Apesar de Stargate SG1 ter preenchido a SIC aos fins-de-semana quando era adolescente, só há cerca de 13 anos é que fiz binge à série. Visto que normalmente o sábado à tarde era o momento de ir visitar a família, a programação de matiné da TV portuguesa era algo que me passou ao lado na maioria das vezes.
O filme de 1994 de Roland Emmerich (com Kurt Russell e James Spader como protagonistas) abriu caminho para a série que estrearia 3 anos depois, desta feita com uma estrela de TV dos anos 1980 a protagonizar a série, Richard Dean Anderson.
O universo de Stargate seria expandido graças à série de TV, tornando-se uma marca transmedia que chegaria também à Banda-Desenhada, às máquinas de pinball e aos videojogos. A mais recente proposta videolúdica neste universo chega-nos pela mão de um dos estúdios da Slitherine, e que nos traz uma abordagem stealth tactics aos personagens que compõem o Stargate Command.
Numa clara homenagem a Stargate SG-1, o enredo de Stargate: Timekeepers acontece na mesma linha temporal da primeira série, mas as nossas esperanças de vermos Jack O’Neill, Daniel Jackson, Samantha Carter ou Teal’C são rapidamente logradas. No seu lugar temos personagens sucedâneos e inéditos deste jogo, como Eva McCain, a soldado humana de carreira, Max Bolton, o franco-atirador da equipa, A’ta, uma rebelde Jaffa, Derek Harper que controla e utiliza drones e Sam Watson, um especialista em inflitrações.
Um elemento curioso desta homenagem à série que abriu o sucesso à série é que a equipa da Slitherine Polónia olharam para a sucessão de missões de forma episódica, lançando 7 missões com o lançamento do jogo, o que apelidaram de Season 1, com a Season 2, constituída por mais 7 missões a chegar no final do ano. O melhor desta notícia é que ao contrário de outras práticas predatórias que vemos no mercado de videojogos, todas as missões (até as que ainda virão a ser lançadas) estão já incluídas na aquisição inicial.
Apenas um par de meses depois de vermos a falência da Mimimi Games, o estúdio que será, para muitos, o gold standard da criação de tactical stealth games, é curioso como é que a Slitherine que tem tido muito sucesso com abordagens mais próximas da estratégia tradicional decide arriscar a trazer o universo de Jack O’Neill dentro deste género. Um género que me parece, nos dias de hoje, extremamente difícil de ter sucesso para além de um nicho restrito, o que fala mais da validade comercial do que da qualidade do jogo.
É curioso como o desnível de poder dos nossos personagens – maioritariamente humanos mas sem capacidades sobre-humanas – resultam numa interessante necessidade de termos de combinar diversos ataques e habilidades para conseguir derrotar – de preferência silenciosamente – os soldados e adversários inimigos que as 7 missões nos apresentam. Obrigando não só a conhecer profundamente os nossos personagens, mas também a uma estratégia muito definida da sequência de acções que temos de encadear.
Parece-me até que o grande calcanhar de Aquiles de Stargate: Timekeepers não é a sua qualidade ou desafio nas suas missões. Estás, para além de diversificadas e desafiantes, trazem algumas ideias interessantes do ponto de vista estratégico, com uma auto-consciência da sua própria dificuldade. Uma delas, uma simples adição de quem notoriamente conhece bem o género, é uma implementação de qualidade de vida para os jogadores, com um relógio no topo do ecrã que nos indica há quanto tempo gravámos o jogo.
Mas como dizia, a grande vulnerabilidade de Stargate: Timekeepers recai mesmo na necessidade (imposta, ou espontânea) de criar um elenco de protagonistas exclusivas do jogo, ao invés de trazer para o jogo os personagens que nos habituámos a ver no ecrã de televisão.
Stargate: Timekeepers prova, sobretudo, que o universo de Stargate deveria ser adaptado mais vezes a videojogos, e que diversos géneros poderiam ajudar a expandir uma das maiores séries de sci-fi dos anos 1990.