Foram precisos quase 10 anos para a Rocksteady entregar o seu novo jogo. Depois de encerrar a trilogia Batman Arkham em 2015, recebendo um enorme elogio dos fãs e crítica, sendo considerado a melhor série de super-heróis, pelo menos até à chegada de Marvel’s Spider-Man, o estúdio teria recebido uma carta branca para escolher o seu próximo jogo baseado nas personagens da DC. Muito se especulou que o estúdio estaria a fazer um jogo de Superman e quase que os rumores acertaram, mesmo que este seja um dos antagonistas de Suicide Squad: Kill the Justice League, em que os jogadores encarnam o infame grupo de super vilões. Mas aqui, quem são mesmo os vilões?
A produção de Suicide Squad: Kill the Justice League não foi fácil e recebeu diferentes adiamentos nos últimos anos. Mas há muito que esta produção tem vindo a estar rodeada de polémicas e a razão é o modelo Game as a Service. O estúdio habitou os fãs a narrativas adultas, completamente fora do espectro que estamos habituados a ver na banda-desenhada ou filmes e mantinha um estatuto de culto pela qualidade das histórias, desenvolvimento das personagens e a jogabilidade no mundo aberto de Gotham a partir do segundo jogo. Em Suicide Squad, a premissa é perceber quanto tempo o jogo consegue manter os jogadores agarrados, uma vez que o formato pressupõe a introdução de conteúdos end game, novas personagens controláveis e outras missões.
O problema passa mais pelo formato do que pela qualidade do jogo em si. A Rocksteady não deixou os seus créditos em mãos alheias e mantém a qualidade conhecida no que diz respeito à criação das personagens, jogabilidade, oferecendo mesmo uma narrativa muito boa, considerando o formato do jogo. E era isso que esperaríamos da Rocksteady, uma nova história intensa, neste caso repleta de humor na pele dos quatro criminosos transformados em heróis temporários a mando da sempre poderosa e impiedosa Amanda Waller. O grande problema é que não deixamos de sentir que a dezena de horas que dura a história não passa de um gigante e intenso tutorial para nos ensinar as regras do jogo, ou melhor, dos conteúdos end game. E talvez não sejam assim tão interessantes…
Destruir canhões estacionários das forças de Brainiac, proteger veículos até ao seu destino, eliminar todos os inimigos de uma área. São as típicas missões que se vão repetir constantemente ao longo da campanha, assim como no end game do jogo. Sempre com variações, seja a forma como os inimigos podem sofrer dano ou objetivos criados aleatoriamente nas mesmas regras. Alguns são rápidos a concluir, outros demoram vários minutos. E a sensação que fica é que no final da campanha parece que realmente já vimos tudo o que o jogo tem para oferecer. No fim abrem-se dificuldades superiores, alguns novos objetivos e outras ações para grind de armas mais poderosas, com modificações e raridades, juntamente com outro equipamento da build das personagens.
Ainda assim, a Rocksteady não se poupou em cut scenes de luxo, mostrando algumas situações caricatas e hilariantes, como estamos habituados a ver nos filmes. O voice acting é excelente, como seria de esperar de um jogo do estúdio. Porém, destaco a ousadia, tal como aconteceu em Batman Arkham City na morte do Joker, de colocar os jogadores a defrontar diretamente os heróis da Liga da Justiça: Flash, Batman e Super-Homem são alguns dos bosses que terão de enfrentar. E estes confrontos são sempre muito bons, com variedade de mecânicas a estudar, bastante desafiantes.
Seja jogado a solo, mas principalmente com amigos, as personagens do grupo apresentam habilidades únicas, acesso a armas próprias e claro, árvores de habilidades diferentes. Apenas se ganha experiência com a personagem que estiverem a jogar, sendo considerado uma principal, apesar de algumas missões serem especialmente talhadas para uma delas. Da mesma forma que utilizam sistemas distintos de locomoção. Harley Quinn herdou o batrang com arpão de Batman e anda baloiçada pelos céus da cidade. O Captain Boomerang arremessa boomerangs com acesso à Speed Force do Flash para se teleportar para o local dos mesmos. O Deadshot usa um jetpack para voar (piscando o olho ao poder de Superman) e o King Shark consegue dar saltos seguidos pelo ar. Cada personagem usa duas armas, um ataque de proximidade, granada e outras habilidades únicas.
Tendo lugar em Metropolis, a cidade de Superman, a Rocksteady quis afastar-se do tom negro e sombrio de Arkham, trocando-o por um ambiente mais colorido. Mas é igualmente mais abstrato e menos detalhado, muito devido à corrupção derivada à invasão de Brainiac e as suas forças alienígenas. Não que é que sejam feios, mas são bastante descaracterizados, mesmo que sejamos convidados a visitar locais como o quartel da Liga da Justiça ou o Daily Bugle onde Clark Kent e Lois Lane trabalham.
Considerando que o jogo é direcionado a quem goste de experiências mais persistentes e de grind pelo equipamento e recursos típicos do género de jogos as a service, o final do jogo apresenta mais moedas e matérias-primas necessárias para aceder a armas e itens. Se tiverem amigos para jogar em cooperativo, este tipo de jogos é bem mais divertido. Caso contrário, finda a história, ideal para acabarem a solo, será difícil de acharem a experiência divertida. Certamente que este não é o jogo que esperaria ver da Rocksteady, além do mercado estar a começar a saturar deste género. Só em fevereiro são lançados jogos como Helldivers II e Skull and Bones com a mesma premissa e é impossível manter o foco dos jogadores em todos eles, seja pela qualidade ou pelo tempo de investimento para ter as melhores armas e builds.