Pelas minhas andanças de mais de uma década pelo “meio” indie, por completo acaso ainda não me cruzei com ninguém de um estúdio que adoro: a Nerial, autores dos magníficos jogos Reigns. Confesso-vos uma dúvida que me tem passado pela cabeça: gostaria de saber o que é que estes autores tomam para serem tão prolíferos. Eu até sinto que o meu nível de produtividade é acima da média, mas tendo em conta que ainda há pouco tempo escrevi sobre Reigns Three Kingdoms e que já aqui ando a escrever sobre Reigns Beyond, isto significa que algo estão a fazer bem.
A série Reigns, desenvolvida pela Nerial, tem sido uma viagem constante de criatividade e inovação desde o seu lançamento há oito anos. O meu carinho com a série tem-me não só levado a jogar todos os jogos como inclusivamente a fazer crowdfunding da versão de jogo de tabuleiro.
Conhecida pelo seu estilo único de mecânicas de escolha em formato de cartas, onde deslizamos para a esquerda ou para a direita para tomar decisões que afetam o desenrolar da narrativa, assim como a distância que temos entre a vida e a morte, a série tem explorado temas desde a monarquia medieval até ao universo de Game Thrones. Agora, com Reigns: Beyond, o estúdio leva-nos para uma nova fronteira – o espaço – com uma aventura sci-fi absurdamente divertida e repleta do humor característico que notabilizou Reigns.
Após uma aterragem forçada (e quase fatal) num planeta desconhecido, a nossa nave, controlada por uma IA maléfica (que nem tenta esconder as suas intenções desde o primeiro momento), vemo-nos recrutados para uma banda de rock intergaláctica. Em Reigns Beyond em vez de apenas sobrevivermos no espaço, temos de usar os nossos dotes de guitarra de Bryan May que passou de astrofísico para astronauta para conquistarmos novos mundos e fãs, adicionando um toque musical à exploração espacial.
O tom do jogo mantém a marca registrada do humor absurdo e satírico da série Reigns. As interações com a IA maligna da nave são hilariantes, com as suas intenções a serem extremamente evidentes e identificáveis por toda a tripulação e dão o tom para o resto da aventura. A narrativa é recheada de situações bizarras, personagens excêntricos e escolhas inusitadas, mantendo-nos sempre investidos no que virá a seguir, e sobretudo, quando iremos morrer.
Visto que a tónica de cada lançamento da série Reigns é a expansão mecânica das suas fundações de game design, os elementos mecânicos de Reigns: Beyond são um aperfeiçoamento do estilo clássico da série, com algumas adições notáveis para se adequar ao cenário espacial.
Como nos jogos anteriores, temos de equilibrar quatro variáveis principais que representam o bem-estar da tripulação e a integridade da nave. As nossas decisões – façam ou não sentido – podem levar ao desastre, com inúmeras formas criativas de encontrar a morte, abrindo o aspecto roguelike da própria série.
A introdução de um mini-jogo de guitarra é um elemento simples mas bem-vindo, que se encaixa perfeitamente na narrativa da banda de rock intergaláctica. Este é fácil de compreender, divertido e acrescenta uma camada extra de interação, tornando a imersão na temática musical ainda mais envolvente.
Cada run em Reigns: Beyond é uma trajetória por diferentes planetas e percursos galácticos, onde podemos parar em lojas e mercadores espaciais para comprar itens. Esses itens – que compramos sem sabermos bem a sua utilidade – podem influenciar futuras escolhas e abrir novas possibilidades, aumentando a rejogabilidade e a profundidade estratégica do jogo.
O estúdio Nerial mais uma vez prova que é exímio em criar experiências únicas e memoráveis, lançando novos títulos criativos e que ousam arriscar. Reigns: Beyond é mais uma jóia na coroa da série Reigns, levando-nos a uma aventura espacial com tons de rock, humor e decisões que podem levar a milhentas maneiras de morrer. Com uma narrativa quase surrealista por vezes, mas simultaneamente, este jogo é imperdível para os fãs da série e para qualquer um que aprecie uma boa aventura sci-fi que não se leva demasiado a sério.