Os bons sítios para se procurar jogos independentes, que serão lançados durante este ano ou no próximo, são nos próprios sites dos diferentes motores que dão vida a esses jogos. Anualmente, são eleitos os melhores títulos do ano, assim como, numa categoria específica, os mais esperados do ano seguinte. Provavelmente, o motor de jogo mais popular entre a comunidade de produtores independentes ainda é o Unity, apesar das polémicas criadas pelos próprios executivos em torno do licenciamento do game engine, que prejudicariam milhares de produtores caso não tivessem voltado com a palavra atrás. Muitos destes profissionais, que seriam gravemente afetados por estas decisões irrefletidas, boicotaram o motor de jogo e transitaram para outros, como é o exemplo notável do Godot Engine. Hoje venho-vos falar de outro motor, um bem mais antigo e com um historial impressionante em jogos point’n’click. O GameMaker já foi usado para fazer excelentes jogos bidimensionais, como por exemplo, Nuclear Throne, Chicory: A Colorful Tale e Katana Zero. Por cá, o GameMaker foi utilizado pela Nerd Monkeys para criar Inspector Zé e Robot Palhaço em Crime no Hotel Lisboa. Portanto, depois de afastar as cortinas e espreitar que obras é que estão a ser feitas na ferramenta da YoYo Games fiquei impressionado com o que vi e decidi trazê-las cá. Ora vejam.

CONSCRIPT

Jordan Mochi, Catchweight Studio – Austrália

Data de lançamento não definida – PC

Na cidade vibrante de Melbourne, Austrália, o produtor solitário Jordan Mochi empreende uma jornada ambiciosa com o seu próximo projeto: CONSCRIPT. Este australiano aproveitou o que a internet tem para lhe dar e começou a fazer o seu jogo como autodidata. Mochi embarcou nesta empreitada em 2017, enquanto ainda estava a tirar o curso de História na Universidade de Melbourne. O seu primeiro projeto comercial, inicialmente concebido para aprender os fundamentos da programação e desenvolvimento de jogos, evoluiu ao longo dos anos para o que é hoje. Mochi, motivado pela sua paixão pelos videojogos de terror de sobrevivência desde a sua juventude e pelo seu interesse académico na Primeira Guerra Mundial, criou CONSCRIPT como uma ode a este período histórico muitas vezes negligenciado nos videojogos.

No entanto, a questão que se coloca é: pode um projeto alimentado pela paixão pessoal e aprendido a ser feito sozinho rivalizar com as produções mais consolidadas da indústria de videojogos? A experiência singular de Mochi, enquanto admirável, levanta interrogações sobre a qualidade e profundidade do jogo, especialmente dado o contexto de um desenvolvimento completamente individual. Num mercado saturado e competitivo, a capacidade de CONSCRIPT se destacar e oferecer uma experiência de jogo envolvente permanece uma incógnita. Resta-nos esperar para ver se esta viagem autodidata pela história e horror de sobrevivência realmente consegue traduzir-se numa experiência de jogo notável.

Beastieball

Wishes Ultd. – Canadá

2024 – PC

Num mercado de videojogos saturado, surge uma proposta inusitada: treinar uma equipa de criaturas em Beastieball, um RPG de voleibol por turnos. Apesar da premissa aparentemente peculiar, o conceito de fortalecer o trabalho em equipa com base nas relações entre as Beasties (pequeno monstros que fazem-nos lembrar os Pokémon) promete adicionar uma camada intrigante ao jogo. A possibilidade de formar ligações que variam de melhores amigos a rivais ou até mesmo namorados, cada uma desbloqueando um movimento conjunto único, oferece uma dinâmica interessante e inexplorada (ou pouco utilizada) no reino dos RPGs.

Entretanto, a dúvida persiste: será que a jogabilidade estratégica em encontros baseados em turnos numa grelha táctica reduzida será suficiente para manter o interesse dos jogadores? A mecânica de antecipar e reagir aos ataques do adversário durante o jogo de voleibol parece promissora, mas a verdadeira questão reside na profundidade da experiência e na sua capacidade de manter os jogadores envolvidos para além da novidade inicial. À medida que enfrentamos bosses em qualquer ordem num mundo aberto, surge a incerteza se a fórmula única de Beastieball será suficiente para garantir um lugar distinto no competitivo reino dos videojogos. A narrativa envolvente, repleta de amigos, rivais e um enigmático Rei do Desporto com ambições grandiosas, deixa uma ponta de curiosidade sobre como esta história se desenrolará num contexto desportivo tão peculiar.

Turnip Boy Robs a Bank

Snoozy Kazoo – Estados Unidos da América

18 de Janeiro de 2024 – PC,  Nintendo Switch, Xbox

Numa reviravolta inusitada, Turnip Boy, o protagonista de uma comédia de ação-aventura com elementos roguelike, está de volta para perpetrar mais pequenos delitos. Desta vez, ele forma uma aliança inesperada com a temível Pickled Gang para engendrar e executar o assalto mais bizarro de todos os tempos no Botanical Bank. A proposta de se envolver em assaltos, explorar os recantos sombrios da história do banco, bem como adquirir ferramentas peculiares na dark web, incluindo um picareta de diamante, C4, e… uma caixa de papelão, deixa-nos intrigados sobre como esta proposta bizarra pode cativar os jogadores. A mim Turnip Boy Robs a Bank cativou-me pelo simples facto de ser bizarro.

Contudo, a interrogação persiste: o que torna este jogo mais do que uma simples comédia de ação? A promessa de elementos roguelike sugere uma experiência dinâmica e desafiante, mas será suficiente para elevar a narrativa para além de uma mera série de eventos cómicos? A mistura de saques a bancos, exploração da dark web, e confrontos intensos com guardas de segurança e equipas de intervenção sugere uma mistura de emoções, mas é a interação com os excêntricos personagens baseados em alimentos e a descoberta da história subjacente ao mundo de Turnip Boy que potencialmente dará substância à proposta. Resta saber se esta salada peculiar de elementos em Turnip Boy Robs a Bank conseguirá ser mais do que a soma das suas partes e oferecer uma experiência verdadeiramente envolvente para os jogadores mais céticos.