Tenho pavor a jogos de terror. Já tentei jogar vários indies (os jogos de terror foram um grande impulsionador do mercado indie) e alguns triple A bem conhecidos. Quando há um som desconcertante ou uma situação que parece evoluir para me assustar, bloqueio. Pouso o comando e desligo a consola. Curiosamente, filmes já os vejo muito bem, tal como leio um bom livro de Stephen King. Não sou eu que controlo a ação, é uma narrativa em piloto automático onde não tenho qualquer influência. Para este novo episódio, recordei-me do estatuto ironicamente mediático que os jogos indie de terror têm no YouTube. Ver pessoas aterrorizadas de medo funcionou para Amnesia: The Dark Descent, Five Nights at Freddy’s, Slender: The Arrival e muitos outros jogos deste género. Até era para selecionar Buckshot Roulette para este episódio, mas uma pesquisa rápida pelo YouTube permite-nos perceber que já foi jogado pelos maiores youtubers da atualidade e, por isso, já devem conhecê-lo melhor do que eu. Hoje trago-vos uma selecção que não faz do susto um elemento essencial, mas que faz do cenário de terror um trunfo bem evidente.

Hibernaculum

Wormwood Studios – Austrália, Grécia, Estados Unidos da América

2025 – PC

Em Hibernaculum, a Wormwood Studios vai procurar oferecer aos jogadores um dungeon crawler inspirado nos grandes clássicos para emular as experiências de uma época onde este género proliferava. Enquanto que, por outro lado, o criador de Primordia (point’n’click publicado pela Wadjet Eye Games) também construirá um mundo de sobrevivência moderno e único, onde os jogadores são convidados a explorar uma narrativa misteriosa com uma intriga profundamente macabra. Este jogo de sobrevivência de ficção científica e terror, jogado na primeira pessoa, com raízes em survival horror, oferece-nos uma trama passada numa sociedade industrial em decadência que vamos poder descobrir através da narrativa entregue pelo ambiente e cenários que criam uma atmosfera única e assustadora.

O que distingue Hibernaculum dos seus pares é a ênfase nas escolhas que o jogador poderá fazer e a jogabilidade não-linear. À medida que se joga a nossa personagem vai ganhando os seus próprios traços de personalidade, assim como é-nos dada a liberdade de explorar ao nosso próprio ritmo e como bem entendermos. Se jogarmos à pressa para termos a certeza que apanhamos os itens reservados para quem joga desta forma, somos recompensados com bons itens, mas podemos sofrer danos avultados por jogar de forma tão arriscada. Caso sejamos cautelosos, já vamos conseguir evitar que inimigos mais perigosos se cruzem connosco evitando assim morrermos demasiado cedo na aventura. Gostava de dizer que colocaria este jogo na minha wishlist da Steam, mas como não gosto de terror nem sequer vou pensar nisso.

Crow Country

SFB Games – Reino Unido

2024 – PC, PS5

Em Crow Country, uma aventura de terror de sobrevivência, tal como todos jogos desta trigésima-segunda edição, os jogadores são transportados para o silêncio sinistro de um parque temático abandonado na Geórgia rural dos anos noventa. A protagonista do jogo, Mara Forest, tem como missão encontrar o enigmático dono do parque, Edward Crow, desaparecido há dois anos. O jogo está impregnado de uma atmosfera rica, com um forte sentido de exploração num local que é simultaneamente tangível e perturbador. O que distingue Crow Country de outros jogos do género é a sua mistura única de tensão e tranquilidade. Os rumores perturbadores e o mistério em torno de Crow e Mara são equilibrados por momentos de exploração tranquila e puzzles cativantes. Crow Country ainda oferece um “Modo de Exploração” que permitirá aos jogadores mais sensíveis, ou com mais dificuldades em jogar, desfrutar da narrativa sem a constante ameaça de morte que espreita em cada canto.

A narrativa do jogo aborda temas como a ganância e o conceito de um pecado imperdoável, o que acrescenta uma profundidade e complexidade única à história. Os jogadores vão ficar a questionar os rumores perturbadores sobre o parque, a verdadeira identidade de Mara Forest e as razões por detrás do desaparecimento de Crow. Crow Country parece que não será apenas um jogo de terror, claramente inspirado em Resident Evil, mas uma aventura intrigante que deixará os jogadores com suores frios.

Mouthwashing

Wrong Organ – Suécia

1º trimestre de 2024 – PC

Esta obra sueca, Mouthwashing, é um jogo de terror na primeira pessoa com um forte foco na narrativa, que acompanha uma tripulação à beira da morte, numa nave espacial de carga à deriva no espaço. Achei este título de Jeffrey Tomec particularmente interessante, porque este é o mesmo gameplay designer responsável pela obra abstrata How Fish Is Made. Aparentemente, Curly, o capitão da nave espacial Tulpar, é o responsável pela morte que aguarda a tripulação de Tulpar. Portanto, o capitão está à mercê dos seus companheiros de viagem, dado que está mutilado, sem alguns membros, e incapaz de falar. Tulpar só tem energia para seis meses e as reservas de comida nem chegam para tanto. Por isso, as hipóteses de sobrevivência são praticamente nulas.

Contudo, há um pequeno detalhe que pode significar a salvação, ainda há uma pequena esperança. Como trabalhadores da Pony Express, empresa de transporte de mercadorias, o que está no compartimento reservado às mercadorias pode ser o que salvará a tripulação. No entanto, é expressamente proibido pela empresa abrir o compartimento onde está a ser transportada a mercadoria. Nesta situação, entre a vida e a morte, é claro que vamos ver que mercadoria é que estamos a transportar para verificar se esta pode ser usada para nos salvar a vida. Acho este conceito especialmente interessante e jogava-o, caso não fosse um título de terror.