Admito que tenho um misto de temor e ânsia por mergulhar em longos JRPGs. Mas com a intensidade da vida actual e a quantidade de jogos independentes que experimento e jogo por semana, fico sempre com um pé atrás ao imaginar um jogo que me vai consumir por 100 horas. Um dos grandes exemplos deste ano que me criou esta vontade incontornável de o abraçar foi Granblue Fantasy: Relink, estando eu longe de saber que ao contrário de muitos dos bons jogos que têm surgido oriundos da terra do sol nascente, este título da Cygames tem uma abordagem condensada, mas não menos satisfatória ao género.
Desenvolvido pelo estúdio Cygames, Granblue Fantasy: Relink é um dos jogos nipónicos mais esperados deste ano, trazendo a rica experiência dos JRPGs mobile para o PC e para as consolas da nova geração, com uma transição de lógica criativa entre esses dois mundos aparentemente díspares. Todas as promessas de Granblue Fantasy: Relink estavam bem patentes nos seus trailers: acção intensa em tempo real que se tornou uma das característica dos RPGs japoneses de alto perfil modernos, com um destaque significativo no combate dinâmico e na direcção de arte deslumbrante.
A narrativa de Granblue Fantasy: Relink é relativamente curta e conservadora, especialmente quando comparamos com tantas outras séries que nos têm chegado ao Ocidente, com a campanha principal a poder ser concluída em menos de 15 horas. Apesar de não ter a profundidade narrativa de um Final Fantasy ou mesmo de um Tales of, o enredo é envolvente e bem estruturado, com uma lenda centrada na tripulação do navio voador Grandcypher, que embarca numa aventura épica, e que nos agarra na acção logo nos primeiros segundos. O elenco – da nossa personagem principal – aos restantes elementos “desbloqueados” desde o início do jogo, passando pelos antagonistas e personagens de suporte são bastante memoráveis pela sua atitude, e pelas sua história que pode ser acompanhada no conteúdo opcional intitulado Fate Episodes.
Um dos pontos altos de Granblue Fantasy: Relink é, sem dúvida, o seu sistema de combate. A ação em tempo real é fluida e espampanante, com mecânicas que incluem dodges, ataques cronometrados, combos e a capacidade de ligar ataques com outros membros da nossa party, com as Skyarts a serem materializadas com excelentes animações de ataque. Para além disso, podemos colocar qualquer personagem como o líder da party, conttolando-o em combate e fora dele, e é interessante como cada um nos oferece um estilo de combate e gameplay únicos, para além possuírem uma extensa árvore de habilidades que requer dezenas de horas opcionais de grind para completar.
As batalhas contra os bosses são especialmente memoráveis, destacando-se pela sua dificuldade e pela necessidade de uma coordenação precisa, dodges certeiros e uma boa gestão do timing de ataques especiais da party. Em caso de dificuldade, se sentirmos que avançámos mais do que o nível que deveríamos ter, podemos recorrer às missões opcionais que oferecem uma variedade de desafios adicionais essenciais para fazer level up, assim como podemos adquirir recursos e desbloquear novas cartas de personagens.
Granblue Fantasy: Relink adopta um sistema de progressão que requer muito investimento: para além da árvore de habilidades de cada personagem que nos obriga a algum grind, o jogo permite-nos fazer craft e upgrade a novas armas se tivermos os recursos e o dinheiro pedido, para além de termos um sistema de Sigils que podem ser aplicadas, e também eles melhorados. O aspecto coleccionável, herdado dos RPGs mobile e do sucesso tremendo de Genshin Impact, permanece presente através das cartas de tripulação que permitem recrutar novos personagens, adicionando uma camada de profundidade e rejogabilidade ao jogo.
Visualmente, Granblue Fantasy: Relink é simplesmente brilhante, e um dos jogos nipónicos mais bonitos que vi em muito tempo: com uma transição exímia entre a arte original bidimensional dos personagens para um cel-shaded que relembra uma série de anime fluída, num estilo artístico que nos leva para o terreno dos jogos da Hoyoverse, como Genshin Impact. As semelhanças com esse colosso de vendas são perceptíveis sobretudo na paleta de cores mas também no design dos próprios personagens.
Granblue Fantasy: Relink é uma adição impressionante e obrigatória ao catálogo de RPGs nipónicos da nova geração. Com uma campanha principal que pode ser relativamente curta, desiludindo alguns jogadores que esperam largas dezenas (ou centenas) de horas num jogo nipónico. De alguma forma a acção e intensidade de Granblue Fantasy: Relink é tão grande que é fácil sentir que existe uma concentração num par de dezenas de horas do que esperaríamos num típico JRPG. Granblue Fantasy: Relink é exímio em tudo o que faz: de um combate irrepreensível e surpreendente, a uma direcção de arte que será decerto inspiração para muitos jogos vindouros, e que faz algo que muitos estúdios maiores parecem não ter como preocupação nos dias de hoje: dar-nos conteúdo de qualidade sem nos tornarem refêns por meses para o poder usufruir.