A fidelidade de um jogo ao seu público deveria ser um dos objectivos principais dos seus criadores. Com isto não defendo, de forma alguma, que qualquer obra criativa tenha de ficar balizada pelo seu passado, impedida de voar para além de si mesma. Mas o que tenho visto com Men of War II é, infelizmente, um daqueles casos de um estúdio a tentar insistentemente em tornar o seu jogo em algo que o seu público não quer. E se uma vez tentaram, e falharam, para quê tentar novamente?
Men of War II, desenvolvido pelo estúdio Best Way e publicado pela Fulqrum Publishing, é a mais recente entrada numa série de jogos de real-time tactics passados na Segunda Guerra Mundial que conquistou uma base de fãs dedicada e de nicho ao longo dos anos, e que tem em Company of Heroes e em Blitzkrieg os seus maiores rivais. No entanto, esta sequela demonstra claramente os erros dos seus criadores ao tentarem transformar em algo que ela não é: um Multiplayer Competitivo.
O foco principal do jogo é, sem dúvida, o modo multiplayer competitivo e todas as baterias e canhões estão para aí apontadas. Uma escolha estranha que rapidamente se demonstrou problemática com outras obrigações impostas pelo jogo, especialmente aobrigatoriedade de estar sempre online para jogar até mesmo no modo single player. Embora os developers tenham prometido alterar essa exigência no futuro, até agora continuo sem perceber a explicação técnica para a necessidade de ligação à internet constante num modo que se deveria resumir apenas a uma experiência offline.
Um dos aspectos mais curiosos de Men of War II é a sua tentativa de incorporar elementos de Men of War: Arena, um esquecido spin-off multiplayer que foi mal recebido e eventualmente descartado pelos criadores, dadas as opiniões negativas dos jogadores que lá foram ao engano. O reaproveitamento de um conceito que já tinha falhado e que foi amplamente criticado parece uma decisão arriscada, mal calculada, inconcebível e é apenas mais um elemento decisório da parte do estúdio que eu não consigo perceber, num conjunto de tantos outros.
Mas nem tudo é negativo neste jogo, mesmo com a suavização das suas mecânicas de um título que sempre se esperou ser muito pesado para wargamers, sedentos de informação vasta e complexidade de game design. Men of War II introduziu algumas novos elementos, como a capacidade de enviar unidades para a reserva – estejam elas danificadas ou não – libertando os mui necessários pontos para a aquisição de unidades mais úteis. Esta mecânica adiciona uma camada extra de gestão a um jogo que já foi mais pesado em termos de micro (e macro)-gestão, mas que nos permite definir com melhor controlo a composição das nossas tropas.
Tenho alguma pena que ao contrário do que a série nos foi habituando, que a qualidade visual de Men of War II seja mediana, sem se evidenciar de forma alguma em relação a outros jogos do género, ou até aos seus antecessores em comparação com o estado do mercado de então. Ainda assim, para um título tão pesado em termos de informação em bruto, Men of War II continua a fornecer-nos uma quantidade significativa de dados acessíveis sobre as fraquezas e forças das unidades, permitindo até a novatos da série de perceberem as muitas particularidades que o compõem.
Um dos maiores problemas de Men of War II é a sua aparente tentativa de emular o sucesso de Company of Heroes, esquecendo-se dos elementos que tornaram a série Men of War um culto. A tentativa de massificação, simplificando e alterando as mecânicas para atrair um público mais amplo, resultou num produto nem-nem: que não só não satisfaz os fãs antigos como não aparenta ter a capacidade de atrair novos jogadores.
Men of War II é um exemplo clássico de como a tentativa de transformar uma série de nicho num produto um pouco mais massificado pode falhar redondamente. Com um foco excessivo no multiplayer competitivo, a exigência de ligação à internet constante mesmo para os modos single player, a adaptação de um spin-off mal-sucedido e a tentativa de imitar alguns dos seus rivais, fê-lo afastar-se das suas raízes, deixando de lado tudo o que originalmente conquistou a sua base de fãs. Resta saber se as prometidas mudanças futuras conseguirão resgatar a série desta gigantesca crise de identidade a que se auto-vaticinou.