Os jogos point’n’click dos anos noventa são obras inspiradoras, é por isso que acho fenomenal o maravilhoso legado da LucasArts que a Phoenix Online Studios, produtora de Gabriel Knight, não se cansa de partilhar na rede social anteriormente conhecida como Twitter. Há narrativas de todo o tipo neste género de videojogos, desde terror inspirado nas obras literárias de H.P. Lovecraft, aventuras dignas de serem sucessoras do famoso Indiana Jones, ficção-científica nos confins do universo, ou até comédias que, a meu ver, resultam muito bem – ou não fosse o Rubber Chicken inspirado num dos melhores jogos desta categoria. Por vezes, este género falha, há puzzles que são de difícil leitura e, portanto, frustrantes de resolver; há quem não tenha o lápis bem afiado na hora de escrever e cometa graves erros e lacunas na trama que está a desenvolver, o que torna o jogo aborrecido e desinteressante; o grafismo (não é por acaso que há quem chame os point’n’click de aventuras gráficas) pode não ser apelativo a quem joga e é um elemento tão importante deste tipo de jogos. Porém, sou da opinião que os videojogos devem ser celebrados pelas suas conquistas e não serem um simples saco de pancada para os pugilistas das redes sociais. Assim, deixo-vos com três títulos que serão, certamente, do vosso interesse e, por isso, bons candidatos a um espaço na vossa lista de desejos da Steam.
Enoch: Children of Fate
Evil Pug Games – Bélgica
Data de lançamento não definida – PC
Tentar perceber quem está por detrás do imersivo universo de Enoch: Children of Fate é difícil, tive que mergulhar numa imensidão de publicações na rede social de Elon Musk, na esperança do produtor usar a conta do jogo como um diário pessoal e instrumento de marketing para promover o seu trabalho. Este produtor, que gosta de fotografar o seu cão, daí ter dado, provavelmente, o nome de Evil Pug Games à sua produtora de Enoch: Children of Fate, infelizmente não conseguiu financiamento que desejava através de verbas cedidas pelo governo belga, quando concorreu para ter acesso a uma pequena ajuda financeira, em 2022. Contudo, este produtor ainda hoje trabalha arduamente no point’n’click que se propôs a fazer. Como é compreensível, ser-se produtor de videojogos a tempo inteiro é um luxo que quem começa pode não ter. O produtor desta aventura gráfica é web & mobile developer para empresas de jogos de tabuleiro e de escape rooms que, no seu tempo livre, vai desenvolvendo esta aventura gráfica.
Em Enoch: Children of Fate, estamos no ano de 2279 (foi necessário avançar no tempo dado que, segundo o produtor, a tecnologia não avança tão rapidamente como pensava) e a Estação Espacial Enoch torna-se o cenário para um enigma intrigante – um assassinato de um líder de um gangue. Com seis personagens distintas, cada um com suas próprias batalhas pessoais e histórias que se entrelaçam umas às outras, este jogo de apontar e clicar promete uma jornada não linear e emocionante. Esta experiência já demonstra um bom trabalho no departamento do grafismo, com uma direção artística que utiliza a técnica clássica do pixel art, que, como se vê pelos trailers e pelas capturas de ecrã partilhadas na conta da rede social X, já apresenta um resultado deslumbrante. Ainda é especialmente curioso e bom poder saber que a narrativa estará longe dos convencionalismos do género.
The Night is Grey
Whalestork Interactive – Portugal
5 de Janeiro de 2024 – PC
Pela primeira vez, vou colocar aqui um jogo português, não é por ser do nosso país à beira-mar plantado, apenas por tê-lo achado muito interessante dentro da categoria que estava a pesquisar. Sinceramente, acho que não há interesse nenhum em procurar videojogos por países – pelo menos para esta rubrica. Deparei-me com The Night is Grey por mero acaso, novamente, na rede social X, dado que tenho o meu algoritmo bem oleado e afinado para encontrar jogos indie. Na minha busca para perceber qual a filosofia laboral de quem cria videojogos, fiquei curioso em saber que esta produtora nacional está “focada em storytelling e na reinvenção de formatos em videojogos”.
The Night is Grey parece-me ser um jogo perfeito para O Albergue dos Silêncios. O labor da Whalestork trará o suspense cinematográfico às aventuras gráficas de apontar e clicar. A narrativa, apesar de ter um tom de terror, é muito interessante, porque já vemos a forma como as diferentes personagens se relacionam. Haverá vários puzzles que, felizmente, não se centram no penoso pixel hunting de outrora. Francamente, mal posso esperar que chegue dia 5 de janeiro do próximo ano.
Foolish Mortals
Inklingwood Studios – Reino Unido
2024 – PC, iOS, Android, Switch
Foolish Mortals é mais um jogo financiado através do Kicksarter, que conseguiu angariar quase cinquenta mil libras há, sensivelmente, um ano. E é precisamente nas campanhas de angariação de fundos que encontro as informações mais curiosas, afinal é por aí que os criadores querem convencer os jogadores a investir numa ideia a materializar-se em videojogos. Segundo o que afirmam na campanha (não me lembro de ter lido algo semelhante, mas acredito que seja verdade) Ron Gilbert disse numa ocasião que “Monkey Island era como andar no divertimento Pirates of the Caribbean na Disneyland, mas onde se podia sair do barco e explorar”. Foolish Mortals, tem um conceito muito semelhante, mas em vez do divertimento ser Pirates of the Caribbean é Haunted Mansion. Sinceramente, parece-me fascinante perceber onde é que estes produtores vão buscar as suas ideias e alteram-nas para fazer algo seu, original e único.
Assim, Foolish Mortals, que não é só inspirado em Monkey Island mas também no eterno clássico europeu Broken Sword, contará com um bom punhado de interessantes mecânicas e funcionalidades – para além de ser muito bonito (os jogos são como a comida, também temos de comer com os olhos). David Younger, responsável por este projeto, irá garantir que os puzzles de Foolish Mortals não tenham becos sem saída ou mortes de personagens que impeçam chegar à resolução do problema. Neste momento a produtora britânica está a a reunir os seus esforços para que questões técnicas, igualmente importantes como as mecânicas, sejam bem afinadas. Portanto, a animação, a arte do jogo desenhada à mão e a vocalização do jogo esteja toda gravada e no ponto que desejam almejar. E se esse ponto for entregar uma experiência semelhante às suas inspirações, nos diversos elementos do jogo, então acredito que, em 2024, estaremos bem servidos com Foolish Mortals.