No final dos anos 1990, com o 3D a espalhar-se para todos os géneros e estragando muitos deles, os fighting games foram lentamente afastando-se das suas origens e do excelente patamar que tinham alcançado em 2D, para abraçar a dita modernidade. Este foi para mim, que jogava muitos jogos do género nesse período, um dos momentos mais estranhos da história dos jogos de luta. As minhas séries preferidas estavam lentamente a tentar adaptar-se à mudança dos tempos cedendo à pressão dos tempos, e criando atrocidades como Mortal Kombat Gold. Mas seriam os jogos originais e já criados com tridimensionalidade que viriam a “ensinar” que era possível fazê-lo com qualidade.

Se Virtua Fighter, Fighting Vipers, Battle Arena Toshinden e Tekken assumiram uma preponderância na Saturn e na PS1, este foi também um período em que alguns títulos tentaram algo diferente, como Bloody Roar e Bushido Blade. No caso deste foi mesmo a mudança de mindset para os jogos de luta: ao invés de tentarmos desgastar a barra de vida do adversário, conseguíamos derrotá-los com apenas um golpe certeiro na cabeça ou no peito.

Viajemos 27 anos – e sintamo-nos velhos por isso – para vermos chegar pelas mãos da Grindstone um jogo que é a sequela espiritual desse jogo. Uma experiência tensa e realista de combate com espadas, com ênfase na precisão, tempo e táctica.

Um dos principais destaques é a mecânica de parry: cada vez que conseguimos aparar um golpe, o nosso adversário perde a compostura, criando uma abertura para um contra-ataque letal. Esta dinâmica força-nos a pensar em cada movimento com cuidado, valorizando a defesa tanto quanto o ataque.

À semelhança com Bushido Blade, também em Die By the Blade podemos derrotar o adversário com um único golpe, evocando a sensação de perigo constante e aumentando a tensão em cada confronto. Essa abordagem elimina a necessidade de desgastar a saúde do adversário através de uma série de golpes, obrigando-nos a sermos precisos.

O problema de querer produzir um jogo nos dias de hoje que consiga representar uma excelente experiência de combate onde apenas um golpe é suficiente para ganhar o combate é que os controlos têm de ser extremamente bem conseguidos para que a abordagem táctica da luta possa cumprir todo o seu potencial. O que não é o caso de Die By The Blade.

Para um sistema inovador – especialmente para quem nem sabia que Bushido Blade existia – a inexistência de um tutorial que explique de forma precisa as suas mecânicas empurra-nos para a frustração de combater com personagens controlados pelo computador que vão lavar o chão com o nosso sangue. Somemos a isto os grandes problemas de detecção de colisão (que obrigatoriamente deveriam ser exímios para este jogo funcionar) e um conjunto de animações toscas que dificilmente seriam “perdoadas” há 15 anos, muito menos nos dias de hoje.

Penso que toda a gente que se surpreendeu com o que Bushido Blade trouxe em 1997 para a PlayStation e para indústria desejava profundamente que Die By The Blade fosse esse reencontro com um jogo profundamente original, mas com as potencialidades técnicas esperadas para 2024. Mas infelizmente, Die by the Blade não podia estar mais longe disso.