Estaria a mentir se dissesse que no meu Bingo de 2024, perto de “grandes corporações fecham estúdios premiados e com sucesso para equilibrar relatórios a accionistas”, estaria “a sequela de Lunar Lander neste ano civil”. Mas é verdade (e podem confirmar pelo link de Steam que não vos estou a mentir) que não só o jogo existe e foi desenvolvido pelo estúdio Dreams Incorporated, como está a ser publicado pela Atari, mas a maior surpresa fica para o fim: custa 28,99€. 

Foquemo-nos no preço por um instante. Por muito interessante que Lunar Lander Beyond seja, e que nos traga um revivalismo de um dos marcos da História dos videojogos, tenho algumas dúvidas de que o preço seja ajustado para a experiência que este título nos traz. Mas também, para conhece a História da nossa indústria: não é como se a Atari algum dia tivesse calculado de forma errada as expectativas do público em relação aos seus jogos…

Mas regressando a este Beyond: o estúdio Dreams Incorporated assume assim a responsabilidade de modernizar este clássico, mantendo a sua essência original, mas adicionando uma camada narrativa e novos elementos de jogabilidade adaptados à modernidade. 

Em Lunar Lander Beyond assumimos o papel de um piloto da Pegasus Corporation, uma organização que, como descobrimos rapidamente, está envolvida em atividades corruptas, algo perfeitamente ficcional, como podemos ver. A trama desenrola-se na Lua (por alguma razão o jogo não se chama Martian Lander), onde estamos numa missão de investigação como enviados da Pegasus. 

Sem surpresas, esta missão passa de algo simples a um risco de vida e teremos de enfrentar diversos desafios:  desde lidar com inimigos que nos tentam abater até resgatar outros humanos em perigo que vão adensar a trama. A história, embora não seja o foco principal do jogo, adiciona uma profundidade significativa, enriquecendo a experiência de exploração lunar com intrigas corporativas e momentos mais emocionais. E sim, tenho a noção da frase que escrevi e que me estou a referir a um sucessor de um dos clássicos jogos de arcada dos anos 1970.

Lunar Lander Beyond mantém a mecânica base do jogo original: temos de aterrar (ou alunar, neste caso) a nave com combustível limitado, controlando a inércia e os arcos de curvatura da propulsão. No entanto, os criadores da Dreams Incorporated introduziram novos elementos que ampliam a complexidade do jogo para além das limitações do título original. Para além de termos de lutar contra a gravidade e a física lunar, temos também de evitar ataques de inimigos, para além dos já citados resgates de personagens. Em algumas missões a prioridade é resgatar outros humanos, o que requer precisão e domínio da nave, alterando a dinâmica de cada alunagem. São estes personagens proceduralmente gerados que vão integrar a nossa equipa, numa camada completamente inesperada para quem conhece o título original.

O jogo oferece-nos ainda, ao longo das suas 30 missões, diferentes naves para pilotar, cada uma com características distintas: algumas são rápidas, mas difíceis de controlar, enquanto outras são mais lentas, porém oferecem maior estabilidade e controlo, e cada uma com a possibilidade de receber upgrades. 

Lunar Lander Beyond é uma enorme surpresa pela forma como foi possível modernizar e complexificar mecanicamente um jogo clássico com uma premissa simples. Não fosse o seu preço (para mim) elevado, e diria que este jogo é quase obrigatório para quem jogou e adorou o original. E relembro: Lunar Lander Beyond tem uma história que não é nada má. Depois digam que 2024 não nos consegue surpreender.