Nas bebidas diz-se que não se devem fazer misturas. Ainda na sexta-feira pensei nisto, após um jantar com amigos, em que saltei da cerveja para o vinho, e de seguida de volta para a cerveja. Depois do mundo ter parado de andar à roda as sábias palavras da sabedoria popular lembraram-me disso mesmo.
Mas ao contrário do que fazemos com o álcool, nos jogos sou um defensor de experiências e de fusões. Essa é a razão para a alegria com que recebi Artificer’s Tower, um colony management game traçado a tower defense.
Criado por um solo developer, Artificer’s Tower, do estúdio RodentGames tem uma premissa simples: somos responsáveis por treinar magos, transformando-os de aprendizes inexperientes em renomados feiticeiros. A progressão dos personagens é gratificante e depende muito da nossa micro-gestão desta Hogwarts da Europa-América, onde a evolução dos nossos magos é um dos segredos do nosso sucesso nos 6 níveis de dificuldade que este jogo possui. A formação dos nossos feiticeiros não é apenas uma questão de números e estatísticas: é uma linha onde cada decisão importa, e do qual dependerá a nossa eficácia para salvar a nossa escola dos ataques de monstros.
Uma das mecânicas mais interessantes do jogo é a utilização de portas como portais entre salas, já que esta abordagem inovadora altera drasticamente a maneira como estruturamos a arquitetura da nossa base. Podemos simplesmente expandir e construir de maneira linear, já que podemos ignorar – ao contrário de outros títulos – a conectividade e a acessibilidade das salas, o que adiciona uma camada extra de estratégia à gestão da colónia.
Esta omni-acessibilidade de Artificer’s Tower equilibra um aspecto crucial do jogo: é que a colocação de salas é permanente e não podemos mover nenhuma divisão construída. Esta diferente decisão de game design aumenta a importância de cada construção, mas com um impacto punitivo inexistente dada a inter-conectividade dos portais.
A camada de tower defense entra em jogo quando a nossa torre é invadida por monstros e os feiticeiros que treinámos são responsáveis pela sua defesa, adicionando uma aura de urgência e propósito ao seu desenvolvimento e formação mágicas. A defesa da torre é um teste directo à eficácia dos treinos e upgrades que fizemos na nossa escola de magia, enchendo-nos de orgulho quando os nossos magos conseguem repelir os invasores, e a nossa torre permanece de pé mais um dia.
Artificer’s Tower não possui uma narrativa, conduzindo a que a sua envolvência se remeta exclusivamente para a jogabilidade. A ausência de uma história que envolva um videojogo pode ser um ponto negativo para alguns, mas a profundidade das mecânicas de gestão e defesa compensa essa ausência, permitindo que nos foquemos por inteiro num título que por vezes requer excessivamente da nossa micro-gestão.
Artificer’s Tower é um jogo que pega em muitos elementos tradicionais dos jogos de gestão de perfil (como Smooth Operators ou Fallout Shelter) e adiciona-lhe uma componente de tower defense, no qual os nossos feiticeiros são a linha de defesa da nossa escola. Mecanicamente é um cruzamento interessante de dois géneros que podem ter mais o que os una do que os separa.