Eu sou facilmente enganado pelos jogos da Nintendo e já abordei a razão para isso. No processo de optimização de jogos para a Switch encontraram uma palete gráfica que resulta tão bem que qualquer jogo parece candidato a jogo do ano quando visto num trailer. Detective Pikachu Returns é um desses jogos, mas neste caso nota-se que está uns bons furos abaixo do habitual para os exclusivos da marca.

Algo em que a Nintendo sempre foi mestre foi na programação de lançamentos para a sua plataforma, daí me ter parecido um pouco estranho o empacotamento de Detective Pikachu Returns no meio de jogos como Pikmin 4, Super Mario Bros. Wonder, Super Mario RPG, mas especialmente tão perto de um jogo tão aguardado como Master Detective Archives: Rain Code. Esta falta de espaço para respirar e a proximidade a um jogo marcadamente mais complexo do mesmo género deixou este remetido para um terceiro plano que, de certa forma, até merece, quando lhe poderiam ter dado algum espaço para assumir mais algum protagonismo que se espera para o nome.

Quando a franquia foi lançada no cinema ninguém esperava que o filme tivesse tanto sucesso e seguramente isso trouxe fãs, mas acredito que muitos poderão nem se ter apercebido deste lançamento. A verdade é que jogadores informados e que seguem o mercado são uma minoria, a maioria compra o jogo quando o vê num escaparate, e mesmo nesse ponto tenho visto o jogo relegado para segundo plano. A nível de publicidade Pikmin 4 e Super Mario Bros. Wonder tiveram bastante, sendo aliás esse o motivo pelo qual a minha filha pede recorrentemente para os jogar, mas nada com este. Claro que percebo essa escolha, ainda mais depois de jogar o jogo.

Detective Pikachu Returns sofre daquilo que sempre considerei o maior problema dos jogos de detectives, mas neste caso específico de forma muito mais notória. Como é que criamos um ambiente onde realmente se investigue, sem transformarmos o jogo num mero filme interactivo? Infelizmente este é um dos maiores exemplos em que o nosso papel na investigação é secundário e pouco motivador, já que todas as pistas são bastante óbvias, tanto que usualmente estamos sempre à frente da história na nossa cabeça.

Este problema levou a que tivesse alguma dificuldade em me motivar para jogar até finalmente entrar no espírito certo, e aí, tenho que admitir, o jogo torna-se mais divertido do que aquilo que esperava ao início. Apenas tive que pensar que estava a jogar a sequela de um filme, e a apreciar a história que até é moderadamente entretida, mesmo considerando que há muitos pontos do filme que invalidam que este jogo possa ser uma sequela directa, mas isso não é um problema meu.

Jogamos como Tim Goodman, um detective adolescente que consegue entender Pikachu, o seu parceiro nas investigações. Após o nosso papel no deslinde do caso anterior, granjeámos uma boa dose de fama em Ryme City e somos contratados para investigar um caso na cidade. É com a ramificação da investigação deste caso que a história se vai desenvolvendo e somos transportados por esta aventura.

Embora muito simples e durante imenso tempo bastante óbvia, a história decorre a bom ritmo, e as diversas situações para as quais somos atirados são credíveis e despertam curiosidade. É essa sequência que nos consegue manter interessados no jogo, já que todas as missões acessórias não passam de simples fetch quests, sendo a do quiz irritante que dói. Felizmente não temos que cumprir nenhuma dessas missões, mas percebendo que não era mais que enchimento de chouriços a Nintendo facilitou muito a forma como se resolvem, e acabei por fazer tudo o que o jogo ia oferecendo.

A parte da investigação não foge muito do que é habitual, por norma interagimos com o que podemos, sendo que em certos momentos podemos interagir com partes dentro da interacção principal e depois de não podermos interagir com mais nada temos que fazer uma dedução que é habitualmente óbvia. Mesmo que falhemos uma resposta não sofremos qualquer consequência disso, apenas temos que tentar novamente com as mesmas opções, sabendo que uma é a errada.

O que mais gostei no jogo foram os momentos em que contávamos com a ajuda de outros Pokémon, que com as suas habilidades nos proporcionavam momentos diferentes para resolver puzzles que, mais uma vez, mesmo não sendo difíceis davam outra dinâmica ao jogo. Mais uma vez não havia consequências ao falhar, apenas tínhamos que os recomeçar, o que retirava muita da urgência que algumas situações sugeriam.

Tentou-se jogar com a banda sonora do jogo para delimitar diferentes momentos no jogo, um deles esse momento em que a acção se tornava mais urgente, mas as músicas escolhidas nem sempre pareciam adequadas ao tom do jogo, o que aliado ao facto do jogo apenas ter voz numa pequena parte dos diálogos cria alguns momentos estranhos e deslocados, que embora não sejam novidade nestes jogos, não deixam de ser caricatos.

Acredito que este jogo esteja a tentar chegar aos fãs do filme, mas dada a incompatibilidade parcial das histórias não sei se irá ter sucesso entre eles, já que estes já perceberam pelo jogo anterior que não são arcos completamente sobreponíveis, e vão entrar neste jogo a saber muitíssimo mais que aquilo que deveriam para terem as surpresas que o jogo tenta proporcionar. Este esforço deixa-o num limbo curioso, porque parece não ser para ninguém. Demasiado simples para quem gosta de jogos de detectives, que provavelmente irá derivar para Master Detectives Archives: Rain Code que é mais completo e complexo, e demasiado diferente do filme para agradar a esses fãs.

Há valor intrínseco em Detective Pikachu Returns? Há, mas num ano tão forte para o portefólio Nintendo um jogo como este ainda sofre mais na comparação, parecendo uma sombra daquilo que poderia ser em qualquer outro momento. O mais curioso é que a certo ponto até percebi o que o jogo era e diverti-me com ele ao longo das cerca de 13 horas que levei a acabá-lo, sendo que perto do final até se torna entusiasmante, porém não sei se é o suficiente para justificar a sua compra fora de uma promoção. Eu não o faria.