Não encarem isto como um patriotismo bacoco, mas agrada-me que se pegue em histórias da História que sejam menos “contadas” do que aquelas que têm vindo a ser desgastados ao longo das últimas décadas. Essa é uma das razões pela qual me agrada que os jogos indie estejam a pegar em História e folklore africanos, sul-americanos ou do sudeste asiático, e que se criem novas inspirações.

É óbvio que um jogo indie japonês sobre exploração marítima com o nome Sagres estaria imediatamente no topo das minhas preferências de mergulho, em piscina, que é mais seguro e menos revolto. 

O titular jogo Sagres, um indie desenvolvido pelo estúdio japonês Ooze e publicado pela Kakehashi Games, é um open-world sailing RPG que evoca a nostalgia de uma das pérolas esquecidas da geração de 16 bits: a série Uncharted Waters. Este jogo, disponível na Nintendo Switch e Steam, é uma fascinante mistura de História real com enredo ficcional, que nos oferece uma narrativa envolvente para os amantes de exploração marítima.

Sagres coloca-nos na pele de Fernando, um capitão de um navio português que serve sob o comando do Infante D. Henrique, o Navegador, também conhecido como o Infante de Sagres. Esta premissa já é suficiente para captar a atenção dos Portugueses que nos leem (e decerto que o famoso meme “Is that a Portugal reference?” já vos passou pela cabeça), assim como dos entusiastas de História, mas Sagres vai além desta ideia ao integrar elementos históricos reais com um enredo ficcional à volta da nossa tripulação e do nosso protagonista. A interação com figuras históricas e a exploração de monumentos históricos famosos são parte integrante da nossa aventura, o que nos proporciona uma sensação de imersão e autenticidade como o malabarismo histórico que a série Assassin’s Creed tem feito.

Em termos de objectivos e missões, temos a necessidade de obter informações de guildas sobre monumentos históricos espalhados pelo mundo ou a criação de novas rotas, e para isso temos de gerir cuidadosamente a durabilidade e o estado do navio. Esta gestão é essencial para garantir a capacidade de explorar novos territórios e fazer trocas comerciais, e onde a possibilidade de equipar o navio com diversos upgrades oferece uma camada adicional de personalização.

O combate em Sagres é realizado por turnos, com um sistema ao estilo pedra-papel-tesoura, que, embora simples, exige uma abordagem táctica que é muitas vezes derreada pelo elemento sorte que está constantemente sob a nossa cabeça. 

Se Sagres vai pisando as pisadas, aliás, as léguas marinhas de Uncharted Waters, há elementos originais que lhe conferem argumentos próprios. E encontramos isso mesmo na interacção com outros povos, e na nossa incapacidade de conseguirmos ler os diálogos por não sabermos estas novas línguas. Isso cria em nós a necessidade de contratar tripulantes que possam actuar como tradutores, tornando o texto inteligível: um detalhe não só enriquece a narrativa como também adiciona uma camada de realismo e desafio.

Assumindo-se como um verdadeiro JRPG de mundo aberto, Sagres oferece-nos a possibilidade de tomarmos as nossas próprias escolhas e desenvolvermos oportunidades para criar trocas comerciais. A exploração de novos territórios e a descoberta (e estabelecimento) de rotas comerciais lucrativas são formas essenciais de progressão. A capacidade de estabelecer estas relações comerciais com diferentes povos e culturas é um dos pontos fortes do jogo, incentivando-nos a explorar cada canto do mapa e combater os piratas que ameaçam não só os mares, mas também a nossa balança comercial.

Sagres é uma excelente revisita aos tons únicos de Uncharted Waters mas tendo também o nosso País como ponto central. O estúdio Ooze conseguiu criar um mundo vasto e detalhado, onde cada viagem e interação têm um impacto significativo, misturando o mundo e a História reais com o ambiente ficcional por si criados.