A Electronic Arts deu o pontapé de arranque a mais uma temporada futebolística, tal como o faz anualmente há 30 anos. Mas este é um ano de mudança, pelo menos no nome. FIFA é passado e agora EA FC passa a ser o nome do mesmo jogo de sempre. O organismo máximo de futebol deixa de apadrinhar o jogo e o que isso significa? Nada. Os jogadores que compram anualmente FIFA não vão ter qualquer choque no primeiro contacto com FC 24, pois oferece os mesmos modos, a jogabilidade é estupidamente familiar. 

A mudança de nome pode significar uma nova oportunidade para a EA Sports captar um novo público, que provavelmente não adquiriu um jogo da série em anos, na esperança de encontrar novidades de relevo. Mas há que considerar que a EA não tem concorrência neste momento. A Konami matou PES e as novas versões gratuitas online estão longe de beliscar o domínio. E UFL, apadrinhado por Cristiano Ronaldo parece ser atualmente vaporware. Por isso, porque razão haveria a EA de revolucionar a série, para além do nome?

Isso não significa que estejamos perante um mau jogo, pelo contrário. O estúdio continua a evoluir alguns elementos da jogabilidade, sobretudo a tecnologia Hypermotion que parece melhor que nunca. O facto de ser possível captar os jogadores com câmaras, num estádio, dentro de um jogo real, em vez de um estúdio com meia dúzia de vedetas com fatos às bolinhas para captar fintas e truques de assinatura. Isso permitiu à equipa utilizar os vídeos para captar os estilos individuais dos atletas, as suas fintas e jogadas únicas. O famoso golo acrobático de Erling Haaland foi dado como exemplo daquilo que a EA Sports reproduziu no relvado. 

Existem outras novidades ou melhorias no jogo, mas antes de mais quero destacar uma das mais importantes: o grande destaque das mulheres em FC 24. O futebol feminino está felizmente em alta e a Electronic Arts, que nos últimos anos já oferecia competições, assume por completo as mulheres no seu modo principal Ultimate Team. As cartas com as melhores estrelas são valiosas, permitindo fazer equipas mistas. E para aqueles que acham mal haver misturas naquele que é o futebol fantasia, o que dizer de termos velhas glórias, alguns que já faleceram. Porque não mulheres? E depois é ter acesso a comentários com analistas femininas e até equipas de arbitragem. Parabéns EA pela iniciativa de quebrar barreiras num videojogo que na vida real seria impossível. 

Uma das dúvidas com o cancelamento da parceria com a FIFA dizia respeito às licenças, mas como a EA havia explicado tudo se mantém. Há quase 20 mil jogadores licenciados, 700 equipas e 30 ligas disponíveis para jogar no novo jogo. E há seis novas competições oficiais femininas, 1.600 jogadoras, num total de 74 equipas. 

O modo principal do jogo, Ultimate Team, é mais complexo. O sistema de química entre os jogadores do plantel foi remodelado e é mais complicado de alinhar jogadores. Antes era visível através de ligações diretas, agora é preciso interpretar os símbolos. Há também ainda mais mecânicas em relação às cartas dos jogadores, prova disso é o Ultimate Team Evolutions. Um jogador pode receber upgrades permanentes, o que significa que podemos extrair mais de uma carta básica. Por exemplo, transformar uma carta Silver em dourada, aumentando as estatísticas gerais dos jogadores. Mas para isso terão de superar desafios associados, tais como jogar um número de partidas com o atleta em questão, marcar um golo ou outras ações. A EA pretende dessa forma aumentar as oportunidades dos jogadores melhorarem as suas equipas sem desesperar em encontrar cartas melhores nos famosos pack openings ou varrer o mercado de transferências onde precisam de gastar os preciosos FIFA Points. 

Sem entrar em grandes detalhes, ficando a sua exploração para os jogadores mais dedicados, o sistema de Play Styles pretende trazer para o campo virtual os movimentos de assinatura das estrelas de futebol de forma mais detalhada. E os atletas de elite terão acesso ao Play Styles +, com animações únicas, nas suas fintas, remates ou truques de assinatura. A capacidade de maiores sprints, de fazer cortes ou remates são igualmente salientes deste tipo de jogadores, que são as estrelas que devem colecionar religiosamente para o plantel. 

O motor Frostbyte continua a oferecer visuais únicos no mundo do futebol virtual. Não apenas a qualidade dos rostos e fisionomia dos atletas, como todo o ambiente dos estádios. O início e final das partidas têm um tom muito próximo do que se assiste nos estádios, as bancadas são mais animadas. E claro, tudo o que acontece no relvado tem maior imersão. As animações são mais fluídas, senti que a jogabilidade é realmente solta, mais rápida que anteriores versões. E existem diversas estatísticas espontâneas durante os lances de bola parada, desde os remates à baliza ou os jogadores que estão mais cansados. Há muitos elementos visuais que ajudam os jogadores a analisarem a partida e a tomarem melhores decisões.  

Uma palavra para o novo design dos menus do jogo. Ao longo dos anos a EA acumulou dezenas de funcionalidades e modos de jogo que tornam a navegação confusa. Para FC 24 há um misto entre ações horizontais e verticais que tornam o acesso mais rápido entre os diversos modos e áreas. Um sistema de favoritos garante que se possa aceder de imediato à opção mais utilizada. Inicialmente pode ser estranho, mas depois da habituação percebe-se que é uma solução eficaz. 

Existem algumas alternativas de modos online para farmarem FC Coins, como os desafios de momentos, com objetivos muito simples, desde fazer passes ou marcar golos de alguma forma. São desafios que simultaneamente treinam o jogador para as suas habilidades no campo. De resto contem com os mesmos modos de sempre, incluindo o modo Volta, para quem gosta de peladinhas em modo street ou os modos de carreira de treinador ou jogador. Há algumas adições mínimas, como por exemplo, a possibilidade de no modo treinador observar o jogo diretamente dos olhos do mister sentado no banco, mas não passa de um extra curioso porque não tem nada de eficaz na leitura da equipa em campo. Talvez compreender melhor a posição dos treinadores reais. O Clubs permite enfrentar outros jogadores online, sendo que agora suporta crossplay entre as diferentes plataformas. 

A Electronic Arts poderia ter aproveitado todo o burburinho em torno da mudança de nome para fazer algumas alterações mais profundas, introduzir novos modos de jogo ou fazer mudanças que realmente o permitissem distanciar-se com o passado de FIFA. Mas qual seria a razão quando se trata do único simulador no mercado? Continua a ser um jogo excelente, para jogar a solo ou online e na mesma consola com amigos. Mas é o velho FIFA de sempre, com evoluções anuais mínimas que poderá não justificar a aquisição. Mas é o melhor, e mais uma vez, único, jogo no mercado, por isso se procuram futebol virtual é igualmente obrigatório.