É muito mau sinal quando estamos a fazer uma actividade qualquer e só o contacto que temos com elas nos remete de imediato para a memória de algo semelhante, mas muito melhor. Uma comparação pouco abonatória e que de repente começa a demonstrar o desnível de qualidade entre dois objectos, e damos por nós a pensar porque é que estamos a perder tempo com algo notoriamente pior do que aquilo que deveríamos estar a fazer.
Foi exactamente o que me aconteceu com The Fate of Baldr.
Orcs Must Die! foi um dos primeiros jogos que comprei em grupo, e nem sei dizer quantos dias o joguei em multiplayer com a minha mulher e os meus amigos. O famoso título da Robot Entertainment soube olhar para um género que estava a dominar o mercado e fazer algo original, criativo e exímio na sua execução.
The Fate of Baldr tentou o mesmo, resultando numa aposta ambiciosa do estúdio norueguês Ananki Game Studio de fazer o mesmo: fundir um tower defense com a ação frenética de um third-person shooter, num universo que combina a sobejamente conhecida mitologia nórdica com elementos futuristas.
A combinação destes dois géneros oferece-nos uma jogabilidade variada e uma acção mais imersiva, permitindo-nos não só construir e melhorar as defesas e torres estratégicas em tempo real, mas também participar activamente das batalhas, controlando uma das quatro classes presentes na terceira pessoa.
Há uma ideia subjacente a The Fate of Baldr muito interessante: cada planeta que exploramos corresponde a um dos reinos da mitologia nórdica, trazendo com essa inspiração uma diversidade de biomas, ambientes e inimigos. O sucesso de cada nível, como habitual, alcança-se através da sobrevivência a sucessivas vagas de inimigos, culminando em batalhas contra bosses icónicos da mitologia nórdica.
Este jogo foi claramente concebido para ser jogado em modo cooperativo online, com cada um dos até quatro personagens possíveis em simultâneo a terem uma classe específica, podendo distribuir tarefas como recolher recursos, reparar e fazer upgrade a torres, e lutar directamente com os inimigos.
Embora adicione uma camada de profundidade e rejogabilidade, o sistema de upgrades ao estilo roguelike exige um grind considerável. Aqueles que preferem uma progressão mais linear podem-se sentir desmotivados com a repetitividade necessária para melhorarem as suas habilidades e torres de forma permanente.
A falta de explicações mais profundas sobre o sistema de construção e actualização das torres foi algo frustrante, e apesar de ter desbloqueado novas torres, não sabia como as obter, e foi durante um dos níveis, no calor e tensão da batalha que percebi como é que tudo funcionava.
Um dos pontos que mais critico e que me surpreendeu negativamente foi o pico de dificuldade inesperado, especialmente a partir do quarto nível. A chegada da boss nesse reino/planeta foi um aumento desproporcional na dificuldade, e se at+e então eu estava a sentir que o jogo era fácil, rapidamente tive de engolir as minhas palavras quando ela me derrotou.
The Fate of Baldr é perfeitamente medíocre em termos visuais. Enquanto o trailer nos apresenta uma direcção de arte original, ainda que com recurso a animação tradicional, o que vemos dentro do jogo está pouco acima da qualidade de placeholder e não faz jus à riqueza de inspirações que nos pode trazer a mitologia nórdica.
The Fate of Baldr é um jogo que tem um bom conceito, como a ideia de explorar reinos nórdicos futuristas enquanto se defende contra vagas de inimigos, mas a sua execução é tão mediana que rapidamente nos lembramos que tudo o que Orcs Must Die! fazia há 13 anos está a anos-luz de distância do que este jogo consegue sequer sonhar em fazer em 2024.