Palworld é a sensação do momento. Como é habitual não entro imediatamente nestes jogos, mas o facto de estar no Game Pass e ser um género que habitualmente gosto fez-me ir lá clicar nele. E não é que, apesar de tudo, fiquei viciado?

Não gosto muito de me meter em jogos survival/crafting/base building porque já sei que na maioria fico viciado. Rust foram quase 1500h, Valheim parei às 80h, Grounded obriguei-me a parar às 50h, entre tantos outros que invariavelmente me agarram, que a certo ponto não consigo perceber se os jogos são realmente bons ou se sou eu quem gosta de andar aos murros às árvores.

Usualmente cada um destes jogos tem algo que lhe dá um toque particular e Palworld não é excepção. Embora todos falem da comparação óbvia com Pokémon, e o facto de caçarmos monstrinhos que posteriormente passam para a nossa equipa, para mim a maior particularidade do jogo é conseguir imitar tudo o que mexe, ter imensas falhas e mesmo assim ser extremamente divertido.

Mal entramos no jogo o que salta à vista é a clara cópia do início de The Legend of Zelda Breath of the Wild, sendo que essa cópia se vai mantendo ao longo de todo o jogo, quer na forma como tentaram organizar o mundo para explorar, quer nos diferentes biomas, quer na forma como recompensam o jogador, a organização de masmorras, o uso de planadores ou mesmo na forma como organizam os encontros com inimigos durante o jogo. Não é só isso que notamos logo mas, e admito que vou ser um bocado rebuscado, o jogo ser em Unreal Engine torna a paleta gráfica do nosso personagem, e mesmo a forma como se movimenta, muito similar a Fortnite. Imagino que isso esteja mais ligado ao motor de jogo e assets usados que propriamente uma imitação propositada, mas a mim pareceu-me. A comparação seguinte será com Valheim, com a forma como vamos descobrindo e abrindo o mapa, com o forte investimento numa estrutura PvE e claro, para terminar, com Pokémon, pois é inegável que andar a apanhar monstros que depois lutam connosco foi inspirado nele.

Mesmo considerando todas estas imitações o que a Pocket Pair conseguiu criar é original. Já cheguei a escrever sobre isso, mas cada vez mais os jogos são cópias de outros jogos, especialmente no mercado AAA, e é no mundo indie que se fazem estes testes de conjugações a ver o que resulta. Por mais que muitos motivos Palworld foi um risco, mas mostrou a viabilidade da fórmula de Pokémon fora da fórmula tradicional de Pokémon.

Algo que não consigo explicar é o facto dos fãs de Pokémon se queixarem que o seu jogo estagnou e criticarem este de forma tão ruidosa, já que provavelmente irá levar a imensa inovação com derivações do jogo original, e para alguém que não é fã, que é o meu caso, até me fez olhar para o género com outros olhos.

Para quem pensa que Palworld se limita a caçar monstros, lamento informar que não é essa parte que isoladamente o tornou popular, foi mesmo aa conjugação interessante de géneros. A exploração é divertida e recompensa o jogador que a faz, a progressão de dificuldade é satisfatória, o que dá um propósito ao habitual grind destes jogos, já que vamos lutando com pals cada vez mais fortes, e se os queremos capturar temos que evoluir a nossa equipa. O foco do jogo passa a ser a exploração e não a repetição de tarefas, já que essa parte, em grande medida, pode ser deixada para os nossos pals que, grosso modo, são também nossos escravos.

A possibilidade que o jogo nos oferece de nos podermos dedicar a fazer o que mais gostamos é de louvar, mas mesmo assim não o torna robusto o suficiente para ser jogado até ao final sem nos aborrecermos. A verdade é que tal como todos os jogos, a certo ponto cansamo-nos das coisas e começamos a reparar em todos os erros.

Palworld tem 3 paletas gráficas distintas. O nosso personagem tem um estilo cartoon similar a Fortnite, os pals um estilo cartoon similar a Pokémon, e todo o mundo tem um estilo cartoon mais deslavado e com assets repetitivos, com muitas das texturas a serem de detalhe horrível, destoando completamente do restante jogo. Poderia dizer que estavam colocados em locais de menor acesso, mas considerando que estou a falar de um jogo com tamanha componente de exploração, todos os jogadores vão cruzar-se com texturas horríveis várias vezes durante toda a sua campanha.

Não fico por aqui, a quantidade de bugs e glitches é enorme, bem como exploits que podem ser usados e são difíceis de corrigir. É muito comum os nossos pals ficarem presos em alguma coisa na base, há pals que não trabalham da forma que deviam, fazer spawn dentro do cenário é bastante comum, estruturas a aparecerem dentro de estruturas é a prata da casa, bosses ficarem estáticos a meio de alguma batalha já me aconteceu algumas vezes, a maneira como os NPC criam o caminho por onde se deslocam também leva a glitches engraçados onde acabamos por encontrar um emaranhado enorme de pals numa qualquer reentrância duma parede, por duas vezes caí para debaixo do cenário, se usarmos um pal voador para explorar há alturas que um bioma só reconhece que entramos nele e faz o spawn de pals ou inimigos depois de deixarmos de usar essa ave, enfim, seguramente que me estou a esquecer de muitos deles.

Já praticamente se disse tudo sobre este jogo, mas o foco está a ser nas polémicas, não no jogo em si. Palworld é divertido. Palword é um bom survival/crafting/base building que teve a brilhante ideia de lhe juntar a componente de apanhar monstros e automatização de processos aborrecidos. Infelizmente vivemos nos extremos. Palworld não é um jogo caro, não tem microtransacções, e mesmo que parassem de o desenvolver da forma em que agora se encontra vale perfeitamente o preço que pedem por ele. É provável que para muitos seja o primeiro encontro com este género e isso crie alguns momentos estranhos para o jogador, mas para alguém que já jogou muito disto, Palworld é um jogo seguro para se jogar umas 50 horas entretiditas. O gancho de apanhar monstros torna o jogo mais dinâmico, mudar a nossa equipa múltiplas vezes faz-me entender que o fruto do meu trabalho vale a pena e o loop do jogo não o faz sentir um simples tycoon em que apanhamos mais coisas para ter mais coisas, mas sim evoluímos o que temos para ter acesso a novas áreas.

Recomendar Palworld é bastante simples, não tanto pela sua qualidade, mas pelo twist que deu ao género. Vale a pena jogá-lo.