A imagem de Spirit of the North tem uma raposa muito fofinha, e foi esse o motivo pelo qual a minha filha de cinco anos o escolheu para jogar, mas antes do primeiro minuto de jogo já tinha tido um game breaking bug, que devia ter sido um aviso para escolher outro.
Spirit of the North é um jogo de puzzles e plataformas em terceira pessoa. Em muitos aspectos faz-me lembrar uma versão má de OMNO, pois tenta valer-se do seu design gráfico, musical e atmosférico para nos contar uma história. Eu adoro estes jogos, mas não a qualquer custo. Fazer isto bem feito é muito difícil, daí ser bastante comum encontrarmos jogos com wall texts atrás de wall texts, ou desenhados de forma a ter pausas na acção para nos descreverem os acontecimentos num qualquer intervalo aborrecido criado artificialmente porque não encontraram uma forma inteligente de nos fazer perceber o que está a acontecer.
Ora, o maior crime de Spirit of the North é não saber explicar o que está a acontecer no ecrã. Claro que ficamos com uma noção básica da história, mas para um jogo que se diz inspirado na mitologia nórdica deixou-me com nenhuma noção sobre toda a simbologia que estava a ver, e com ainda menos curiosidade para a procurar.
Infelizmente isto não é tudo. Eu sei que não é fácil acertar na componente de plataformas num jogo em 3D. Muitos tentaram, inclusive com enormes equipas, e poucos conseguiram, mas em Spirit of the North acertar um salto torna-se uma experiência mística, que ainda agora não sei se depende do magnetismo polar ou do alinhamento dos chakras, o que sei é que é uma experiência aterradora, que muitas vezes me deixou a transpirar só por ver que tinha de realizar um salto mais complexo.
Diz quem já experimentou ambos, que conduzir um Lancia Stratos numa etapa do rali de Portugal é consideravelmente mais fácil que controlar a nossa raposa, que insistentemente teima em saltar para um local que nós não queremos, fazendo-nos chorar mais compulsivamente que ao cortar uma dúzia de cebolas. Quem fala da dificuldade dos souls like devia por era os olhos nisto. Embrulha FromSoftware!
Paredes invisíveis também são tão comuns como um dia de calor no Verão, muitas delas colocadas em locais tão próximos dos corredores jogáveis que cortam a imersão do que estamos a experienciar, mas isso não é o pior, já que em algumas secções de plataformas estas também existem e criam um obstáculo invisível à progressão. É frustrante!
Há duas coisas que se salvam no jogo, a primeira é ser curto, o que diminuiu consideravelmente o nosso sofrimento, a outra a sua banda sonora. A escolha musical assente em música clássica é sublime, do melhor que apanhei. Embora sempre a tentar incutir um tom triste na acção, foi talvez isso que me fez seguir em frente.
Há uma tentativa básica de criar momentos de exploração no jogo que essencialmente se cingem a entregar muletas a cadáveres de shamans. A ausência de explicação para a utilidade desse momento, e embora seja das primeiras acções que nos mostram, também me fez andar muito tempo com o pau na boca, já que apenas uma ínfima parte das entregas é realmente imprescindível para o avanço da história, sendo o resto conteúdo acessório.
Durante o jogo vamos desbloqueando novas habilidades que tornam o jogo um pouco mais agradável, mas nunca ao ponto de disfarçarem os pontos negativos, especialmente os controlos tenebrosos durante as secções de plataformas.
Quando um jogo aparenta ter uma história bonita e comovente para contar, considero importante que realmente a conte. Em Spirit of the North eu fico com a ideia que há algo de importante que me quiseram mostrar, mas eu não sei o quê. Não sei o que representavam os capítulos que concluí, nem tão pouco sei o que faziam os diversos shamans que libertei. Esta é uma falha crucial do jogo, já que deveria assentar no exacto inverso.
Spirit of the North está no Game Pass, mas estão também mais umas centenas de jogos. Escolham um dos outros.