…e aparentemente fundem-se num jogo só.

Com todo o risco que lhes é permitido correr, os jogos indie têm feito cruzamentos de géneros que nem sempre resultam na perfeição, mas que têm pelo menos o mérito de tentarem agitar as águas criativas da indústria videolúdica.

Demon’s Mirror, do estúdio Be-Rad Entertainment, previsto algures para este ano, é um excelente exemplo dessa criatividade: combinando elementos de deckbuilding, match-3 e roguelike, e já tivemos a oportunidade de experimentar uma build de demonstração deste insólito jogo.

Muitas vezes as linhas enredo são meras passagens de cimento para estruturar um jogo e nisso Demon’s Mirror não é excepção: assumimos o papel de um herói que é atraído para um espelho mágico situado numa floresta misteriosa. Mas esse espelho, no entanto, não é um objecto comum: ele está amaldiçoado, forçando qualquer um que olhe para ele a reviver o mesmo dia de pesadelo num loop infinito que deixaria o Bill Murray orgulhoso. É esta premissa simples justifica a componente roguelike do jogo.

Este é habitado por personagens, NPCs e inimigos que são estranhos e bizarros tornando cada encontro em algo imprevisível, com um elenco repleto de figuras excêntricas e grotescas que adicionam um toque de bizarria e surrealismo ao jogo. 

A jogabilidade de Demon’s Mirror é onde os seus autores colocaram “todas as fichas”, combinando habilmente três gêneros distintos, a começar pelo deckbuilding: onde coleccionamos e utilizamos  cartas que representam habilidades, feitiços e acções diversas. A inclusão de Match-3 como em Puzzle Quest é a estranheza da mistura: podemos combinar peças no tabuleiro, desencadeando dessa forma diversos ataques ou ganhar bónus ou acumular energia para usar com as cartas. 

Em termos de gestão de recursos, tanto as cartas como a componente match-3 utilizam a mesma “piscina” de energia, o que nos leva a ter que maximizar a sua utilização, sendo que esta combinação de match-3 com deckbuilding, quando dominada, permite-nos criar combos que aumentem as nossas hipóteses de chegar mais longe em cada run. Em cada combate e cada “turno” decidimos se vamos utilizar a mecânica de cartas ou match-3, num leque de arsenal que se estranha, e muito, nas primeiras runs.

Por fim, a mistura é finalizada com algo que tem sido sobre-utilizado no mercado de videojogos, a estrutura roguelike: que  implica que cada morte reinicia o ciclo, mas com progressos acumulados que ajudam a tornar cada nova tentativa um pouco mais fácil. 

Fora dos combates e entre “níveis”, Demon’s Mirror apresenta-nos um mapa com diversos eventos e temos de escolher, passo a passo, quais enfrentar. À semelhança de outros colossos do género, como Slay the Spire, temos que saber que as nossas escolhas são fundamentais, pois cada decisão pode levar-nos a recompensas valiosas, encontros perigosos ou novas revelações sobre o misterioso mundo dentro do espelho. 

Demon’s Mirror é uma brilhante fusão de deckbuilding, match-3 e roguelike, misturados com um mundo e personagens excêntricos. Apesar do pouco conteúdo disponível na build actual, é impossível não ficar na expectativa do que é que pode sair, e de que forma é que esta fusão pode ajudar a refrescar géneros que têm sido, isoladamente, repetidos à exaustão.