The Crew foi a tentativa da Ubisoft criar uma experiência totalmente online dos desportos motorizados em formato live services. Contou com a experiência da editora em criar mundos abertos à exploração, o estúdio Ivory Tower herdou diversos produtores da Eden Games de Test Drive Unlimited, assim como da Reflections de The Driver. Pessoalmente achei o mapa gigante e detalhado, um sandbox de condução antes do fenomenal Forza Horizon redefinir este género da condução, mas bastante vazio, muito dependente de encontrar outros jogadores online.
O terceiro jogo, com o subtítulo Motorfest, pretende exatamente ser um festival motorizado, sejam os modelos clássicos ou supercarros, motas e tal como nos jogos anteriores, barcos e aviões. Vale tudo neste novo sandbox que nos leva para a ilha de O’ahu no Havai, abraçando diversas modalidades motorizadas, desde as corridas, as sessões de drift, drag e uma das minhas favoritas: a introdução de uma espécie de Destruction Derby, aqui chamado de Demolition Royale, em formato de battle royale, com 32 jogadores numa arena aberta em escaramuças de destruição e muita chapa amolgada, não faltando os círculos a fechar e o lançamento de aviões.
Não joguei o segundo título, mas comparado com o primeiro, Motorfest apresenta muito conteúdo para explorar, mantendo o online como base, mesmo que apenas desejem completar os conteúdos a solo. O mapa está repleto de fantasmas de jogadores a explorar as estradas ou em corridas, sendo bastante fácil registar-se nas provas multijogador e encontrar adversários humanos. Compreendo este foco na obrigatoriedade em manter uma ligação online para jogar, uma vez que se trata de um jogo Live Service, uma vez que o próprio mapa serve de hub para facilmente entrar nas provas online, como o Demolition Royale, além das constantes atualizações de resultados e tempos registados. Além disso, parte da essência do jogo são os conteúdos em constante rotação, que oferecem sempre alguma coisa para os jogadores. Ainda assim, não faria mal ter uma componente offline para as provas a solo, para aqueles momentos em que queremos jogar e não temos uma conexão disponível.
As chamadas playlists vão deixar o jogador ocupado por muito tempo. Basicamente cada playlist é dedicada a um tema, um estilo de automóvel ou a uma região, sejam as corridas todo-o-terreno com jipes americanos, os clássicos, os muscles cars ou as corridas japonesas de drift, em cenários cheios de néons e LEDs. Há provas de checkpoints com aviões e ainda de lanchas no mar, abrindo espaço a uma variedade impressionante. E ainda há diversos desafios associados, sejam pontos para captar fotografias, radares de velocidade ou tesouros escondidos, incentivando à exploração do gigantesco mapa.
A Ubisoft parece ter acertado na fórmula, ainda que bastante inspirado em Forza Horizon, sendo divertido, frenético e cheio de adrenalina. E a jogabilidade é bastante boa, oferecendo uma experiência arcade de topo. Os drifts são fáceis de dominar e o jogo oferece uma boa sensação de velocidade. E não existem entraves, todos os veículos desbloqueados estão acessíveis de imediato, sem a necessidade de passar na garagem, podem alternar entre um carro ou avião para chegar mais rapidamente ao destino. Os fast travel estão disponíveis na base de cada uma das 15 playlists e completar os desafios abrem mais pontos.
Os mais de 600 veículos propostos podem ser desbloqueados através das playlists vencidas, os desafios propostos, mas também adquiridos nos stands. Certas provas requerem uma determinada marca ou género de veículo que devem comprar através dos créditos amealhados nas vitórias ou tesouros encontrados. Mas a maioria são veículos emprestados para as corridas da Playlist. Sente-se em muitas ocasiões que os veículos desbloqueados são sobretudo utilizados para explorar a ilha do que na participação das provas. Mesmo as peças de melhorias dos veículos não têm grande impacto nas provas das playlists, uma vez que apenas utilizamos aqueles que nos são apresentados para a prova. Por um lado obriga os jogadores a experimentarem muitos veículos que provavelmente nunca seriam selecionados, por outro, corta a liberdade dos jogadores escolherem o que desejam conduzir. Obviamente que a Ubisoft tem um plano para isso. Depois de acabarem a Playlist podem então repetir a mesma, agora utilizando os veículos que desejarem, com incentivo de amealhar recompensas exclusivas.
A Ubisoft tem ainda desafios temporários que podem participar, mantendo assim a sua oferta de conteúdos dinâmicos, sempre em rotação, paralelamente às playlists e outras provas no mapa. Maior diversidade nas provas online, permitindo participar em corridas de 28 jogadores e o Custom Show permite aos jogadores criar as suas próprias regras das provas. Como o nome do jogo indica é possível criar uma Crew de quatro jogadores para participar juntos nas provas online.
Ao completar três Playlists desbloqueia o acesso ao Main Stage, um evento temático sempre em transformação, com diversas provas a solo e conteúdos multijogador, que dá acesso a recompensas e upgrades exclusivos para os automóveis. Este é mais um exemplo do dinamismo dos conteúdos, numa preocupação da Ubisoft em manter o jogo constantemente atualizado para manter os jogadores agarrados a longo termo no seu Live Service. E claro, existem veículos e elementos cosméticos que apenas podem ser adquiridos com moeda real, sendo as microtransações parte deste formato de jogos.
Com um grande foco na acessibilidade de todos os jogadores, vão encontrar dificuldades adaptadas à experiência de cada um. O jogo deteta a facilidade com que ganham as provas e propõe elevar a dificuldade. Mas felizmente os controlos são refinados em qualquer classe, seja a derrapar no drift nas montanhas encurvadas, no asfalto ou terrenos arenosos ou a bordo de um modelo de Fórmula 1. Não terão dificuldade em se adaptar a cada formato arcade do jogo. E se algo correr mal, o estúdio apresenta a popular mecânica de “rebobinar” até 15 segundos, permitindo corrigir uma curva mais perigosa ou um acidente aparatoso. Obviamente que existem recompensas melhores para os jogadores que optarem por desligar as ajudas nas provas.
De destacar que a ilha do Havai que serve de palco às corridas é agora mais compacta que os anteriores mapas da série. Ainda me recordo da Ubisoft vender os anteriores jogos referindo ser necessário cerca de 60 minutos para conduzir de uma ponta à outra do cenário. O novo título demoram menos de 15 minutos. O objetivo foi oferecer um cenário mais detalhado e cheio de pormenores para visitar, praticamente tudo é destrutível no cenário. Anteriormente tínhamos mais áreas vazias, com edifícios gerados processualmente, que lhe conferiam visuais pouco coerentes. Mas este novo título apresenta paisagens variadas, de suster a respiração, incluindo florestas, ambientes costeiros e na praia. E apresenta mudanças meteorológicas, incluindo a chuva que causa excelentes reflexos no asfalto.
The Crew: Motorfest é um jogo bem divertido, com muito conteúdo para explorar, ainda que possa ser um pouco confuso inicialmente a forma como este está disposto. Mas há muitos automóveis para desbloquear, uma ilha lindíssima para explorar e no geral é divertido tanto participar em corridas, como nas sessões de drift. Um dos meus momentos favoritos foi deixar o asfalto para trás e partir para as escaramuças tipo Destruction Derby em formato Battle Royale. É um jogo com live services e espera-se que a Ubisoft continue a introduzir novos conteúdos. Até porque já se sabe que o jogo teve um lançamento bastante positivo, com a melhor adesão ao Season Pass desde o primeiro capítulo e mais unidades vendidas para a primeira semana.