que o outro desconhecia. Da parte do João um desses grandes exemplos foi Red Dead Redemption, um título que me passou ao lado visto que na geração da Xbox 360 e PS3 eu mantive-me, como em tantos anos, apenas direccionado ao PC e Nintendo.
O proselitismo do João para com John Marston era evidente com as diversas conversas, debates e até artigos que escrevia ou referenciava o Western da Rockstar. Em paralelo essa missão que levou a cabo para me apresentar o jogo teve uma camada que eu desconhecia: a regressar do seu antigo escritório passava várias vezes por uma Cash Converters vizinha na esperança de conseguir comprar uma cópia em segunda mão para me oferecer. Algo que lá aconteceu há um tempo, no dia em que a minha cópia de RDR para Xbox 360 chegou pelas mãos do João, dias depois da sequela chegar ao mercado.
Cinco anos depois de muitos jogadores – eu inclusivamente – descobrirmos este universo pela primeira vez através da sequela, é altura em que a Rockstar, através dos britânicos dos Double Eleven Studios, nos trazem o jogo directamente de 2010 para a PS4 e para a Switch.
Dizer que o jogo foi trazido directamente para estas duas plataformas não é um eufemismo. Apesar da senda de remasters que tem preenchido as plataformas actuais, com a PlayStation e a Switch a serem duas das principais visadas por este modus operandi corporativo, o que encontramos em RDR lançado há semanas é um port directo. Sem alterações visuais, mudanças de texturas, remodelação de objectos ou redifinação de controlos: a experiência é praticamente decalcada do que os jogadores puderam experienciar há 13 anos, quando a Rockstar voltou a surpreender o mercado ao criar mais um IP de elevadíssima qualidade.
Mas pedir 50 euros por uma transferência quase directa de um jogo sem praticamente alterações para estas duas consolas parece-me um valor excessivo. Não sendo uma inovação em termos de práticas recrimináveis de óbvio cash grab do mercado, só não é pior já que em oposição a tantos outros casos, este port está efectivamente bem conseguido. Sem bugs ou glitches, ou elementos que o tornem uma afronta aos consumidores, nos dias de hoje é quase uma surpresa perceber que as adaptações feitas para consolas menos poderosas acabem por fazer aquilo que se espera delas: funcionar sem problemas.
É verdade também que esta versão recém-lançada na PS4 e Switch equivale à última de todas que chegou à Xbox 360, trazendo a expansão Undead Nightmare e todos os DLC, mas infelizmente, sem multiplayer. Quem sentir que os 50 euros são um preço justo para pedir pelo conteúdo que aqui está, mesmo sem a possibilidade de ter um modo multijogador, tem aqui a resposta ideal. Ou quem goste tanto da série que necessite de ter o título que lhe deu origem numa plataforma actual, sem ter de recorrer a consolas de gerações anteriores. Ou para quem não o jogou na altura (como eu) e tem aqui a oportunidade para o fazer.
Red Dead Redemption é um jogo brilhante (como podem atestar por este artigo de muitos que o João escreveu), e agrada-me que ele esteja acessível nos dias de hoje, sem estar preso a plataformas descontinuadas. Mas não consigo ultrapassar a barreira do preço e a audácia de permitimos que um port directo seja vendido a este preço. Eu sei que o tempo para estas lamúrias já passaram, e como dizia o James Dean Bradfield dos Manic Street Preachers, “If you tolerate this, then your children will be next”. Ja tolerámos estas estampagens de preços injustificados e validámo-lo com as nossas carteiras.
O Velho Oeste não está apenas na ponta do cano da arma de Marston, pois não?