Confesso que nunca fui fã de jogos de robots, sejam títulos mais focados na simulação, como MechWarrior ou mais arcade, como Gundam ou mesmo Armored Core. O principal facto é que não sou bom a jogar este tipo de jogos, considero títulos com robots difíceis e prefiro ver alguém saber o que está a fazer enquanto joga. Mas isso não me impede de perceber quando um jogo é bom e Armored Core VI: Fires of Rubicon é um excelente exemplo. 

Antes de inventar o género Soulslike, a FromSoftware já era muito conhecida pela série Armored Core e continua a manter uma legião de fãs, mesmo que não seja lançado um jogo novo há 10 anos. Isso leva-nos a tentar perceber neste momento para quem é direcionado Fires of Rubicon, para os fãs deste tipo de jogos, incluindo a série Armored Core, ou por aqueles que querem consumir tudo o que a FromSoftware faz, devido à reputação conquistada sobretudo com The Elden Ring. 

Uma coisa é certa, Armored Core VI nada tem a ver com a sua série de RPGs, mesmo que tenha algum do seu ADN, como a dificuldade elevada das missões e os combates contra bosses monstruosos. Mais uma vez, demasiado difíceis de derrotar. Esta proposta foca-se no experimentalismo, na troca de armas, pernas e braços, traçando estratégias para completar as missões e derrotar os bosses. Entre as missões podem comprar novas peças, vender as que não servem e afinar o AC com chips que dão boosts adicionais à energia. Mesmo que falhem a missão e tenham de repetir o checkpoint é possível voltar ao estirador e substituir os componentes da máquina, procurando o setup ideal para derrotar os inimigos.

O jogo convida mesmo os jogadores a trocar de armas, variando as munições, uma vez que os inimigos podem ter escudos imunes a determinados ataques, mas vulneráveis a outros. Um boss pode ter um escudo de energia que seja necessário destruir com plasma e depois aplicar rajadas de mísseis quando está imune. E há que explorar a barra de stagger, quando o inimigo fica por instantes bloqueado, recebendo dano adicional. 

Isto para dizer que Armored Core VI pode parecer à primeira vista e pelos vídeos, mais um shooter com máquinas de guerra, mas é bem tático. Os inimigos são implacáveis e devem ser sempre abordados com cautela. E os bosses são obviamente baseados naquilo que a FromSoftware faz de melhor: bestas metálicas com padrões de ataque que devem ser decorados, saber quando esquivar e fugir às rajadas e contra-atacar com cautela. É o típico formato que obriga a repetir vezes sem conta os eventos e alcançar pequenas vitórias ao retirar mais energia que a tentativa anterior.  

Os jogadores não passam de um piloto que controla estas imponentes armaduras, mas o jogo é bastante direto, alternando entre os briefings e a ação, com cut scenes esporádicas para complementar a narrativa. O tom militar que pauta a narrativa, a descrição dos objetivos, ajudam na atmosfera pesada de um mundo em guerra, onde executamos trabalhos de mercenário para as corporações na frente de libertação de Rubicon. E não precisam de jogar os títulos anteriores para entrarem nesta campanha, embora os velhos fãs vão poder identificar alguns elementos dos jogos clássicos. 

A personalização é assim um dos principais elementos de diversão neste jogo. É possível pintar o robot com um grande detalhe através do editor cosmético, seja para criar uma espécie de Optimus Prime. Mas também os componentes, como braços, pernas, unidades óticas, lagartas e outras formas. É preciso gerir as  unidades de energia para aguentar certas armas. Cada componente ou arma tem vantagens e desvantagens que necessitam gerir mediante a missão. A cadência dos disparos, o tempo de carregamento das munições, o dano feito com determinada arma, o tipo de munições, são exemplos da estratégia que necessitam lidar no setup do Armored Core. E sendo um jogo da FromSoftware não faltam espadas de energia para ataques melee. 

A campanha é longa, com dezenas de missões narrativas, mas também há treinos, que recompensam os jogadores com componentes para as suas máquinas. Podem também explorar a componente competitiva do jogo em escaramuças contra outros jogadores online para colocar à prova a configuração do Armored Core

Armored Core VI é um jogo com um tom pesado e bélico, mas isso não o impede de ser belíssimo. Em primeiro lugar o detalhe incrível dos robots, nas animações das suas articulações, os jatos de energia que permitem rasgar o céu com grande agilidade. Mas mesmo os cenários de combate, que são pequenos sandboxes abertos à exploração oferecem paisagens diversificadas, sobretudo bases militares ou ruínas de cidades. Há uma sensação de escala incrível em alguns cenários, quando tomamos de assalto um gigantesco muro ou máquina gigante que temos de neutralizar. 

Confesso que entrei com medo neste jogo, esperava um simulador complexo, mas fiquei surpreendido de como a From Software se preocupou com novos jogadores e apresenta uma experiência simples e cativante desde o início. E à medida que as primeiras missões vão sendo arquivadas, novos sistemas acompanhados com missões de treino vão sendo introduzidas, elevando a dificuldade da ação. É um jogo difícil de dominar, mas fácil de entrar e jogar. Há missões que demoram cinco minutos, outras mais de 20 minutos ou horas, para bosses mais desafiantes. 

Os jogadores vão ganhar um jogo muito polido de ação com robots, com muita variação de configurações. É uma carta de amor aos velhos fãs da série e um excelente cartão de visita a jogadores que não se interessam muito pelo género, como eu.