A sociedade ou até o próprio mercado obriga-nos a que fiquemos encaixados numa definição ou categoria, que nos seja colocado um rótulo identificativo. O problema dos rótulos é que excluem muitos detalhes ou informações sobre pessoas ou objetos. Os videojogos não estão alheios a este fenómeno e há, por vezes, uma necessidade vital (para o jogo ser vendido ou, até antes, gerar interesse por quem joga) de serem rotulados com etiquetas dos seus géneros, como “metroidvania”, “fps”, ou “ação e aventura”. Contudo, há jogos que vão contra a corrente e rejeitam rótulos desde o momento que a ideia para o videojogo foi concebida. Como classificar Proteus? Um jogo musical? Talvez, mas não tem nenhum ritmo ao qual temos de obedecer, não tem puzzles, nem uma narrativa explícita. Um exemplo mais fácil: tentem categorizar The Stanley Parable. É um jogo de comédia, fácil. Mas há quem precise de saber como é que essa comédia é entregue, através de que mecanismos é que esta chega até nós. Então vamos qualificar uma obra-prima como The Stanley Parable como um walking simulator? Para algumas pessoas isto é reduzir o jogo a uma mera mecânica, quando há muito mais em jogo. Os jogos que escolhi hoje, acho que caem neste vazio da categorização, ou então fui que quis escolher um trio de obras completamente ao acaso, porém sem deixar muito jogos interessantes para adicionar à vossa lista de desejos da Steam.
A Shiba Story
Foxdog Farms – Estados Unidos da América
Data de lançamento não definida – PC
Inspirado pela sua paixão em produzir arte tridimensional, Keane Ng decidiu fazer A Shiba Story, depois de ter concebido e lançado quatro projetos no itch.io para, possivelmente, treinar a sua arte e ficar mais familiarizado com os passos necessários para publicar um videojogo comercialmente. O tema é bastante original e único para se transformar em videojogo, porque é sobre a rotina diária de um pessoa cuidadora de um cão Shiba Inu.
A Shiba Story colocar-vos-á no papel de um pet sitter, ou mais concretamente de um dog sitter, que cuidará de Sunday, um cão da raça japonesa Shiba Inu, o animal de estimação do seu tio. Este não é um animal com comportamento fácil, terão de conquistá-lo até para fazer uma simples carícia no seu pelo. Quem joga terá de ser um bom observador do comportamento, linguagem corporal e atitudes de Sunday para facilitar a nossa relação com o canídeo. Este jogo parece ser um bom conceito, não será propriamente uma aventura, mas pode ser certamente classificado como uma jornada pessoal da relação com um cão em que tentamos obter o seu amor incondicional para que façamos jus ao ditado popular “o cão é o melhor amigo do Homem”.
CorpoNation: The Sorting Process
Canteen – Reino Unido
Data de lançamento não definida – PC
Gosto especialmente de saber qual é a filosofia de trabalho de uma equipa, ou que valores é que estão a tentar introduzir num jogo. CorpoNation: The Sorting Process é um jogo em produção pela Canteen, uma produtora sediada em Brighton, no Reino Unido, com apenas dois colaboradores. A abordagem desta produtora britânica é muito curiosa: fazem o seu melhor para “criar jogos que parecem narrativas curtas de ficção-científica”. O meu pensamento foi logo para autores como George Orwell, Isaac Asimov ou Philip K. Dick – o que é fascinante se a produtora conseguir o que pretende fazer.
Em CorpoNation: The Sorting Process nós seremos um trabalhador do Estado, que organizará misteriosas amostras genéticas e vocês terão de ser um funcionário exemplar nessa tarefa aparentemente simples. Esta obra indie tem aspeto de nos querer fazer voltar a um mundo distópico, tal como Papers, Please fez há uma década. Vamos poder trabalhar em tarefas mundanas, muito mecânicas para ganhar um salário decente e gastá-lo para, por exemplo, decorar o nosso quarto ou jogar online, tudo para que o dinheiro ganho volte à economia nacional. Estamos perante um conceito muito interessante que fará as delícias dos jogadores com saudades da obra de Lucas Pope.
Afterlove EP
Pikselnesia – Indonésia
3º trimestre de 2024 – PC, PlayStation, Xbox, Nintendo Switch
Mohammad Fahmi foi uma enorme perda para a indústria dos videojogos, após ter falecido no ano passado, com apenas trinta e dois anos. Assim, a Pikselnesia e a Fellow Traveler uniram esforços para levar a bom porto a obra póstuma de Fahmi, Afterlove EP, com colaboradores, por todo o mundo, que trabalharam em reconhecidas obras como A Space for the Unbound, What Comes After e Hello Goodboy. Fica na dúvida, já que a arte de Fahmi estava em narrative design e tudo o que tenha a ver com escrita de argumentos, se Afterlove EP terá uma narrativa igualmente genial como Coffee Talk – obra que levou o seu autor a ser mundialmente reconhecido.
Com elementos de visual novel, aventuras narrativas e jogos de ritmo, Afterlove EP misturará com todo o cuidado as características deste tipo de jogos, para nos entregar algo tão memorável como o trabalho de Fahmi. Este jogo leva-nos ao drama de um músico que perdeu a sua namorada e de todas as dificuldades que a morte acarreta. Não é possível que Rama, protagonista do jogo, viva para sempre em negação, terá de haver algo que o faça entender que há mais vida para além da relação que tinha com a sua namorada – a sua própria vida, que se está a desmoronar lentamente. Com uma premissa tão impressionante será, muito provavelmente, um dos jogos mais falados de 2024, pelo menos na esfera indie.