Daqui para a frente, sempre que alguém me perguntar porque é que dedico tanto tempo a procurar e a escavar jogos indie, vou adicionar Strange Horticulture à lista de razões. Apesar deste jogo ter saído em 2022 e de me ter escapado pelos dedos, agora que saiu em mobile pude finalmente mergulhar nele. E em jeito de preâmbulo aviso: é, e será, um dos melhores jogos que joguei este ano.
Desenvolvido pelo estúdio Bad Viking e publicado pela Iceberg Interactive, Strange Horticulture oferece-nos uma experiência original e inesquecível que começa quando herdamos uma loja de flores num ambiente vitoriano.
Logo desde o primeiro impacto somos apresentados a prateleiras cheias de plantas não identificadas e uma enciclopédia com entradas vagas sobre cada uma delas. A nossa principal tarefa – quais detectives botânicos – é catalogar e identificar estas plantas, o que constitui grande parte dos desafios do jogo. Todos os dias temos diferentes clientes a entrarem na loja à procura de determinadas plantas como resposta para maleitas ou para prendas, fornecendo-nos apenas descrições vagas.
Cabe-nos então, munidos do maravilhoso mas também ela vaga enciclopédia, deduzir qual planta procuram, baseando-nos nas descrições e na nossa crescente base de conhecimento. E se forem como eu: na necessidade obsessiva de colocar manualmente etiquetas em cada planta identificada e de dactilografar o seu nome para agilizar o trabalho no futuro.
O loop mecânico desenrola-se quase inteiramente no balcão da nossa loja, com uma perspectiva estática mas múltipla que nos permite ver as prateleiras, a porta de entrada dos clientes e uma vista aérea que inclui o balcão e uma gaveta onde podemos guardar todos os documentos, cartas, e demais objectos que vamos ganhando acesso. Esta configuração minimalista mas altamente interactiva cria uma atmosfera intimista e intensifica a sensação de detetive botânico. Se voz apetecer dizer, a meio do jogo, com voz rouca, “I am Plant-Man”, não se assustem, também me aconteceu.
Com cerca de 80 plantas diferentes, entre flores, fungos e demais vegetais para catalogar até ao final do jogo, Strange Horticulture oferece uma quantidade substancial de conteúdo. O processo de identificação das plantas é um mistério em si mesmo, exigindo-nos uma extrema atenção aos detalhes e um bom raciocínio dedutivo. No pós-jogo, a satisfação de ter quase todas as plantas catalogadas é imensa e um objectivo adicional para jogadores completionists como eu.
Interligada com os puzzles está uma história de mistério e de suspense que é enriquecida por diversos finais, que dependem das nossas decisões e do nosso sucesso em resolver determinados quebra-cabeças. A diversidade dos puzzles vai para além de responder a clientes com a planta certa: a inclusão de vários objetos utilizáveis, como lupas e dispositivos que revelam letras escondidas, adiciona uma camada extra de complexidade e envolvimento. Estes objetos são essenciais para desvendar segredos tanto nos documentos e cartas que recebemos quanto no mapa, que se torna uma parte central da nossa investigação, e o pano central de muitos dos puzzles opcionais, que vão exigir um grande raciocínio da nossa parte.
Como disse, e não me canso de repetir: Strange Horticulture é um dos jogos mais originais e memoráveis que joguei este ano, e provavelmente um dos mais originais puzzle e detective games que alguma vez joguei, pela sua temática e pelas suas mecânicas. A sua combinação original de elementos de puzzle, detective e botânica, ambientados num cenário vitoriano cria uma experiência verdadeiramente única. Para qualquer fã de jogos de puzzle e mistério, Strange Horticulture é mais do que obrigatório: é verdadeiramente essencial, em que plataforma for.