Caçada Semanal #317
Fez ontem exactamente 1 ano que a última caçada semanal foi publicada impelindo-me quase a chamar a esta sub-rubrica de “Caçada Anual”. Este 1 ano e 1 dia entre Caçadas demonstra bem a perda de fulgor de escrita que todos sofremos aqui na casa. Aliás, parece-me que esta falta de energia aqui no Galinheiro é até sintoma de algo mais proliferado, e que se tem infelizmente percebido com o encerramento de outros sites de jogos.
Mas regressamos às Caçadas, desta feita para falar de dois géneros que têm sido sobejamente explorados por criadores indie, roguelikes e deckbuilders, em alguns casos com os 2 géneros em simultâneo.
Cross Blitz [PC]
Apesar de estar em Early Access, Cross Blitz, um jogo publicado pela Arcade Crew e desenvolvido pelos Tako Boy Studios, rapidamente nos capta a atenção. Com uma pixel art detalhada e colorida, o primeiro impacto neste jogo mostra-nos uma tripulação de piratas encabeçada por um leão antropomórfico. Numa fase em que One Piece tem conquistado tanto público, acredito ser a altura certa para trazer piratas de volta para a ribalta.
Cross Blitz é um deckbuilder com elementos de roguelike, com 2 modos disponíveis neste momento. O primeiro é um modo de desafio roguelite intitulado Tusk Tales, onde exploramos uma ilha proceduralmente gerada, e onde o desafio é sempre diferente, onde escolhemos mercenários e tentamos chegar o mais longe da exploração, antes de perdemos.
O segundo é um modo de história, sendo que neste momento estão 2 das 6 previstas prontas para serem jogadas, e onde viajamos por hexágonos e interagimos com personagens numa abordagem mais RPG. Aqui o desafio é distinto, visto que cada inimigo é uma espécie de puzzle em sim mesmo, com habilidades únicas que nos obrigam a repensar o nosso barulho e a adaptá-lo para aquela luta específica.
Mecanicamente vai beber a influência de muitos colossos dos jogos de carta, em especial a Hearthstone, de quem mimetiza a barreira de mana crescente por turno, que nos leva a jogar cartas progressivamente mais fortes.
Cross Blitz é um jogo exclusivamente single player que já nesta fase alpha revela ser bastante promissor para fãs de deckbuilders e também de roguelikes.
Racine [PC]
Com uma descrição tão longa quanto Autobattler Strategy Roguelike Deckbuilder, Racine, publicado pelA Goblinz Publishing e desenvolvido pelo Goblinz Studio e pelos Dark Root Gardeners, é um estranho caso de um jogo do qual eu queria gostar mais do que gosto.
Racine conta com uma direcção de arte minimalista onde a reduzida paleta de cores e escala das figuras em pixel art, representadas sobretudo com formas e manchas, ajudam a conceder-lhe uma aura sombria que ajuda a vender o mundo corrompido de Racine.
Sendo um autobattler, por razões óbvias do próprio género não temos a capacidade de controlar os ataques do nosso protagonista, e a nossa agência para alterar o curso da batalha resume-se à utilização de cartas. Estas cartas funcionam em 2 campos: como elementos incrementais, escalando as estatísticas do nosso heróis para a run onde estamos, e também de forma mais activa, fazendo parry aos ataques dos adversários.
Quantos mais combates e mais longe vamos, mais aumenta a corrupção, o que impacta também as estatísticas dos adversários, tentando manter um desafio crescente e progressivo.
Cada run vai-nos permitir desbloquear cartas mais poderosas e dessa forma aumentar as nossas hipóteses de chegarmos mais longe no desafio. O grande problema que sinto agora é que após algumas runs sentimos a superficialidade que Racine, na realidade, tem.
Da falta de sinergia das cartas que vamos obtendo, à repetitividade dos inimigos que quase se limitam apenas a atacar, há pouca profundidade estratégica em Racine, o que se percebe até pela excessiva simplicidade das cartas que vão compondo os nossos baralhos.
Para os fãs de deckbuilders existe a consciência de que é a qualidade e criatividade das cartas e a forma como as suas interacções abrem possibilidades de profundidade de jogadas. O que infelizmente não é o que vemos em Racine.