Mortal Kombat é uma das séries de combate mais antigas e que continua a ser atualizada com novos episódios pela equipa da NetherRealms de Ed Boon. Os jogos da série sempre se destacaram dos seus rivais Street Fighter e Tekken pela aposta na violência extrema dos seus golpes e finalizações, aliado ao fotorrealismo das personagens. Ao longo da sua história com mais de 30 anos, os jogos tiveram altos e baixos em termos de qualidade, mas as suas personagens carismáticas mantiveram o nome sempre na boca dos fãs. Sub-Zero, Scorpion, Rayden, Johnny Cage, Sonya Blade, Liu Kang ou Goro são alguns dos nomes do roster original que continuam bem presentes. 

O ano de 2011 foi chave para a série, que viu a sua produtora original, a Midway Games a falir, mas a Warner Bros. Games apadrinhou a equipa, que se transformou na NetherRealms e adquiriu a popular licença de combate. Deu-se assim um importante reboot na série e aquele que seria o Mortal Kombat 9 ficou-se apenas por Mortal Kombat, resultando num jogo impressionante,estabelecendo novos padrões de qualidade que viriam a ter grande impacto para o género. Mortal Kombat ganhou uma narrativa muito interessante que justificava a razão pelo qual as personagens combatiam entre si. E a partir desse título o estúdio foi alternando entre Mortal Kombat e Injustice, com regras semelhantes mas aberto ao universo de heróis e vilões da DC. 

A última década colocou Mortal Kombat numa excelente forma, introduzindo novidades frescas de jogabilidade, novos modos de jogo e um grande ênfase no colecionismo, que incentiva a desbloquear itens cosméticos, finalizações e outros elementos. Em forma de comemoração de 30 anos da série, a NetherRealms voltou a fazer um reset à série, desta vez um hard reset, recontando a história de origem das personagens que tão bem conhecemos, justificando alguns dos sinais de assinatura, ao mesmo tempo que restabelece as ligações das dezenas de nomes do alinhamento de lutadores. Há uma nova narrativa, que liga aos anteriores capítulos da série e justifica os novos eventos e essa necessidade de reboot para o seu futuro.

E para não dar spoiler da narrativa, que dura cerca de meia dúzia de horas, basta saber que Liu Kang, como guardião do tempo, teve de redefinir as linhas temporais para manter a paz entre os vários reinos. E para isso reescreveu as origens das personagens e a relação entre si. Mesmo que não seja a melhor história da série, sobretudo a sua reta final, serve para estabelecer os alicerces para o futuro de Mortal Kombat, mas mantendo alguns dos elementos canónicos que os fãs tão bem conhecem. Há lugar para surpresas, mas sem haver choques nas origens das personagens, com o estúdio a usar o trunfo dos multiversos que estamos habituados a ver na Marvel e DC. 

A narrativa é curta, mas um excelente cartão-de-visita para o novo episódio, servindo como um tutorial avançado. Destaca-se pelas excelentes sequências animadas que o estúdio tem vindo a refinar na última década e parece que estamos a ver um filme em que participamos ativamente, pois as transições para o gameplay são exemplares. Penso que sejam das melhores animações narrativas que tenho visto este ano. Toda a sequência narrativa finaliza na câmara posicionada no combate, numa transição suave e orgânica. 

Uma das novidades de Mortal Kombat 1 relativo ao gameplay são os Kameo Fighters, a possibilidade de escolher um side kick como apoio que podemos invocar durante a partida. Não se trata de um formato tag team, mas sim a sua chamada ao ring para executar um ataque ou mesmo um combo em combinação com a personagem principal. Existe um cool down, mas é generoso, podendo ser chamado várias vezes durante a ronda. O interessante é que a sua entrada no ringue é bastante física, podendo levar porrada e falhar o seu ataque. Os kameo Fighters podem ter sinergias muito interessantes com as personagens e certamente os jogadores hardcore vão desenhar estratégias com as melhores combinações. 

Os outros modos de jogo a solo são as Towers que dispensam apresentações e o novo Invasion que substitui a Krypt. As torres incentivam os jogadores a lutarem com diferentes oponentes a cada andar. recompensando no final com o desbloqueio de pequenas sequências finais de história das personagens disponíveis.

Já o Invasion é o formato que o estúdio espera que os jogadores passem mais tempo. Esta experiência é semelhante a um jogo de tabuleiro e consiste na exploração de diferentes cenários narrativos, disponíveis em formato de temporada. Este formato tem elementos de RPG e uma moeda própria utilizada para adquirir centenas de desbloqueáveis, como itens cosméticos para as personagens ou mesmo Lutadores Kameo e outros. O modo procura ser um remix dos elementos da campanha narrativa, mas também um best of de mini-jogos que o estúdio criou nos títulos anteriores. Há combates contra personagens híbridos de outras dimensões, pequenas sessões de treino, lojas de vendedores e outros elementos. As personagens ganham experiência com o progresso e podem melhorar os seus atributos, assim como a possibilidade de equipar talismãs para habilidades adicionais.  

O novo Invasion será melhor compreendido se acabarem a história, mas basicamente foca-se nas invasões de personagens de outras dimensões, o que origina diferentes desafios e combates neste modo. Há diferentes variáveis e alterações às regras, tal como já vimos em jogos anteriores, os mutadores que alteram comportamentos, por exemplo. O primeiro cenário, que serve de tutorial para este modo tem lugar na mansão assombrada de Jonny Cage, mas existem outros cenários que vão sendo desbloqueados, com diferentes objetivos e narrativas. Podem alterar de personagem e Kameo sempre que desejarem neste modo. 

A NetherRealm disse que novos reinos e desafios serão introduzidos a cada seis semanas. Esta primeira chama-se Season of Spectre. Além dos conteúdos o jogo tem quests diárias e semanais, deste amealhar vitórias nos combates, participar em determinado modo, doar moedas para a Shrine, etc. 

De notar ainda que cada personagem tem uma barra de progresso de Mastery com 35 níveis, desbloqueando a cada nível novos itens cosméticos, Brutalities e outros elementos. É como se fosse um season pass individual, semelhante ao Marvel’s Avengers, mas sem a necessidade de pagar por cada um. Para subir essa experiência apenas têm de jogar com a personagem. Apesar da maioria dos itens e conteúdos serem desbloqueados e adquiridos com a moeda do modo Invasion, o estúdio também pretende vender alguns exclusivos com moeda real. Já se sabe dos planos habituais de futuramente serem inseridos packs de personagens, sabendo-se que Homelander da série The Boys, Peacemaker da DC e Omni-Man de Invencible. Os rumores apontam ainda para Conan e Ghostface de Scream. Há também nomes da série que ficaram inicialmente para trás, como Cassie Cage, Noob Saibat e Cyrax.

Para já, pena que a NetherRealms tenha decidido colocar uma paywall para aceder a personagens como Shang Tsung, Quan Chi e Ermac que estão disponíveis no modo narrativo, mas que terão de ser comprados para jogarem com as mesmas nos outros modos. 

O jogo tem uma comunidade competitiva online forte e espera-se que MK1 mantenha essa aposta. Ainda assim, nesta fase inicial pareceu-me que o match making estava ainda por afinar, pela falta de equilíbrio da experiência entre os jogadores encontrados. No meu primeiro combate, apesar das suas estatísticas estarem a zero como eu, certamente que o jogador tem muito mais experiência que o jogo não deteta, resultando em alguns encontros desequilibrados. Além disso, ainda não existe cross-play ativo para já, diminuindo os encontros entre jogadores nas diferentes plataformas. Além do modo Kasual, podem optar por jogar em modo de rank ou o conhecido King of the Hill. 

Um aspeto a realçar são as arenas de combate. Estes baseiam-se nos cenários narrativos, oferecem profundidade e diversos elementos animados. Como disse, a transição das cut scenes para as arenas é impressionante. No entanto, fiquei desiludido pela decisão da remoção dos elementos interativos, que serviam como armas de ataque. Desta vez os cenários perdem o protagonismo e voltam a ser “estáticos”. Talvez a decisão tenha sido feita para descomplicar um pouco os combates, uma vez que este é um dos mais acessíveis da série: fácil de executar combos básicos, mas com a profundidade para se aprender combos prolongados, com a combinação do Kameo, fazer bloqueamentos com timing e contra-ataques eficazes. 

Mortal Kombat 1 é um muito bom capítulo da série. Tem muito conteúdo para explorar nos diferentes modos, a jogabilidade é excelente e estamos perante um jogo lindíssimo e fluído. O jogo incentiva a explorar o Invasions para amealhar conteúdo, a testar os skills online e a explorar o modo narrativo para compreender as novas origens das personagens.