Parece que foi noutra vida que os tower defense dominavam a nossa atenção, assim como os escaparates virtuais do Steam e das lojas digitais das consolas. É um sintoma dos tempos modernos: se algo tem sucesso teremos sempre uma torrente de quem queira tentar repetir esse sucesso, numa corrida ao Klondike criativo que na maioria das vezes não dá em nada.

Hexguardian, o recém-lançado tower defense roguelike do estúdio Split Second Games, é uma joia rara no género, pela forma como tenta repensar os elementos tradicionais da fórmula e trazer-nos uma abordagem completamente diferenciada. Com uma combinação inovadora de elementos de roguelike e mecânicas de expansão de mapa, este jogo oferece uma experiência fresca e criativa que surpreende tanto fãs do género como quem já está saturado de jogos de estratégia com torres.

Uma das suas características mais originais é a maneira como o jogo integra de forma única a expansão do mapa com a estratégia de defesa. Ao derrotarmos inimigos, além do ouro habitual, recebemos novos hexágonos de terreno proceduralmente gerados que podemos usar para expandir o mapa. Não se trata com isto apenas de aumentar o tamanho do território, mas de definir activamente a trajetória dos inimigos até ao nosso castelo, permitindo-nos condicionar a sua movimentação, fechando passagens e criando rotas que maximizam a eficácia das nossas torres de defesa.

Mas esta liberdade expansiva vem com um desafio: a necessidade de evitar a criação de muitos caminhos alternativos, que só podemos evitar com a colocação cuidadosa de novos hexágonos no mapa. Esta adaptação constante é primordial para manter o controlo sobre as hordas de inimigos, obrigando-os a passar pelas áreas mais fortificadas, e é neste equilíbrio delicado que reside muita da profundidade estratégica significativa deste jogo.

Outro destaque de Hexguardian é o ciclo de dia e noite. Durante a noite os inimigos atacam-nos e pomos à prova as nossas defesas e de que forma conseguem elas proteger de forma eficaz o nosso castelo. Após derrotarmos todos os inimigos chega o amanhecer, um período de calma onde podemos fazer upgrades e fortalecer as nossas defesas. A cada amanhecer, recebemos também três cartas e podemos escolher apenas uma, oferecendo buffs às nossas torres ou ganhando acesso a novas construções. Este ciclo não traz apenas uma dinâmica interessante ao jogo, mas também permite uma pausa estratégica para prepararmos a próxima onda de ataques inimigos.

Outro elemento trazido das tendências roguelike é introduzido através de uma vasta árvore de talentos: à medida que avançamos, desbloqueamos novas torres e melhorias que podem ser personalizadas para se adequar ao nosso estilo de jogo. Esta árvore de talentos gigantesca oferece uma grande variedade opções, garantindo que cada “partida” possa ser uma experiência única, com diferentes combinações de torres e estratégias, mas também uma dose cavalar de grind para desbloquear tudo.

A curva de aprendizagem de Hexguardian não é muito íngreme, tornando-o acessível tanto para estreantes quanto para veteranos dos tower defense games: a complexidade da árvore de talentos e a mecânica de expansão do mapa trazem-nos uma satisfação estratégica, ainda que a custo de muito grind.

Sem sombra de dúvidas que Hexguardian é um dos jogos de tower defense mais criativos e originais que joguei nos últimos tempos. A sua combinação única de expansão de mapas, ciclo de dia e noite, e inclusão de elementos roguelike fazem deste título um jogo obrigatório para qualquer fã do género, ou até para aqueles que se fartaram por completo mas que poderão ter aqui a sua (in)desejada reconciliação.