O sucesso dos jogos de tabuleiro têm levado a um crescimento do mercado, e ao mesmo tempo, à emulação de uma série de soluções económicas retiradas de uma área-irmã: a dos videojogos. O que significa que universos de jogos de tabuleiro de sucesso têm tido, invariavelmente, spin offs, continuando a temática, mesmo que em géneros distintos, mas dentro do mesmo setting. E já nem falo das expansões dado que são elementos tão habituais que não me consigo lembrar de praticamente nenhum board game com um mínimo de sucesso que não tivesse expandido o seu lucro (e conteúdo) com uma.
Há poucos meses escrevi um artigo sobre Expeditions, de Jamey Stagmeier, a sequela a um dos maiores jogos de tabuleiro de sempre, Scythe. Com as devidas diferenças – e que motivou a desilusão de muitos jogadores que esperavam aqui uma espécie de Scythe 2– Expeditions é um jogo do qual gostei e onde voltei pelo menos um par de vezes desde a escrita da review. Mentiria se dissesse que costuma estar no topo das minhas preferências quando chega a hora de jogar a algo, um sentimento que existe em mim muito por culpa da pouca interferência que os jogadores têm pelo tabuleiro, soando por vezes a um quase single player jogado em simultâneo.
O anúncio da nova expansão, Gears of Corruption, chega-nos numa abordagem similar aos DLCs dos videojogos, ao corrigir e melhorar aspectos do jogo original e adicionando novos elementos de jogabilidade que estendam a proposta desta sequela de Scythe.
(Para compreenderem melhor o jogo base, dando contexto às adições e correcções dos quais vou falar de seguida, sugiro a leitura da review original.)
Gears of Corruption introduz dois novos mechas e uma variedade de novos heróis e respectivos companions. Mantendo o que já havia sido introduzido no jogo base, cada novo personagem traz uma dinâmica única para o jogo, mas o destaque vai para Baaliahon: um misterioso personagem corrompido que possui mecânicas distintas que o diferenciam dos restantes, permitindo-nos interagir de forma diferente com os tokens de corrupção presente no tabuleiro, e até com as cartas associadas ao novo módulo desta expansão.
E por falar nesse módulo, o mecha corrompido, esta é uma adição interessante e opcional de jogabilidade: este novo conteúdo usa qualquer figura física não-utilizada por nenhum dos até 6 jogadores (esta expansão adiciona a possibilidade de um 6º jogador) e entra em cena após o primeiro jogador finalizar a primeira estrela.
Este mecha corrompido age como um perigo presente no tabuleiro e que mexe um pouco com a sensação que temos com o jogo base: o de cada personagem/jogador estar isolado e separado e não existir um tom de pressão e tensão na movimentação pelo tabuleiro.
Outra das críticas frequentes ao jogo base era a inutilidade dos tokens de mapa à medida que o jogo avançava, sendo um recurso inferior comparado com outros espalhados pelo terreno de Tunguska. Gears of Corruption resolve-nos este problema ao dar um novo peso e relevância a estes tokens, substituindo-os por novos que têm no verso uma acção ou recurso, aumentando o seu valor, e ao mesmo tempo conferindo-lhe uma aleatoriedade que os originais não tinham.
Outra alteração bem-recebida dá-se no início do jogo que foi ligeiramente ajustado com a adição de trabalhadores generalistas logo no primeiro turno. Esta mudança agiliza o começo da partida e tenta equilibrar e tornar as rondas mais justas para os restantes jogadores em comparação ao primeiro, mas sobretudo, tornar o início do motor de recursos e exploração mais ágil do que no jogo base.
A introdução de novos mechas e personagens, a revalorização dos tokens de mapa, e as novas mecânicas trazidas pelo mecha corrompido, associados à tentativa de equilibrar o jogo com a adição de trabalhadores generalistas no início do jogo, fazem desta expansão um elemento obrigatório para os detentores de Expeditions. Gears of Corruption é sobretudo uma prova da atenção que Jamey Stagmeier dá à comunidade e aos jogadores, ouvindo, repensando e implementando mudanças que façam de Expeditions um ainda melhor jogo do que já é. Tenho dúvidas é se jogadores que não gostaram do jogo base que venham a ser conquistados por uma expansão que visa, sobretudo, limar-lhe as arestas.