Recuperar um universo cinematográfico famoso, mas que já teve os melhores dias: o novo jogo baseado em Robocop parecia ser uma daquelas adaptações para capitalizar à conta dos jogadores old school mais saudosistas. O que não esperaríamos é que o estúdio Teyon colocasse tanto carinho em Rogue City, respeitando os fãs nesta experiência FPS repleta de referências e com qualidade. O estúdio polaco já havia produzido Terminator Resistance que foi bem-recebido pelos fãs.
Mal corremos Robocop: Rogue City somos transportados de imediato para os anos 1990, o ambiente cru e violento está bem patente, como vimos nos filmes. O jogo tem uma narrativa original, mas situa-se entre o segundo e terceiro filme, com o protagonista Alex Murphy novamente encarnado por Peter Weller. Apesar de ser o único ator original que dá a voz ao jogo, vamos ter outras personagens conhecidas presentes na nova aventura de ação, incluindo a parceira policial Anne Lewis, mas sem Nancy Allen e ainda o sargento Warren Reed com o rosto de Robert DoQui. Mesmo que não estejamos à espera de ver performances dignas de Oscar, é sempre bom ver caras conhecidas.
O jogo oferece diversas referências diretas ao filme, seja a forma como o Robocop se mexe, lentamente, mas firme. O ambiente cinzento da violenta cidade de Detroit, o domínio da mega corporação OCP. E se ouvires coisas como “hold on your weapon you got 20 seconds to comply”, olha para o lado, porque vai estar um temível ED-209 e claro, o enredo do jogo vai obrigar a enfrentá-lo como boss.
Como seria de esperar, o jogo apresenta-se como um FPS puro e duro. Eu esperava uma experiência linear e direta, colocando Robocop numa série de níveis, matando tudo primeiro e perguntando depois. Mas enganei-me nas expectativas que tinha do jogo, tendo este conseguido superar facilmente. O estúdio procurou extrair um pouco mais daquilo que significa um elemento policial em forma de robot, com vestígios humanos. E isso traduziu-se na presença de uma Detroit semi-aberta para explorar, com atividades paralelas que podem ou não ser finalizadas, com a recompensa de experiência da personagem.
De facto, Rogue City tem elementos de RPG ligeiros, sendo possível melhorar algumas habilidades ativas e passivas. Por um lado ter mais energia e capacidade de fogo, mas também melhor performance de dedução nas investigações ou força para abrir cofres, por exemplo. É possível criar um escudo de energia protetor, assim como ativar flashes que atordoam os inimigos. São melhorias que convidam a revisitar certos locais para aceder a algo limitado inicialmente pela falta de atributos relacionados. Certos cenários requerem que usemos a visão especial de Murphy e seguir as pistas para encontrar os criminosos.
E as atividades pela cidade representam as três diretivas primárias de Robocop: “Servir a confiança pública, proteger os inocentes, fazer cumprir a lei”. E isso terá impacto na forma como a população reage à presença dos robots na polícia. Podemos multar pessoas e até carros mal estacionados, prender um jovem por ser apanhado em flagrante a pintar grafites nas paredes – que no contexto dos anos 1990 era obviamente proibido. E até temos a possibilidade de explorar a delegacia de Detroit, interagir com os polícias colegas ou mesmo fazer trabalho de balcão, atendendo as pessoas.
Mesmo a ação é bastante sólida, com disparos certeiros com a mítica Auto 9 na mão, mas também podemos utilizar as armas dos inimigos, como metralhadoras ou caçadeiras. Agarrar os criminosos e arremessá-los é outra possibilidade, assim como vários objetos que podem ser usados com armas improvisadas, como monitores ou contentores do lixo. As sequências de ação são intensas, mesmo que os inimigos não primam pela boa IA, regendo-se pelos números. E são altamente estereotipados para a época, sejam os punks arruaceiros, os motoqueiros, e assim adiante. Certos momentos de breach a imagem fica em câmara lenta, sobretudo em locais com reféns, desafiando a eliminar todos rapidamente.
Recorrendo ao motor Unreal, o estúdio fez um bom trabalho no campo gráfico. As partículas de chuva dos ambientes negros noturnos da cidade, os reflexos das poças de água na estrada refletem bem um estilo muito próprio dos filmes. Embora depois tenhamos cenários mais banalizados, como fábricas e armazéns para percorrer. A violência dos desmembramentos presentes nos filmes foram igualmente aqui representados.
Murphy pode falar com os habitantes ou colegas policiais, alguns deles dão missões secundárias. Os diálogos são em forma de árvore e supostamente podem influenciar futuros acontecimentos, mas nada que se tenham de preocupar. Por vezes é mesmo possível resolver situações de conflito em conversa com outras personagens.
Robocop: Rogue City é uma boa viagem ao universo dos filmes, com capacidade de trazer boas memórias aos velhos fãs. Mas não se resume a isso. É um jogo AA, de valores de produção mais modestas que os grandes títulos lançados este ano, mas ainda assim é divertido e competente, mesmo com uma IA limitada. Pelo menos não se resume em pegar na arma e castigar todos os bandidos. Há alguma alma para explorar.