Quem conhece o fascinante universo dos visual novel, sabe que é lá que as histórias ganham vida para além dos simples diálogos em texto, é aqui que vemos um grafismo muito anime através de desenhos com uma enorme expressividade e escolhas que têm um impacto notável na narrativa. Este género, originário do Japão, destaca-se pela narrativa envolvente e pela interatividade única, embora minimalista, permitindo aos jogadores moldarem o desenrolar dos diferentes enredos entrelaçados. Videojogos que elevaram este género com este estilo muito próprio incluem Danganronpa para os amantes de um bom mistério, Steins;Gate para os entusiastas da ficção-científica, e Phoenix Wright: Ace Attorney para quem procura dramas jurídicos cativantes mesmo que um tom bizarro. Assim, finalmente, consegui encontrar três títulos independentes em produção que entram nesta categoria dos visual novel. Portanto, preparem-se para mergulhar em experiências que transcendem o convencional, onde cada decisão é uma peça crucial no tabuleiro narrativo.
Venice After Dark
Weltenwandler Designagentur – Alemanha
1º trimestre de 2024 – PC
Em Venice After Dark, conhecemos a história de Aiko, uma engenheira Informática japonesa à procura de dar significado à sua vida num momento de cansaço emocional. Acompanhada pela sua criação peculiar, a Inteligência Artificial Thea, ela desloca-se até Veneza, apenas para deparar-se com um segredo sombrio relacionado com o antigo dono do hotel e um moinho assombrado. Enquanto Aiko desvenda o mistério, pesadelos aterrorizantes desafiam a fronteira entre realidade e fantasia, levando os jogadores a explorar a cidade sob uma nova perspetiva, enfrentando desafios intrigantes, ilusões sensoriais e reviravoltas imprevisíveis.
Venice After Dark proporciona uma experiência única própria de um visual novel com as características tradicionais de um point’n’click, com cenas artísticas e animações envolventes. Com mecânicas de jogabilidade sensorial baseada em experiências científicas reais, os jogadores terão pela frente puzzles de lógica para resolver, desde piratear elevadores até radiografar locais secretos. Com uma narrativa fascinante que mistura factos e ficção, e três finais diferentes baseados nas decisões do jogador, este jogo independente, da produtora germânica Weltenwandler Designagentur, promete desvendar os mistérios ocultos do moinho Molino Stucky, proporcionando uma jornada inesquecível pelos labirintos de Veneza.
Call Me Cera
Toadhouse Games – Estados Unidos da América
Data de lançamento não definida – PC
Em Call Me Cera, Alanna Linayre não aborda apenas temas importantes de saúde mental e diversidade, mas também inova nas mecânicas do jogo, proporcionando uma experiência única. Ao explorar a vida da protagonista Cera, os jogadores têm acesso a ferramentas terapêuticas reais, mergulhando em mecânicas que simulam o processo de uma forma autêntica. A interação com o jogo não é apenas uma narrativa passiva, mas uma oportunidade para os jogadores experimentarem e compreenderem as nuances da terapia.
Diferenciando-se de outras visual novels, Call Me Cera recompensa os jogadores por alinharem as suas escolhas com os sentimentos e supostas intenções das personagens da nossa narrativa, em vez de adotar abordagens excessivamente amigáveis ou simplificadas. As mecânicas do jogo refletem as complexidades da construção de relacionamentos saudáveis na vida real, pondo em causa distorções de pensamento e o que incentiva a mudanças positivas em padrões de pensamento e comportamento, uma abordagem subtil inspirada na Terapia Cognitivo-Comportamental. Essa inovação nas mecânicas não reforça somente a mensagem terapêutica do jogo, como também eleva Call Me Cera a um patamar em que a experiência do jogador vai além da simples jogabilidade, tornando-se uma exploração interativa das nuances da saúde mental e das relações humanas.
Sucker for Love: Date to Die For
Akabaka – Estados Unidos da América
14 de Fevereiro de 2024 – PC
Enquanto investiga os misteriosos desaparecimentos em Sacramen-Cho, a narrativa de Sucker for Love: Date to Die For promete-nos um mergulho nas profundezas do horror saído da mente insana do génio literário, H. P. Lovecraft. Contudo, há uma certa dose de ceticismo diante da narrativa, que rapidamente descamba para um sequestro inexplicável e uma fuga que só será possível com a ajuda de um livro de feitiços roxo. A premissa, que coloca os jogadores no papel de invocadores de Rhok’zan (um bode preto dos bosques), uma nova entidade nesta série com a qual será possível namorar, faz levantar as nossas sobrancelhas dada a situação invulgar em que estaremos metidos.
Sucker for Love: Date to Die For tem fortes indícios que terá vários finais de acordo com as nossas escolhas. Mas resta saber se essa liberdade narrativa é apenas um truque barato ou uma possibilidade genuína de haver desfechos diferentes. A premissa de um romance peculiar com Rhok’zan, personagem inspirada em clássicos de Lovecraft, não levanta dúvidas sobre o quão sério podemos levar a abordagem que jogo terá – o que mais importante é a diversão que conseguiremos retirar de lá. E, é claro, a brincadeira do produtor em “prometer” que não haverá elementos de terror, já nos deixa assegurados que estes estarão lá.