O conceito e o crescimento de notoriedade dos escape rooms é interessante, e é-me impossível não viajar para os anos 1990 quando o programa francês Fort Boyard seguia esse género muito antes do seu tempo. 

Da minha parte apenas visitei um escape room em pessoa, aquele dedicado à Marvel e que durou poucos meses em actividade, tendo sido encerrado no final do ano. O grosso da experiência que tenho com escape rooms é virtual, com mergulhos em videojogos do género.

Os jogos da série The Room são um dos porta-estandartes dos escape rooms adaptados aos videojogos e uma notória influência em dezenas de estúdios. Os Big Loop Studios, criadores do excelente Doors: Paradox, e também de Boxes: Lost Fragments revelam essa mesma influência, mas dando-lhe uma reinterpretação sua, que resulta numa magnífica experiência que tive e que me fez perder a noção do tempo no sábado à noite.

Ainda sem sono, sentei-me ao computador com a ideia de começar a cobertura de um título que estivesse na calha para revisão. Queria dedicar-lhe uns trinta minutos, como aperitivo para uma sessão de trabalho que se prolongaria para o dia seguinte. Três horas e meia depois ainda ali estava, pela noite dentro, a ver o ecrã final de Boxes: Lost Fragments que deixa bem identificado que o seu enredo terá continuação.

É verdade, à semelhança com Doors, também Boxes tem uma história que está a ser contada de forma discreta, com pequenos cartões de visita deixados em cada uma das 20 salas, e que no verso têm um pequeno texto que nos vai contando a história da misteriosa e desconhecida personagem Aurora. Um enredo subtil que tem o seu culminar na última sala de todo o jogo e que acaba por desatar o nó que os cartões, sala após sala, criaram.

Boxes: Lost Fragments é lindíssimo, e é impossível não ficar siderado a olhar em volta todos os pormenores de cada puzzle/objecto. Com uma direcção de arte que equipara cada quebra-cabeças a peças de mobiliário com uma leve abordagem de art déco, o facto de cada uma das 20 salas serem temáticas leva-nos para viagens artisticamente interessantes.

Com salas dedicadas aos mares, à ferrovia ou à Grécia Antiga, o nível de criatividade de cada um dos puzzles obriga-nos a explorar cada uma destas peças e objectos à procura de interruptores ou de portinholas escondidas. E uma vontade adicional se eleva de tudo isto, a de desejar que estes puzzles pudessem ser construídos, e interagidos, no mundo real.

Se a naturalidade e imersão que este escape room teve na forma como nos cativa à volta de cada puzzle, só consigo imaginar o quão bem Boxes: Lost Fragments deve funcionar em VR.

O sistema de dicas está mecanicamente correlacionado com a máscara que serve de comunicação do jogo. Quando estamos presos, clicamos na opção de Hint e colocamos a máscara, alterando a nossa visão, o que nos ajuda a identificar a zona onde deveremos procurar e interagir para avançar no puzzle. Esta possibilidade é interessante quando estamos presos, e ajuda-nos a identificar aqueles botões dissimulados nas construções, ou a lembrar-nos que também temos de investigar os itens no nosso inventário. Fazê-lo pode revelar segredos, transformando esse objecto de forma a que o possamos utilizar como solução ao puzzle.

Para além das dicas, que são vagas, numa situação extrema podemos pedir ao jogo para resolver determinado puzzle. Esta é uma possibilidade que tem cooldown e que utilizei duas vezes ao longo de todo o jogo, especialmente porque o nível de dificuldade dos diversos puzzles é muito distinto, e não está obrigatoriamente ligado à progressão do próprio jogo.

Boxes: Lost Fragments tem 5 hubs, ou níveis, diferentes, cada um com 4 salas (ou puzzles). De cada um dos 4 puzzles resolvidos em cada andar obtemos um objecto, e com a utilização desses 4 objectos que temos de resolver um quinto puzzle que nos vai dar o token de acesso a mais um capítulo.

Para quem gosta de puzzles e escape rooms, Boxes: Lost Fragments é um do mais interessantes jogos que já joguei do género, muito graças à sua direcção de arte e imersão em torno de cada quebra-cabeças. A grande maioria dos puzzles é bastante acessível, e Boxes: Lost Fragments consegue equilibrar-nos nessa linha entre o desafio e frustração de forma plena.