Foi há cerca de um ano que vi o trailer de lançamento de Lightyear Frontier e fiquei imediatamente interessado pelo conceito. O seu aspecto colorido, a perspectiva de explorar um planeta desconhecido, criar o nosso vilarejo e jogar com outras pessoas dentro de um ambiente pacífico são extremamente tentadores, mas talvez esta entrada rápida em Acesso Antecipado tenha vindo mostrar algumas das suas maiores pechas.
Várias vezes penso que o que gostaria mesmo dos múltiplos survival/crafting/building/PvEvP não tivessem a parte do survival e do PvP seriam muito mais interessantes e divertidos para alguém que já não tem tempo às paletes para enterrar nestes jogos. Lightyear Frontier faz isso mesmo. Componente de PvP não existe, mas também não há qualquer componente PvE. Também não temos de nos preocupar com a nossa comida ou bebida, simplesmente sobrevivemos, e isso é claramente positivo. Sobra a construção, as culturas e a exploração, o que não me pareceu suficiente para segurar o jogo.
Fazemos parte de um conjunto de missões enviadas para planetas distantes que tentam perceber se são habitáveis. A nossa é a terceira ao planeta que nos calhou. Temos uma voz que todas as manhãs fala connosco e consoante vamos explorando e desbloqueando mais áreas esse companheiro vai-nos dando chapiscos do que se passou nas missões anteriores, do que aconteceu ao planeta, e porque não conseguiram torna-lo habitável. Embora esta componente de história me tivesse parecido a maior âncora do jogo, a forma como o jogo foi construído coloca-a quase como um segundo plano, quando deveria ser o inverso, já que rapidamente se tornou a única coisa que me manteve no jogo. Descobrir o que se havia passado naquele planeta.
A música foi exemplarmente escolhida e encaixa divinalmente no espírito calmo e descontraído do jogo. Muitas vezes os cozy games falham redondamente neste ponto, e felizmente isso não acontece em Lightyear Frontier, onde a sonoridade calma nos acompanha e ajuda à imersão em cada momento.
Os gráficos em estilo de desenho animado foi uma das razões que me apanhou. Este estilo permite excelentes trailers. Muito bonitos, demarcando claramente os diversos biomas, áreas, objectos e seres incutindo um charme muito próprio a cada um dos jogos. Obviamente que não deveria deixar-me enganar por isso, mas os olhos também comem e, para além disso, andávamos num mecha. Um mecha!
Imaginem um jogo de agricultura, mas em que somos a versão da Wish da D’Va do Overwatch? Há lá alguma coisa melhor para um farming game? Claro que não!
Mas é quase a partir deste momento que a porca começa a torcer o rabo.
A premissa deste jogo é muito ecologista, ou melhor, há uma mensagem ambientalista subjacente, mas claramente secundária, quase como que uma mecânica. Temos que limpar os diversos biomas que vamos descobrindo, removendo as substâncias tóxicas para que estes se tornem habitáveis novamente. Neste mundo pacifista nem mesmo essas substâncias tóxicas nos causam qualquer dano.
E é aqui que começa a repetição.
Cada bioma tem recursos mais ou menos específicos. Descobrir os biomas é muito fácil, e temos um mapa que nos indica os recursos disponíveis neles depois de os descobrirmos. A maior parte desses recursos fica disponível após limparmos o bioma.
O loop do jogo é essencialmente limpar um bioma para termos acesso aos seus recursos, com esses recursos irmos fazendo upgrades às nossas ferramentas para depois conseguirmos limpar o bioma seguinte.
Esta simplicidade esgota Lightyear Frontier muito rapidamente, já que o jogo em si parece inócuo e sem um propósito prático, daí ter mencionado que a história subjacente teve uma importância grande para mim, mas não o suficiente para me manter mais tempo no jogo.
Cada bioma tem uma estrutura que temos de explorar, descobrindo artefactos que estão parcialmente escondidos. Para isso temos muitas vezes que sair do nosso meka e andar a pé a explorar. A recompensa por essa exploração também poderia ser mais explorada, talvez com mais conteúdo da história, já que é claramente visível que estas estruturas estão claramente ligadas ao passado da nossa exploração do planeta, mas o resultado é muitas vezes pífio.
Mecanicamente há detalhes interessantes. O nosso mecha move-se de forma moderadamente realista, mas isso torna irritante as múltiplas vezes que se vira já que nada morre no jogo, nem tão pouco há dano, apenas é aborrecido estar a sair do robô, virá-lo e prosseguir.
Mesmo o facto de podermos jogar em primeira ou terceira pessoa é giro, mas em terceira pessoa é mais difícil executar as acções, mesmo sendo a única forma de vermos o nosso mecha, em primeira pessoa não vemos o mecha, mas é muito mais preciso executar todas as acções.
Mencionei isto porque existindo múltiplas oportunidades de customização, isso nunca me despertou qualquer interesse porque não gostei de jogar em terceira pessoa. E mesmo as bonitas imagens do nosso vilarejo idílico, mesmo que perfeitamente possíveis, são rapidamente relegadas para segundo plano, já que na ânsia de oferecerem um vislumbre de progressão tornaram a recolha do que quer que fosse uma tarefa aborrecidíssima já que ao terceiro graveto já ficamos com peso a mais e temos de andar para trás e para a frente consecutivamente. Este freto fez-me imediatamente esquecer a construção de alguma coisa bonita, apenas dei preferência à eficiência.
Embora não tenhamos de comer em Lightyear Frontier podemos alimentar os animais e os seus ninhos. Se alimentarmos os seus ninhos, os recursos do bioma onde este se encontra regeneram de forma mais rápida, se alimentarmos os animais de forma individual temos uma recompensa imediata, já que as suas dejecções são, aparente e adequadamente, materiais. Seja como for, a quantidade não compensa o tempo que se perde nisso, e a bicharada do meu planeta teve que se contentar em procurar a sua comida. Nada que os chateasse, já que também sobreviviam antes de eu chegar e também não tinham mais nada para fazer.
A renovação dos materiais e contada por um ciclo de dia e noite que parece não servir para mais que isso, fazer avançar um dia.
A cada novo dia chega um mercador que compra e vende quase tudo o que precisamos, mas esse aspecto levanta imensas questões para o jogo em si e para os seus objectivos, por isso não irei falar mais nisso nesta antevisão.
Podemos jogar em multijogador, mas talvez por estar a jogar a versão de Game Pass para PC nunca encontrei nenhum mundo aberto, e tive vários dias o meu mundo aberto para que alguém se pudesse juntar, sem que isso alguma vez acontecesse. Talvez não seja cross platform. Não sei responder a isso mas, pelo sim pelo não, não comprem este jogo apenas por estarem à espera de jogar com desconhecidos.
Lightyear Frontier prometia imenso, mas o que mostrou é bastante curto para o mundo que foi criado e a mensagem que quer ser transmitida. Há mais jogos em que o enfoque do jogo parece ter sido no elemento errado, alguns deles com orçamentos muito superiores, como Horizon Zero Dawn por exemplo, mas ao nos quererem dar mais tempo de jogo dentro de um loop extremamente curto, optaram pelo caminho mais fácil, tornaram o jogo repetitivo e, em última análise, chato! Eu sei que há um roadmap já público, mas com o loop principal da maneira que está, não sei se há forma de tornar o jogo significativamente diferente.