Na cena indie, o que não faltam são videojogos que mesclam uma multiplicidade de elementos de outros géneros. Normalmente, quando se diz que um jogo é de ação e aventura não se está a caracterizar bem a obra que se pretende definir. Nos dias que correm, é raro não vermos um jogo de ação que não tenha algumas particularidades de jogos RPG, como é o caso claro dos atiradores na primeira pessoa – uma moda que começou, talvez, com a obra-prima de Ken Levine, BioShock. Tal como os RPG, as aventuras também estão em todo o lado, até em jogos de quebra-cabeças encontramos excelentes aventuras – se nunca jogaram a série Professor Layton, recomendo que o façam. São inovações e metamorfoses que fazem sentido, já que as produtoras têm à sua disponibilidade sistemas de mecânicas cada vez mais complexos. Contudo, paradoxalmente, que tem verbas suficientes e tempo disponível para investir nas tecnologias para incorporar estas complexidades não as usa. Preferem manter-se na segurança comercial do tradicionalismo. Ainda bem que há um mercado indie tão vibrante que arrisca em novas formas de inovar.

Thirsty Suitors

Outerloop Games – Estados Unidos da América

2 de Novembro de 2023 – PC, PlayStation, Xbox, Switch

Na Outerloop Games, liderada por Chandana Ekanayake, o que não falta são colaboradores de mãos calejadas pela criação de videojogos. Uma boa parte da equipa transitou da Uber Entertainment e, até agora, já lançaram Falcon Age, um jogo feito a pensar nos dispositivos de realidade virtual. O que me despertou mais a curiosidade, no entanto, é que esta produtora norte-americana, com talento espalhado pelo mundo inteiro, identifica-se como uma produtora que se preocupa em introduzir temas e cultura com uma forte sub-representação neste meio. Thirsty Suitors parece que será uma obra que encaixa perfeitamente nesta afirmação, dado que não faltarão temas tabus que serão abordados.

O que mais me fascina neste conceito é que Thirsty Suitors parece moldar o jogo para o reino dos visual novel, mas esta é uma obra narrativa, uma aventura com vários elementos de diferentes géneros. Thirsty Suitors é um RPG com combates por turnos, onde vão ter de enfrentar os vossos ex-namorados ou ex-namoradas. O trabalho da Outerloop Games também é um jogo de desporto radical, porque haverá oportunidades em que poderão andar de skate que nem um autêntico Tony Hawk. É conhecido e sabido que a melhor forma de chegar às emoções de alguém é através do estômago, portanto, este título independente também terá mecânicas que vos vão permitir cozinhar deliciosos pratos para assim estarem um passo mais próximo de uma reconciliação. Já não falta muito para terem acesso a este muito curioso jogo, já que ficará disponível no início do próximo mês para as principais plataformas do mercado.

30 Birds

RAM RAM Games, Business Goose Studios – Bélgica

2024 – PC

O que começou por ser uma experiência para uma exposição de arte contemporânea, evoluiu para o que é hoje 30 Birds. O objetivo inicial era fazer com que os visitantes da exposição tivessem uma experiência diferente com a arte persa, pois ser-lhes-ia dado uma comando de consola para verem pinturas em miniatura que estavam colocadas num paralelepípedo, ou seja as obras podiam-se definir pela sua tridimensionalidade. No fundo, a experiência consistia num cruzamento entre um epidiascópio (projetor) e um kamishibai (teatro de rua japonês feito em papel). Assim, a RAM RAM e a Business Goose, produtoras belgas, prometem um jogo visualmente único com influências da arte persa e da literatura turca.

30 Birds é um jogo de aventura como nunca viram, mistura várias perspetivas, num mundo colorido e cheio de vida. Durante a aventura vamos poder resolver muitos minijogos ou quebra-cabeças associados à música e à atividade artística que é desenhar. Não tenho mais nada a dizer sobre as mecânicas do jogo, mas devia ter, porque é com bases nas mecânicas de um videojogo que faço as minhas escolhas para esta rubrica. Porém, não posso deixar de mencionar, novamente, a belíssima arte de 30 Birds, à qual fiquei completamente rendido.

Oddventure

Infamous Rabbit – Polónia

Data de lançamento não definida – PC, Switch

Quando faço a minha investigação para trazer jogos para O Albergue dos Silêncios, tento procurar sempre o quê que a obra traz de único, um detalhe que não se encontra em mais lado nenhum que poderá ser interessante explorar. Como, para a décima-sétima edição desta rubrica, decidi procurar jogos de aventura diferentes do habitual, cruzei-me com Oddventure e adorei a forma como a definiram na campanha de financiamento no Kickstarter. “Imaginem que Nietzsche teve um filho com Alice no País das Maravilhas e que o seu filho foi criado pelos contos de fada dos irmãos Grimm e por EarthBound. Oddventure é isto.”, descreveu a produtora polaca na página da campanha do Kickstarter, que terminou com um financiamento de duzentos porcento.

Oddventure tem um sistema de batalhas por turnos ao estilo de Pokémon, mas claro há algumas peculiaridades. O primeiro sinal de que este será um jogo único na sua abordagem é o próprio nome do sistema de combate “Mood Battle System”. Aí parei e pensei: “Isto pode muito bem apresentar um sistema similar ao de Undertale”. Logo no primeiro gif apresentado, na página da campanha de angariação pública de fundos, vemos a personagem principal a “lutar” com um anão vestido de gnomo de jardim e vence-o após proferir um insulto, com recurso a palavras obscenas. Portanto, já estamos a ver que a loucura vai reinar neste mundo de contos de fadas com excêntricas personagens que nos vão, muito provavelmente, fazer rir e divertir com as suas personalidades cómicas.