Nos dias de hoje há géneros e taglines que são sobretudo promocionais, elementos de marketing, e pouco reflectem a realidade do jogo. Tenho sentido isso com o neologismo metroidvania, que é indubitavelmente um argumento de venda nos dias de hoje, mas que nos últimos meses têm sido um engodo de comunicação e criado expectativas não cumpridas por uma série de jogos.

Airhead é um puzzle platformer indie desenvolvido pelos estúdios Miniteam e Octato, que oferece uma experiência diferente e desafiante para os fãs do género, mas dificilmente o apelidaria de metroidvania. Encarnamos um personagem chamado Body, um corpo sem cabeça, e embarcamos numa aventura intrigante e cheia de enigmas ao encontrar uma criatura moribunda chamada Head. A mecânica central do jogo gira em torno de manter Head viva, utilizando botijas de oxigénio (ou será CO2?) que se vão esgotando com o tempo, o que adiciona uma camada de urgência e estratégia a cada movimento.

A jogabilidade de Airhead é centrada na resolução de puzzles que exigem um pensamento crítico e uma grande dose de experimentação. Os puzzles utilizam elementos típicos do género como empurrar pedras, carregar em interruptores e manipular o ambiente de maneiras criativas, utilizando as habilidades que Head possui. No entanto, Airhead vai além do básico ao introduzir diferentes tipos de gases que alteram a jogabilidade de uma maneira interessante. Das muitas botijas espalhadas pelo cenario há algumas com um gás leve, provavelmente hélio, que permite a Body flutuar com Head a agir como um balão, e um gás pesado, possivelmente rádon, que pode ser usado para partir objetos e abrir novos caminhos.

Essas variações de gases não só diversificam os desafios, mas também requerem que pensemos de forma inovadora para combinar os seus efeitos e resolver os enigmas que bloqueiam a nossa progressão. A dificuldade dos puzzles é alta, e temos muito para testar e falhar repetidamente antes de alcançar o momento “eureka!” em que a solução finalmente se revela.

Airhead adopta uma abordagem de narrativa implícita, onde o enredo e o mundo do jogo são revelados através do subtexto e da exploração, ainda que sejamos nós a construir o contexto daquele mundo à medida que o jogamos. A relação entre Body e Head é o coração emocional do jogo. A necessidade constante de manter Head viva (ou vivo?) cria um vínculo forte entre os personagens e o jogador, transformando cada solução de puzzle numa vitória não apenas lógica, mas também emocional.

Airhead é um título indie que se destaca dos demais puzzle platformers pela sua originalidade das mecânicas, que não sendo originais são aplicadas com contexto, para além da complexidade e desafio dos puzzles. A narrativa subtil e a relação única entre Body e Head conferem uma profundidade emocional inesperada dada a ausência de qualquer texto ou diálogo.

Para aqueles que apreciam uma boa dose de desafio mental e uma abordagem inovadora à resolução de puzzles, Airhead é um jogo surreal e um puzzle platformer interessante, ainda que sinta que não irá ficar para a História como um jogo memorável do género.