De entre as figuras de estilo é notório que o senso comum criou uma espécie de hierarquia de utilização destas, com a metáfora, o eufemismo, a ironia e a hipérbole a serem uma espécie de 1a Liga Gramatical. A aliteração está ali mais esquecida, caída em desuso, e não fosse o rap a manter viva a sua utilização e raramente a encontraríamos. Ainda assim a aliteração não se pode queixar da sua sorte, quando a antonomásia e a metonímia foram sendo quase esquecidos.

Para além de The Magical Mixture Mill ser simultaneamente um terrível título e um trava-línguas de homenagem à aliteração, é também um jogo relaxante de automatização, que segue o filão dourado criado por Factorio.

Neste simulador de lojas de poções o grind é rei e senhor. E isto nem é um trocadilho linguístico com a palavra moer – acção obrigatória para qualquer boticário – mas porque temos de recolher muitos recursos pelo mapa para dar ignição à nossa loja. 

A recolha destes ingredientes segue a tradição notabilizada pelo Minecraft, e andamos de machado e foice na mão, quais panfletos marxistas agrários, a procurar produtos da natureza para iniciarmos a nossa produção de poções. 

Muito deste grind não é apenas para ter um volume necessário para a produção de poções mas também para a experimentação e descoberta de receitas, um elemento que nos vai levar a desperdiçar alguns recursos.

Um dos grandes argumentos de venda deste The Magical Mixture Mill é mesmo a automação, um subgénero de videojogos de gestão que tem ganho cada vez maior audiência. Porém, apesar dos sistemas de automação serem relativamente originais e replicarem bem o ambiente deste universo de fantasia com magia à mistura, por vezes é difícil de perceber o porquê de determinado “passo” da nossa cadeia de produção estar a falhar.

Nem sempre é explícita a forma como cada equipamento funciona e poderemos estar a activá-la de uma forma errada e/ou a não a alimentar com os componentes correctos.

Ainda assim, este sistema de automação vai-nos permitir focar na exploração deste mundo, cuja direcção de arte o faz distinguir-se de tantos outros jogos mais cozy, com o contraste entre os seus personagens coloridos e cartoonizados, e o mundo envolvente, com um uma abordagem à procura de um maior realismo.

Em termos de automação, The Magical Mixture Mill não é o sistema quase perfeito que Factorio nos deu, mas é sobretudo, para os fãs do subgénero, uma abordagem diferente, fantasiosa e colorida, longe da frieza industrial.