Para quem segue muitos podcasts sobre videojogos, Super Mario RPG já é uma conversa recorrente, frequentemente envolvendo alguma discussão entre ter sido desvalorizado ou efectivamente não ter sido um excelente jogo. O facto de não ter sido inicialmente lançado na Europa também leva a que tenha um estatuto ligeiramente místico, desenhado entre a bruma de alguém que já não se lembra bem de o ter jogado com outros que nunca o jogaram. Agora que o joguei, posso afirmar que entendo a discussão, embora não a subscreva.
Nunca joguei o jogo original. Por um lado, não sou fã de JRPGs, por outro era fã da SEGA, não da Nintendo durante a minha adolescência. Não tinha nem tenho o mínimo grau de saudosismo pelo jogo. Se não tivesse sido feito, não o pediria, porém mal vi o primeiro trailer percebi que gostaria imenso de jogar Super Mario RPG, e é fácil perceber porquê. A inabilidade da Switch correr jogos graficamente mais intensos faz com que o aprimoramento da sua imagem gráfica de marca seja completamente viciante para quem dela gosta, tornando praticamente todos os jogos apelativos para o consumidor. Creio que até um point n’click eu jogaria se fosse neste estilo gráfico…
E efectivamente é essencialmente essa a mudança deste remake. Um update gráfico para um estilo cartoon, isométrico em 3D, nada de diferente para um JRPG, mas a Nintendo criou mais um jogo lindíssimo com cores vibrantes e coloridas, tendo complementado isso com uma excelente trilha sonora completamente nova, ao mesmo tempo que não esqueceu os fãs originais, proporcionando também a opção de manter as músicas originais. Esta trilha sonora fica acessível após concluirmos o jogo.
Super Mario RPG começa da forma habitual. Bowser rapta a Princesa Peach e o Mario vai salvá-la. Felizmente isto é meramente o prólogo daquilo que se acabará por revelar um enredo simplista para um RPG, mas muitíssimo mais complexo que o habitual para um jogo de Mario, com histórias paralelas e um humor que varia entre o ingénuo e o insinuante, tendo-me mostrando pela primeira vez interacções relacionais entre a Princesa e Mario, que tenho alguma pena que não tenham sido exploradas, mas seguramente que é essa a intenção. Aliás, todas as historietas que que vão desenrolando são ligeirinhas, e o próprio jogo não leva mais de 15h a concluir, tornando-se curto para o género, e até eu fiquei com alguma pena que algumas das partes não tenham sido exploradas, até porque mesmo as personagens acessórias são interessantes.
Hoje em dia Super Mario RPG não parece oferecer nada de diferente dentro do género. Após avançarmos na história chegamos ao ponto de ter uma party de 5 elementos, mas apenas usamos 3 a cada momento, com Mario a ser forçosamente um deles. As mecânicas são as habituais de qualquer JRPG com combate por turnos, e sendo que acabei de vir de Sea of Stars, parecem mais simplificadas. Temos um ataque físico padrão, um ataque mágico com o mana aqui a ser representado por flores, podemos usar um item, usualmente para dar vida ou retirar algum dos efeitos de um elemento da party, ou podemos fugir ou defender. Podemos temporizar o uso da tecla “A” que se usado no momento exacto permite ataques mais fortes, o bloqueio do ataque inimigo e a acumulação de pontos que a certa altura permitem o uso de um ataque usado conjuntamente pelos elementos da party que permite um ataque muito mais forte. Consoante misturarmos os elementos em jogo o ataque será diferente, e nem todos são ofensivos, também os há defensivos. Algo que já me pareceu estranho foi não existir nenhuma vantagem evidente pela forma como abordamos os inimigos no mundo, isto é, mesmo que saltemos em cima deles no mundo, não lhes retiramos qualquer vida em batalha. De tempos a tempos aparece um mini-jogo que nos possibilita a duplicação da experiência ou moedas ganhas em batalha, que compensa bastante ser jogado.
O dinheiro que ganhamos ou encontramos ao jogar, e há dois tipos de moeda, pode ser usado para comprar itens, armas ou equipamento nas habituais lojas. Também podemos pagar para descansar e recuperar toda a vida da nossa equipa, bastando para isso encontrar os hotéis nos vilarejos.
Não imaginam a minha felicidade ao perceber que finalmente tenho um filho que gosta dos mesmos jogos que eu. A minha mais nova, mesmo sem saber ler, adorou as cores do jogo e aparentemente ficou enamorada por Mario. Foi jogando sempre comigo e depois já pediu para jogar o do elefante. Já lhe fiz a vontade e agora estamos a jogar Super Mario Bros. Wonder. Mais engraçado, a minha mulher nunca joga nenhum jogo e já a apanhei a jogar com a minha filha quando ando a fazer outras coisas. Se isto não mostra que Super Mario RPG é um JRPG para toda a família, não sei o que mais é preciso.
Falei neste ponto porque jogar em família também me obrigou muitas vezes a baixar a dificuldade do jogo, e se todos os minions são geralmente fáceis de derrotar, na dificuldade normal os bosses carecem de alguma estratégia. Os elementos da nossa equipa podem ser alterados a qualquer altura sem perda de prioridade, o que permite que se criem algumas sequencias de golpes ou magias mais úteis que outras. Na dificuldade mais baixa o jogo simplesmente não oferece desafio, e serve para isso mesmo, jogar com a família e apreciar a história.
Mesmo sem ter tido a percepção total daquilo que o jogo oferece, é claro que o jogo é muito simplista, e acredito que seja esse o motivo das constantes discussões acerca do seu real valor, discussão que neste momento entendo e, em parte, partilho, mesmo não subscrevendo. Os JRPGs e as batalhas por turnos estão novamente na moda, e o fã do género está habituado a dezenas e dezenas de horas de conteúdo, um batalhão de missões acessórias, uma pletora de opções de combate escondidos atrás de múltiplos menus explicativos e com um ror inimaginável de interacções. Se procuram isso, não o vão encontrar aqui. Super Mario RPG cinge-se a contar uma história, mantendo todas as características que tornam o género naquilo que é. Super Mario RPG é um JRPG, não há questão acerca disso, e gosto ainda mais dele porque se livrou de mais gorduras que o Dr. Tallon, tornando-o muito mais palatável para quem não tem 100 horas para investir num jogo deste género.