Quando me perguntam porque é que gosto tanto de jogos indie, normalmente tenho várias respostas engatilhadas. Uma delas é que só com a criatividade e o risco artístico dos autores independentes é que temos jogos como Overhaul, que misturam dungeon crawling e sudoku, ou Dungeonoid 2 Awakening, que traz o velhinho Arkanoid para o dungeon crawling.

Como uma descrição destas é fácil de imaginar com que linhas é que o novo jogo do Pixel Bones Studio se cose: controlamos o tradicional cilindro que serve de raquete à bola de Arkanoid, e temos de impedir que ela caia, ricocheteando-a e partindo tijolos pelo caminho.

Todos estes elementos já foram sobejamente desenvolvidos por Arkanoid a partir de Breakout, sendo posteriormente expandidos em termos mecânicos com power-ups que vão diversificando o loop de jogabilidade.

Mas Dungeonoid 2 Awakening vai mais longe, interliga tudo isso com dungeon crawling, tornando o desafio de manter a bola em campo em algo ainda mais difícil do que nos jogos de block breaking.

Dado o tema de fantasia medieval que Dungeonoid 2 Awakening nos leva a visitar, antes de começarmos cada run pelos 6 níveis que vamos progressivamente desbloqueando, temos de escolher a classe do nosso personagem.

Com estatísticas diferentes para a nossa “raquete, entre a velocidade base de deslocação, a força com que a bola atinge os inimigos e tijolos no cenário e também a quantidade de energia disponível, cada personagem difere ainda na sua ultimate skill.

Algo comum a todos é a capacidade de gastarmos a nossa energia para activar um efeito AoE na bola com o pressionar de um botão, infligindo dano rotativo nos tijolos, no cenário, mas também nos inimigos.

A dificuldade elevada de Dungeonoid 2 Awakening é explicada por diversos elementos. O primeiro é a deslocação automática do ecrã, simulando uma travessia on rails aplicada a um dungeon crawler. Não controlamos a deslocação lenta da câmara na vertical ou horizontal – dependendo da deambulação pelo desenho do nível – e os momentos em que o ecrã fica parado estão normalmente ligados mini-bosses e mesmo bosses.

A outra parte do desafio é o relógio sempre a contar. Se perdermos muito tempo a derrotar os inimigos que nos permitem continuar na nossa deambulação pelo nível, corremos o risco de ficar sem tempo para chegar ao boss final do nível ou sequer de o conseguir defrontar atempadamente.

Alguns dos power-ups espalhados pelo nível dão-nos segundos adicionais, mas a dificuldade de Dungeonoid 2 Awakening é ampliada por esta corrida contra o tempo.

A dificuldade final deste jogo e talvez o elemento mais injusto consiste no desafio expectável do género em não deixar cair a bola, mas com o caos que a movimentação automática do ecrã nos traz. É que a isto somamos o facto da nossa raquete ser intangível para tudo menos a bola e os projécteis dos inimigos, enquanto que a bola em si ricocheteia em tudo: monstros, elementos destrutíveis do cenário e tijolos.

Está movimentação da câmara leva-nos também a apanhar inadvertidamente alguns power-ups, mas também algumas maldições – elementos quase indistinguíveis visualmente entre si – quando o nível se desloca e não temos tempo para nos movermos.

A pouca distinção visual desses mesmo power-ups e maldições acaba por prejudicar, e muito, a nossa memória em relação aos seis efeitos.

Dungeonoid 2 Awakening tem uma série de ideias interessantes, numa mistura atípica que tem potencial para funcionar, e uma execução artística em pixel art competente, mas pouco mais. Fica-nos sempre a sensação de que os seus controlos e mecânicas poderiam estar mais bem polidas e equilibradas e é difícil de não o sentir após muitas e muitas runs. Quem sabe não veremos esta proposta com uma execução melhor, vinda de outro estúdio no futuro, demonstrando que é possível fazer do cruzamento Arkanoid e dungeon crawler um grande sucesso comercial?